entrevista por Daniel Tavares
Ir embora. Largar tudo. Largar os locais que foram palco da infância, da juventude, do primeiro beijo, do primeiro namorado, do milagre de tornar-se mãe, do milagre de continuar vivendo, mesmo em meio à pobreza, à violência, à falta de oportunidades… largar a música que embalou tudo isso. Fortaleza. Fortitudine. Nome de cidade. Nome de uma qualidade. Nem sempre quem nasce em Fortaleza é forte, mas para viver em Fortaleza é preciso ser forte. E é assim no fictício Fortaleza Hotel, onde acontece importante parte da trama do primeiro filme dos roteiristas Pedro Cândido e Isadora Rodrigues, segundo longa-metragem do cineasta Armando Praça. O hotel é fictício, por incrível que pareça, mas, quem sabe, é também imagem crua, real e simples de muitos que poderiam se chamar Manaus Hotel, Teresina Hotel, São Paulo Hotel… Se o nome do filme é “Fortaleza Hotel” (2022) – em cartaz nos cinemas e já nos principais streamings – isto é mera arbitrariedade do destino o fato de seus principais criadores serem cearenses. Nada mais.
Ir embora. Talvez voltar um dia. Talvez, “nas Oropa”, tal qual uma cangaceira abrindo veredas na caatinga com um facão, abrir caminho para um futuro melhor, talvez, para a filha, encontrar onde faz muito pouco sol o seu lugar ao sol. Ir embora. Ir embora.
Nos primeiros segundos de filme, numa cena que, de certa forma, busca em nossa memória os momentos iniciais de “O Poderoso Chefão”, a atriz Clébia Souza (em atuação impressionante), de “O Som ao Redor” e “Bacurau“, responde em um inglês quase perfeito as perguntas que, acreditamos, são da consulesa, do oficial de imigração, de alguém em Dublin que aprovaria a sua estada por três meses na capital de São Patrício, de férias, em visita à sua amiga Dalva. É mentira. É tudo mentira. Pilar mente. Pilar mente para nós e mentirá a qualquer irlandês com quem conversar. Isso se puder conversar, já que até o inglês que demonstra neste início de filme também é mentira. Pilar não é uma personagem perfeita. Não é heroína, não é vilã. É um nada. É como todos aqueles milhões de nadas que estão em cada canto do Brasil, sem ter onde cair mortos, sem querer cair mortos tão cedo, lutando para sobreviver. É camareira de um hotel sem glamour e sem estrelas na capital alencarina, mãe aos treze, moradora de periferia onde a violência e os churrasquinhos “de gato” disputam palmo a palmo, batalhadora, mas que, diante das dificuldades da vida, seja este o seu atenuante, não vai se esquivar de mentir se necessário. Nem de fazer coisa pior.
Sua “antagonista”, não no sentido de quem seria a “bad guy” contra a mocinha que Pilar jamais será, mas no sentido de quem rivaliza com ela pela atenção durante o (mais curto que deveria ser) tempo de projeção, é Shin. Shin é verdade, até no nome. Coreana, recém-viúva e vivida por Lee Young-lan, ou Yeong-ran Lee (segura, contida, mas traiçoeiramente pronta para nos levar às lágrimas se nos encontrar de guarda baixada), conhecida em sua terra natal, premiada no Festival de Berlim e no Asia-Pacific Film Festival, dubladora da série Sonic (inspirada no famoso jogo) e ainda desconhecida por aqui.
Um turbilhão de acontecimentos coloca as duas mulheres frente a frente, e frente a si mesmas, dentro e fora do Fortaleza Hotel. E é a partir delas, de seus conflitos internos e suas atitudes perante uma a outra que a principal personagem do filme se vê dada à luz: a solidariedade. E foi principalmente sobre solidariedade e como ela aparece no Fortaleza Hotel, ou talvez sobre o Brasil Hotel, que conversamos com Pedro Cândido, que via os filmes do Freddie Krueger escondido da mãe, mas também sobre projetos futuros, sobre o sucateamento da cultura no Brasil hoje e outros assuntos na entrevista que você confere agora.
Como nasceu a história de Fortaleza Hotel?
O projeto nasceu em 2015, quando eu e a Isadora entramos no Laboratório de Roteiro do Porto Iracema das Artes, uma instituição financiada pelo estado, ligada à produção cultural e audiovisual. Eu e Isadora já éramos amigos há alguns anos e decidimos fazer algo juntos. Foi quando a gente resolveu tentar a seleção pro laboratório e entramos nessa jornada de quase 8 meses. Lá, com a tutoria do Karim Aïnouz, Marcelo Gomes e do Sérgio Machado a gente foi desenvolvendo pouco a pouco o roteiro. Desde o início já existia a Pilar, uma mulher jovem e trabalhadora, que estava em constante movimento, tentando sobreviver em maio as adversidades. Era uma mulher que se parecia com a gente, com mulheres que a gente conhece, que cruzamos nas ruas de Fortaleza. Além disso, queríamos contar a história de um encontro e de que forma esses encontros, por mais inusitados que possam ser, podem mudar a trajetória das nossas vidas.
