entrevista de Bruno Moraes e Marcelo Borges
fotos de Ivana Cassuli
Ava Rocha é uma artista inquieta e de muitas facetas. Além de cantora, compositora e intérprete, Ava está compromissada com a mescla de diferentes formas de arte, com apresentações musicais com forte componente teatral, conversas com o cinema (que está em sua linhagem), a pintura, e sempre com figurinos que remetem ao carnavalesco e à raiz da brasilidade.
Em seu álbum mais recente, “Néktar” (2023), presente tanto na lista dos 50 melhores discos de 2023 da Associação Paulista dos Críticos de Arte, a APCA, tanto quanto entre os 25 discos mais votados do Melhores do Ano Scream & Yell 2023, Ava equilibra a música autoral e as composições em parceria e, desde o lançamento do disco, tem levado aos palcos a energia irreverente e potência artística deste novo projeto.
O Scream & Yell teve a oportunidade de conversar com a multiartista após uma destas apresentações, no backstage do Festival Psicodália 2024. Na conversa, Ava Rocha fala sobre carnaval, seus colaboradores musicais, influências e sobre como é surfar entre o autoral e a reverência aos clássicos que a impulsionam a fazer música: “Se a gente não estiver surfando, a vida não é tão divertida”, avisa. Fala mais, Ava!
Como foi a sua chegada no Psicodália? O que você está achando dessa movimentação toda?
Um barato! Movimento bem orgânico. Todo mundo no fluxo, na sua… um pessoal bem animado. Fiquei muito feliz. Pessoal cantando as músicas. Muito quente, né? Recebendo muito bem todos os shows. Estou gostando muito. Já fazia um tempo que eu queria vir pra cá, porque é um festival muito bem falado por aí. Tanto do público quanto dos artistas. Sempre ouvi falar muito bem. E bom, chegou a minha vez!
E você aproveitou a sua vez de um jeito muito legal com todo esse elemento cênico que combina muito com o fato de a gente estar num festival de carnaval também. E a escolha de repertório… O fato de estarmos no carnaval influenciou em pensar o que você traria para o show?
Estou sempre em carnaval. Então o show é assim mesmo. Mas o espírito carnavalesco… Quer dizer, não tem como não fazer parte do momento. Mas o show é sempre assim mesmo! (risos)
A sua banda é uma super banda! Você toca há um tempo com eles ou ela foi montada pra esse show?
Você gostou? Então, essa banda tem algumas pessoas, como o tecladista Chicão (da Quartabé) e o baixista Bubu (da banda Do Amor e colaborador do Los Hermanos, entre outros), que tocam comigo há muito tempo. Eles vêm num processo dos outros discos comigo. E o Charles Tixier (colaborador de Luiza Lian), maravilhoso, que está comigo agora. E o Vini e a Yandara (Pimentel) são novos componentes da banda do “Néktar”. É uma banda bem mista, o Bubu é carioca, o Charles é franco-brasileiro… O Chicão eu esqueci de onde ele é, mas ele mora em Campinas. Chicão… Você nasceu onde mesmo?
Chicão: Eu sou maringaense!
E esse lance cênico: os shows são sempre assim? A abertura foi maravilhosa!
Sempre! Sempre assim. Eu venho desenvolvendo ao longo dos anos essa performance numa perspectiva cinematográfica, teatral, performática mesmo. E é um campo que me interessa muito. Não somente o canto, a música, mas o cinema, a dança, o teatro, o circo. Vou explorando isso tudo a partir de elementos assim… ordinários, precários… possuídos de poder (risos)
E as composições? São músicas suas?
Sim! O “Néktar” tem prioritariamente músicas minhas. Com alguns parceiros: tem o Negro Léo, Iara Rennó, Saulo Duarte, Jonas Sá, Thiago Nassif… Mas não sou somente compositora, a minha obra também é de intérprete. Venho interpretando e compondo ao longo dos meus discos. Mas o “Néktar” é, de fato, o meu disco onde quase 99% das canções são minhas. Salvo “Baby, é tudo um sonho”, que é do Negro Léo.
Você falou sobre intérprete… Você encerrou esse show com um clássico, a “Conselho”, do Almir Guineto. É interessante que, ao mesmo tempo, você é uma artista muito contemporânea, e eu gostei muito da pegada irreverente também nas suas letras e no som. Mas também com essa retomada dos clássicos o tempo todo. Como é surfar entre esses dois polos?
Acho que se a gente não estiver surfando, a vida não é tão divertida (risos). O legal é surfar. É gostoso surfar. E uma coisa alimenta a outra. Ser contemporânea e ser autoral existe também por causa da potência da nossa carne, da nossa herança cultural. Então acho que tudo é orgânico e é dinâmico. E essas músicas são extremamente contemporâneas também. Cabe sempre mantê-las vivas através dos músicos, dos cantores, das novas gerações. E elas vão compondo também o roteiro, o repertório. Elas vão trançando e costurando. Muitas vezes me falta aquela música X. E eu vou naquela música X, como é o caso de “Conselho”, de Almir Guineto. Eu acho que tem tudo a ver com o “Néktar” e com o que eu me proponho com esse projeto. Eu sempre quis cantar ela, e agora eu resolvi cantá-la.
– Bruno de Sousa Moraes migrou das ciências biológicas para a comunicação depois de um curso de jornalismo científico. Desde então, publica matérias sobre ecologia e conservação da biodiversidade, e está se arriscando pelo jornalismo musical.