entrevista por Marcela Güther
A escritora e publicitária Priscilla Pinheiro nasceu em 1993, no Ceará. Sempre gostou muito de rabiscar palavras e desenhos e, por isso, ama ter papéis, lápis e canetas por perto. Mestranda em comunicação, ela também é redatora e produtora de conteúdo. “Passagem de Ida e Volta” (55 pág.), publicado pela Editora Folheando, é seu primeiro livro de poesia.
O livro fala sobre os caminhos que descobrimos no próprio caminhar para além do material, por meio do sonhar, imaginar e rememorar. Seus poemas são uma dança lírica que trazem a percepção de um entre-lugar, onde a palavra não é apenas uma linha de partida ou de chegada, mas o próprio movimento. Passado, presente e futuro se fundem na travessia e no autoconhecimento.
As mentorias com a escritora Jarid Arraes, que assina a quarta capa da obra, e as aulas da especialização em Escrita e Criação, curso ministrado pela escritora Socorro Acioli na Unifor, ajudaram bastante no processo de edição do livro, que conta com ilustrações da artista Gyzelle Goés.
Confira a entrevista completa com a autora, abaixo:
Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam?
O livro fala sobre os caminhos que descobrimos no próprio caminhar para além do material, por meio do sonhar, imaginar e rememorar. Os poemas são uma dança lírica que trazem a percepção de um entre-lugar, onde a palavra não é apenas uma linha de partida ou de chegada, mas o próprio movimento. Acredito que os principais temas do livro sejam a travessia, o autoconhecimento, a mudança/transformação interna e externa e a mescla de imagens entre passado, presente e futuro.
Por que escolher esses temas?
No período da pandemia, passei muito tempo em casa e mudei em diversos aspectos físicos e externos, senti que uma nova versão minha se aproximava, mas estava tudo muito borrado e ainda não conseguia ver para além dos contornos o que estava se desenhando. Senti a necessidade de escrever mais para além do trabalho e da dissertação, em busca de me entender e conhecer mais meus gostos, minhas necessidades, enfim. Comecei a escrever mais diariamente e buscar oficinas de autoconhecimento, criança interior até desembocar nas oficinas de escrita. Desde 2020, investi bastante em oficinas e cursos voltados para a área de escrita literária, e acredito que o meu primeiro livro aborde muito a questão desse movimento, que não fala nem só de chegar a algum lugar ou de ir até lá, mas do próprio ato de se movimentar, e é interessante perceber o quão importante é a palavra nesse sentido, principalmente no último poema do livro, que foi um dos primeiros a serem escritos e é chamado “Riscos”.
O que motivou a escrita do livro “Passagem de Ida e Volta”? Como foi o processo de escrita?
Os poemas do livro começaram a ser escritos de forma mais espontânea e leve, sem a pretensão de se formar um livro, pois eu ainda não pensava nessa possibilidade quando comecei a escrevê-los. Alguns poemas nasceram a partir de oficinas de escrita, com Tayná Saez, Yara Fers e Natália Borges Polesso. Ao final do curso “Semente Poética”, Yara pediu para que a gente analisasse todos os poemas que escrevemos dentro e fora da oficina, reunindo de acordo com os fios condutores, propondo um ou mais conjuntos de nossos poemas. Então dividi os que eu tinha em dois conjuntos, um mais voltado para a casa, e outro mais voltado para o movimento interno e externo, que se tornou o “Passagem de Ida e Volta”). O “Passagem” já parecia mais pronto, apesar de menor, e quando vi a chamada da Editora Folheando, resolvi enviá-lo. Depois de alguns dias, recebi o email falando que o livro foi selecionado para publicação.
Quais são as suas principais influências literárias?
Principalmente autoras mulheres. Clarice Lispector, Hilda Hilst, Wisława Szymborska, Patti Smith, Ana C., Matilde Campilho, Jarid Arraes, Socorro Acioli, Fernando Pessoa, Ana Guadalupe, Yara Fers, Mell Renault, Aline Bei, Adília Lopes e Adélia Prado.
Você escreve desde quando? Como começou a escrever?
Eu escrevo desde criança e, na escola, cheguei a ganhar alguns prêmios de poesia e redação. Quando estava no segundo ano do ensino médio, fui chamada para participar da Academia Cearense de Letras, em uma seleção que o colégio fez para 20 alunos participarem. Para a seleção, pediram uma redação que contasse sobre a importância da leitura. O gosto pela escrita me levou a trabalhar com isso também no trabalho, então desde antes de me formar em publicidade, comecei a trabalhar com redação. Hoje a escrita faz parte da minha vida como arte e ofício. E é na poesia e na escrita literária que tenho um refúgio para descobrir mais sobre mim e o mundo ao meu redor, além de descansar também da escrita mais técnica e publicitária do marketing de conteúdo e da escrita acadêmica, que faz parte da dissertação de mestrado.
Como você definiria seu estilo de escrita?
Acredito que tento falar de forma que seja mais fácil a leitura, mais transparente, honesta, não sei, não é uma escrita muito formal e sinto que pode se assemelhar a uma conversa ou a uma forma de contar histórias. Quando comecei a escrever mais, passei a chamar a escrita literária de escrita livre, pelo fato de que ela não estava relacionada a trabalho ou academia, mas ao que eu estava pensando, sentindo e querendo compartilhar. Abordo com lirismo as situações e os sentimentos do cotidiano, muitas vezes envolvendo uma abordagem mais nostálgica, em uma poesia ritmada e bem trabalhada, mas acessível para todos os leitores.
Como é o seu processo de escrita?
Eu gosto muito de escrever poemas, é o gênero que mais escrevo até então, e às vezes me divirto muito escrevendo, é prazeroso pra mim. Já tive momentos de sentir dor ou mal estar no momento da escrita, mas em geral me faz muito bem e, muitas vezes, quando começo a escrever poemas acabo sempre escrevendo vários. Normalmente não penso em um tema específico, mas ele acaba vindo a depender do dia, do humor, do que tenho lido e visto por último.
Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária de escrita?
Eu não tenho um ritual próprio, eu escrevo muito no caderno, em blocos, mas também uso o bloco de notas do celular e do computador quando penso em algo mais de repente e uso muito o “doc” do Google também. Eu uso o que tiver mais à mão e depois de escrever no caderno, costumo passar pro computador para não perder e reunir eles com mais facilidade. Também não tenho meta diária, mas na mentoria com a Jarid Arraes, algumas vezes ela me pedia pra escrever mais sobre determinado tema para um projeto específico, e eu estabelecia então que ia tirar um tempo maior a cada dia, e acabava fluindo mesmo. Tento escrever todos os dias nem que seja só um pouco, porque acredito que a prática vale ainda mais do que a inspiração (apesar de também acreditar muito nesta)
Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?
Tenho dois projetos que montei e aprimorei durante a mentoria com Jarid Arraes, e são dois livros também de poemas: “Morada em edição”, que será publicado pela Editora Caravana, que fala muito sobre o aspecto da casa, da família e das memórias de gerações, além do cotidiano também estar muito presente; e “Correndo com a lua”, que é um livro de poemas para crianças, bem leve e divertido, mas com vários conceitos que podem ser levados para a vida, além de falar também da importância de aprender e sonhar. Estou reunindo mais alguns outros poemas que escrevi que se relacionam muito com as temáticas de relacionamento abusivo, dor, solidão, vazio e perdas.
– Marcela Güther é jornalista, produtora de conteúdo, assessora de imprensa e mediadora do Leia Mulheres.