Fale um pouco mais do envolvimento de vocês com o cinema. Quais são seus ídolos, filmes mais marcantes, assunto que mais gostam de ver nas telas?
Eu sempre gostei de filmes. Fui criança nos anos 90, no interior do Ceará, numa época e num contexto socioeconômico em que o único acesso ao cinema era através dos filmes que passavam na TV aberta. A vida toda eu tive vontade de fazer parte do que eu via ali na tela da TV, mas tinha a menor ideia do que era de fato cinema ou de como era feito. Era tudo muito distante. Os filmes que eu mais gostava era aqueles que passavam ali, quase todos americanos. Minhas referências eram “Jurassic Park”, “Titanic”, os filmes de terror do Freddy Krueger que passavam a tarde e que eu via escondido da minha mãe. Mas eram também as novelas, aquele olhar melodramático sobre a vida que até hoje acho que ainda me influencia. Mas aí veio a internet, os anos, a minha entrada na Universidade Federal do Ceará e tudo que eu descobri naquele espaço. Foi lá que eu e Isadora nos conhecemos, partilhamos uma vida e desejos em comum. Foi na graduação que comecei a ver mais cinema europeu, asiático, nacional, cinema de realizadores que eu não conhecia e que vez ou outra eram apresentados em sala de aula ou nos cineclubes da Casa Amarela Euzébio Oliveira. Ter referências é muito importante. Embora eu acredite que a matéria-prima de uma boa história seja a vida e as pessoas comuns, conhecer essas referências, ter sentado quase do lado da Agnès Varda, numa sessão especial da Casa Amarela em que um filme dela estava sendo exibido (nessa época, 2009, eu não fazia ideia de quem era a Varda, só que era uma diretora francesa importante que estava visitando a UFC), as conversas em mesa de bar sobre filmes e sobre a cidade, tudo isso eu acredito que compõe o que se tornou o “Fortaleza Hotel”. E sobre o que eu gosto de ver na tela… Não sei se conseguiria apontar um assunto, ou um gênero específico que eu goste mais. Eu penso que a sala de cinema tem uma energia especial, tudo se transforma em outra coisa, maior, mais mágica, mais desconcertante. E acho que esse espaço meio mágico precisa ter gente, tanto na tela quando fazendo cinema. Tem muita gente boa aí fora, nas ruas aqui de Fortaleza, das ruazinhas das cidades do interior. Gente que tem história pra contar, gente que pode contar histórias que emocionem e façam a gente ser outra coisa durante uma hora e meia de duração de um filme. É isso o que eu gostaria de ver na tela de cinema.
Como foi o processo de “composição” desta história?
Acho que já falei um pouco disso. Mas o “Fortaleza Hotel” surgiu em torno da Pilar e da vontade de falar de encontros e despedidas. A Pilar queria ir embora, tentar uma vida melhor longe daqui, escapar das dificuldades, fugir. Esse era um desejo comum a muitos de nós. Todo mundo conhece um primo ou uma amiga que foi embora em busca de oportunidades. Na tentativa de falar desse encontro e dessa amizade improvável, pensamos nessa outra personagem, que a primeira vista é alguém muito distante, muito diferente, alguém que vem de outro universo. Foi assim que surgiu a Shin, essa mulher sul-coreana mais velha e de um outro contexto cultural e econômico. Essa personagem nasceu quando vimos uma reportagem sobre os imigrantes sul-coreanos em Fortaleza. Muitos deles eram engenheiros que vieram trabalhar na Usina Siderúrgica do Pecém, e dos quais sabíamos muito pouco. Imaginávamos como seria você sair da sua cidade e viajar para o outro lado do mundo. O que há de diferente entre eles e a gente? O que há de parecido? Quais as dores e quais os desejos em comum? A partir daí a história foi se delineando, pouco a pouco, sempre em torno de Pilar, dos seus sonhos e desejos, e do encontro com essa distância, com a Shin.
Qual a principal mensagem que vocês querem transmitir com “Fortaleza Hotel”?
Acho que o “Fortaleza Hotel” fala sobre empatia, no sentido mais simples do termo, dessa capacidade humana de se colocar no lugar do outro, de tentar compreender suas dores e seus desejos. E isso não é fácil, basta olhar pro que a gente tá vivendo no mundo. São duas pessoas muito diferentes, que não falam a mesma língua e não partilham os mesmos códigos. Mas são duas mulheres, cada uma vivendo o seu próprio pesadelo particular, mas que nesse momento específico, só conseguem contar uma com a outra. Uma das nossas preocupações era de que o público se conectasse com a Pilar desde o início e assim pudesse compreender seus desejos, suas ações e as decisões que vai tomando ao longo do caminho. Que escolha ela tinha? Que escolha essas duas mulheres tinham diante disso tudo? O que você faria no lugar delas? De alguma forma essa dita empatia de que tanto o filme fala através da vida dessas duas personagens é um sentimento que esperamos que o público também possa acessar ao ver “Fortaleza Hotel”.
