texto por Pedro Salgado, especial de Lisboa
foto por Rosa Pomar
Com o objetivo de criar uma maior proximidade e intimismo com o público, B Fachada apresentou quatro espetáculos no Teatro Maria Matos, em Lisboa, integrados no projeto educativo da instituição. As apresentações contemplaram dois concertos para crianças e os restantes para os mais velhos, inspirados no último álbum do músico de Cascais, “É Pra Meninos” (que você pode comprar aqui).
O show de 3 de Abril, primeira apresentação para adultos, representou o retrato de um artista enquanto jovem prodígio. No auditório predominavam pessoas jovens e conhecedoras da música que ia ser interpretada. Sem espanto, B Fachada subiu ao palco de camisa púrpura e calças brancas, despojado de músicos de suporte e debaixo de fortes aplausos.
Numa atitude concentrada e pragmática, iniciou a sua performance, ao piano, com uma cover intensa de “Os Índios da Meia Praia”, do bardo português, Zeca Afonso. Seguiu-se um clássico, “Só Te Falta Seres Mulher”, em que a voz característica e sinuosa de B Fachada criou um momento de comunhão entre artista e público. Discretamente, entraram os restantes músicos, e ouviu-se o primeiro dueto da noite, com a convidada Lula Pena, para “Barrigão”.
Durante a interpretação de “Tó-Zé”, predominavam os sons guturais e uma autoralidade que se evidenciava por ser única, inovadora e B Fachada não é mais do que um ator que irradiava um à vontade próprio de quem está familiarizado com o seu próprio modelo criativo. “Dia de Natal”, outro dos grandes temas de “É Pra Meninos”, não perdeu atributos ao vivo pelo fato do cantor trocar o teclado pela guitarra elétrica. E a estrofe: “que se lixe o pai natal (papai noel)”, grudou em muitos ouvidos.
Revelando satisfação e algum cansaço, B Fachada disse: “É um prazer tocar no Teatro Maria Matos”, e prosseguiu: “Ontem e hoje tocámos para pessoas pequenas e os pequeninos deixaram-nos muito cansados”. A banda, composta pela pianista e guitarrista Francisca Cortesão (belo dueto com B Fachada em “Primeiro Dia”), e pela baterista Mariana e o contrabaixista Martim, mostrou estar à altura do evento.
Após a aveludada “Estar à Espera e Procurar” e “Tempo para Cantar”, seguiram-se dois encores e duas canções. Primeiro, “Memórias de Paco Forcado”, servida com um forte sabor de cariz popular e, no fecho do show, só com B Fachada na guitarra elétrica, escutou-se o incontornável “Kit de Prestidigitação”, no qual destacou-se uma vez mais o caráter orgânico e genuíno de um músico que se sentia livre como um pássaro.
As raízes portuguesas atravessaram uma alma que as reinventam, atribuindo-lhes novas formas e a combinação de temas para meninos e adultos nunca esteve tão próxima da unanimidade.
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Pedro Salgado (@woorman) é jornalista, reside em Lisboa e irá contar as novidades da música lusitana aos leitores do Scream & Yell. Veja mais fotos de Rosa Pomar: http://www.flickr.com/photos/rosapomar/
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