por Anderson Foca
São Luis tem uma beleza exuberante e peculiar. Uma capital/ilha brasileira, conhecida pelo alcunho de Ilha da Magia ou Ilha do Amor. Como se já não tivesse motivo o suficiente para ser um lugar especial, o Maranhão ainda é o simbólico e importante encontro entre o Norte e o Nordeste, regiões protagonistas da cultura brasileira com “B” maiúsculo. É por esse prisma que rola por lá já a doze edições o Festival BR135.
Só artistas nordestinos no lineup, o festival engrossou o pescoço da regionalidade, da nossa força localizada para mover o resto do mundo. E assim foi durante todo o final de semana dos dias 14 e 15 de setembro. Palcos na indescritível praia da Ponta da Areia, pela primeira vez no BR135 (que normalmente ocupa o centro histórico da cidade), horário de fim de tarde e pôr do sol para o início da programação. A junção música e natureza deram seu espetáculo.
Show gostoso e chique do Choro da Tralha com seu chorinho esquentou o lance Na sequência, a gigante conterrânea potiguar Juliana Linhares, que o DoSol viu se desenvolver, arrasou com seu show “Nordeste Ficção” – que dias atrás encantou o teatro do Itaú Cultural, na Avenida Paulista, em São Paulo, e uma semana depois do BR135, no dia 20 de setembro, irá encantar o Rock in Rio. A força cênica misturada com uma voz poderosa fazem de Juliana uma das principais revelações da MPB brasileira nesse meio de década.
Também foi joiado o show dos piauienses do Boi de Piranha, mandando guitarradas autorais e clássicos do estilo, embalando o rolé com ritmo e dança. Para encerrar o primeiro dia de shows, os sensacionais paraibanos do Seu Pereira e Coletivo 401 mostraram porque são uma das melhores bandas do Nordeste na atualidade. Todo mundo cantando as maravilhosas canções de Falcão do início ao fim, embalados por uma banda “tight” e experiente com nomes como Chico Correa na formação. Não é pouco. Para o final ainda rolou o feat. Nordeste forte de Juliana Linhares e Seu Pereira. Apoteose de uma noite lotada, gostosa e nordestina numa das cidades mais bonitas do Brasil.
Segundo dia na chegança pela maravilhosa São Luis e antes mesmo do pôr do sol o BR135 já recebia um ótimo público para acompanhar o começo da programação com DJs sets, apresentações de instrumentistas e afins. Destaque do dia para o Baque Mulher, grupo oriundo de Recife que se espalhou pelo mundo e tem suas musicistas em São Luis com música e ancestralidade por mulheres. Poderoso. Quem brilhou junto também foi a FemmeFusion, juntando a música instrumental mais erudita com reggae e temas populares. Para amar forte.
A paraibana Cátia de França, uma entidade do Nordeste Forte, subiu para mostrar sua obra e o disco de inéditas que lançou esse ano, ” No Rastro da Catarina”, destaque da lista da APCA no primeiro semestre e indicado ao Grammy. Aos 77 anos com fogo pra emocionar geral no BR135, com um ótimo público para um domingo de noite. Com problemas no seu violão, optou por só cantar e saiu do palco ovacionada pelos maranhenses.
Para encerrar a festa ficou o Mombojó, misturando os clássicos da banda com o repertório de Alceu Valença, tour bem forte que eles estão fazendo em 2024. Um momento fofo e emocionante: Felipe S, vocalista do grupo, chamou ao palco uma fã que cantou com ele há 10 anos naquele mesmo palco do BR135. Estela tinha quatro anos na época, agora com 14, já adolescente, subiu novamente e cantou lindamente junto com seu ídolo, deixando o rastro de goodvibe lá em cima para encerrar essa edição. Festival BR135 já entra naquele roteiro “tem que visitar” pra quem curte música boa e o Nordeste Amazônida Brasileiro. Destino que recomendo forte. Fique de olhos e ouvidos abertos.
– Anderson Foca é músico e produtor musical. Já tocou (e continua tocando) em diversas bandas e, há 18 anos, criou o festival Dosol, um dos eventos musicais mais prestigiados do Nordeste do Brasil, que costuma revelar talentos locais e também receber atrações internacionais. As fotos são de Laila Razzo.
Tai um festival que deu água na boca.