texto por Marcelo Costa
Saiba como foi o Dia 2 e o Dia 3
Em 2006, alguns amigos apaixonados por música decidiram fazer um festival independente em Belém, capital paraense. Nascia o Se Rasgum no Rock, com um line-up de mais de 30 artistas (Mundo Livre S/A, Wander Wildner, Cachorro Grande, Vanguart, Los Porongas, entre outros) tocando em três dias. Já na terceira edição, em 2008, o “no Rock” foi retirado do nome e a produção abriu as portas do evento para os ritmos locais, fazendo do Se Rasgum ponta de lança de uma cena musical cada vez mais multifacetada e nacional.
Em 2009, Ismael Machado contou como foram os três dias do festival no Scream & Yell (“O IV Se Rasgum mostra possibilidades sonoras que unem sem radicalismos as mais variadas vertentes musicais”, escreveu aqui). Em 2010 foi a vez de Vladimir Cunha fazer o balanço do V Se Rasgum, que teve de Otto, Dead Lover’s Twisted Heart com Odair José, Graforréia Xilarmônica e o tecnobregueiro Nelsinho Rodrigues. Vlad cobrou posição da cena local: “Belém já passou tempo demais sendo apenas uma promessa dentro do cenário pop brasileiro e tem potencial para se firmar como um polo musical realmente produtivo e influente” (leia aqui).
A carta convite para a edição 2011 do Se Rasgum já avisa no título: “Não repare no calor. Você está em Belém”. Assim que o avião pousa no Aeroporto Internacional Júlio Cezar Ribeiro, após sobrevoar a mata e os rios (pra quem está no lado esquerdo da aeronave; o lado direito brinda o passageiro com a visão dos arranha-céus da cidade) da baia de Guajará, o visitante é recebido por um forte bafo quente. A cidade realmente ferve, e o ar-condicionado parece a invenção do século. Melhor não reparar mesmo (ou esperar a chuva, que de certa forma refrescou a sexta-feira).
Este é o segundo ano do festival no Hangar, um enorme e impressionante centro de convenções que, para você ter ideia do tamanho, dividia seu espaço na noite de sexta-feira entre a primeira noite do Se Rasgum e um show da cantora Paula Fernandes, o principal nome da indústria fonográfica em 2011 (no sábado e domingo, os dois palcos serão ocupados pelo Se Rasgum). Após varar a madrugada em 2010 (Otto, por exemplo, tocou com o dia claro – festejadíssimo), o line-up de 2011 surgiu um pouco mais enxuto, mas ainda assim com mais de 20 atrações divididas em três dias.
O Projeto Charmoso abriu os trabalhos mostrando a música de Pro.eFX e Nanna Reis, ele nos beats e samplers, ela na voz. Acompanhados de uma banda, que deixou o som que se ouve no My Space mais cheio, a dupla mostrou canções que namoram a música jamaicana, recebem intervenções de rap, dub e jungle, e ganham um belo colorido com a voz personal de Nanna Reis. Na sequencia, o Circuito Floresta Sonora, composto por heróis locais como Juca Culatra, Leo Chermont e MG Calibre, mostraram uma sonoridade enxuta com bons riffs de guitarra, linhas de baixo contagiantes e muito suingue.
Então Leoni subiu ao palco com seu violão e mostrou porque é um dos grandes hitmakers do pop brasileiro. Sozinho em cena, mas acompanhado em coro pela audiência, Leoni abriu o set com “Só Pro Meu Prazer” e emendou “Como Eu Quero”, do primeiro álbum do Kid Abelha. Festa ganha. A excelente Suzana Flag subiu ao palco como banda de apoio de Leoni, e juntos alternaram entre canções velhas (“Os Outros”, “Exagerado”, “A Fórmula do Amor”), novas (“É Proibido Sofrer”, “50 Receitas”) e do repertório da própria Suzana Flag (Ismael escreveu sobre o segundo disco deles aqui). Bom show com Leoni incentivando todo mundo a baixar discos de graça.
Pequeno intervalo para olhar o acervo da Vinylland (a loja, também online, vende compactos e vinis nacionais de artistas independentes como Tulipa, Karina Buhr, Do Amor, Lucas Santanna e outros) e da Ná Music (New Amazonia’s Music), grande incentivadora da cena local tendo em seu catálogo desde o metal do Madame Saatan até La Pupuna, Coletivo Rádio Cipo e do festejado Felipe Cordeiro, que impressionou jornalistas com seu novo show no Conexão Vivo Belém, em outubro (seu novo disco, “Kitsch Pop Cult”, é lançamento da Ná Music).
De volta ao palco do Hangar, os gaúchos da Bidê ou Balde festejavam a sua primeira apresentação em Belém. “Faz 13 anos que vocês querem ouvir isso”, soltou o vocalista Carlinhos Carneiro, deixa para “Melissa” levar a plateia ao delírio. Com o som das guitarras no talo, o grupo enfileirou um repertório de deixar sorriso no rosto, com aquele caos característico da banda no palco. Vieram “Bromélias”, “Matelassê”, “Microondas”, “Vamos Para Uma Excursão”, “É Preciso Dar Vazão aos Sentimentos”, as versões para “Buddy Holly” (Weezer) e “Hoje” (Camisa de Vênus) e as novas “Me Deixa Desafinar” e “Lucinha”.
Ainda tinha Eddie, lançando o disco novo (“Veraneio”), mas o corpo pedia/exigia descanso. O IV Se Rasgum segue neste sábado e domingo no Hangar prometendo grandes shows (Lobão, Gang do Eletro, El Cuarteto de Nós, De Falla, Marcelo Jeneci, B Negão e os Seletores de Frequencia, Laurentino e os Cascudos, entre outros). O sol beija a janela, o ar-condicionado tenta contornar o calor, mas a vida está lá fora. Bora ver o peso, ver a cidade e beber uma cerveja. Estamos em Belém.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.