Embora a história não pareça nada com a história de vocês dois, há algum traço autobiográfico? Algum momento da vida de vocês que vocês tenham passado por algum perrengue para o qual não viam solução alguma e a ajuda veio de onde menos esperavam?
Perrengue a gente passa sempre (risos). Mas de fato não há um caráter autobiográfico na criação dessas personagens e da história delas. Acho que o roteiro do “Fortaleza Hotel” é fruto dos filmes que vimos, das mulheres que conhecemos, das nossas mães e amigas, dos encontros e conversas que tivemos ao longo do processo de escrita, os livros que lemos, do que a gente vê nos noticiários, no transporte coletivo, ao passear pela cidade, dos nossos sonhos e pesadelos. Nesse sentido há muito de nós ali sim. Assim como muito do Armando, diretor do filme. Depois do laboratório, durante os dois anos seguintes que ficamos pensando o roteiro para ser gravado, conversamos muito nós três. Ele também trouxe questões, ideias, percepções. Sinto que a gente conseguiu afinar nosso olhar sobre a história e sobre as personagens, isso foi muito importante pra que ele pudesse fazer o filme, colocar sua visão como realizador.
Como vocês entraram em contato com a atriz que faz o papel de Shin? Há algum significado por trás do nome que escolheram para a personagem?
Eu e a Isadora ainda estávamos trabalhando na versão final do roteiro, a que vai ser finalmente filmada, quando o Maurício (produtor) e o Armando começaram a tentar esse contato com a Coréia do Sul. Uma produtora de lá ajudou no processo, fazendo uma primeira seleção de possíveis atrizes pro papel da Shin. Depois disso os dois viajaram pra Seul e ficaram uns dias conhecendo umas atrizes, fazendo testes. A gente ia conversando com eles a distância, acompanhando. Foi quando chegaram na Lee Young Lan. A gente não conhecia o trabalho dela, mas ela era a Shin. Foi interessante porque esses últimos ajustes no roteiro foram feitos com a gente já conhecendo a cara dessa mulher, o fato de ela dançar tango e tantas coisas que a atriz trazia dela pro personagem. Eu e a Isadora fomos no set de filmagem em um dos dias de gravação era muito impactante pra gente, roteiristas estreantes, ver as personagens que a gente imaginou só na nossa cabeça durante tanto tempo, ali, existindo no corpo da Clébia Souza e da Lee Yong Lee. Nunca vou esquecer a sensação. Sobre o nome, foi meio natural. Ainda na época do laboratório a gente fez uma pesquisa rápida sobre nomes femininos populares na Coréia do Sul. Entre vários, Shin parecia bonito, sonoro, a gente imaginava a Pilar falando esse nome, assim como imaginávamos a Shin falando Pilar. Depois descobrimos que Shin significava algo como “verdade”, mas aí já não importava tanto, a Shin já era Shin.
Como é fazer filmes em um país com o governo que nós temos atualmente? Você acha que se tivesse escrito este roteiro há, digamos, 10 anos atrás, ele teria chance de chegar às telas em menos tempo?
Nossa, isso que a gente tá vivendo é um pesadelo. Acho que não teria outra palavra pra descrever. Pra você ter uma ideia, a gente começou a escrever esse roteiro em 2015, quase sete anos atrás. Ganhamos um edital de financiamento da Ancine em 2016, o PRODECINE. Foi uma festa. Imagina você conseguir financiar a produção do seu primeiro roteiro. Já em 2016 a gente sabia que as coisas eram difíceis e que tínhamos muito o que comemorar com uma conquista como essa. E uma conquista que não é só nossa, dos roteiristas, do diretor, do produtor, mas do cinema cearense. Fazendo filmes a gente fortalece um mercado, uma categoria, o investimento que é feito na cultura. Eu gosto sempre de frisar a importância do investimento público em arte e cultura. Não existiria “Fortaleza Hotel” se não existisse o Porto Iracema das Artes, uma instituição pública de formação em cinema a audiovisual na cidade de Fortaleza. Se não existisse a Ancine e os editais de desenvolvimento e produção financiados por ela. Investimento de fato. O cinema é uma arte coletiva e é preciso muita gente pra se fazer um filme, Muita gente que recebe salário, que tem a oportunidade de trabalhar, de produzir, de pagar suas contas, de fazer a economia girar. Isso é importante. E o público existe. As pessoas querem consumir arte, cinema, música, teatro. Bem… Tudo tem sido destruído nos últimos anos. Há um projeto em curso no país, um projeto de destruição da cultura, destruição dos trabalhadores. Terra arrasada é mais fácil de ocupar e dominar. O roteiro não foi escrito há 10 anos, mas há seis anos atrás. A verdade é que quando se trata de cinema independente as coisas são mais lentas, os processos mais vagarosos mesmo. Além disso a gente deu de cara com a pandemia. Isso tudo atrasou ainda mais o lançamento do filme. E se produzir é difícil, distribuir é ainda pior. Não parece ser interesse das salas de cinema comercial passarem esse tipo de produção. Há muito dinheiro envolvido para que o super-heróis, garotos propaganda dos EUA, estejam abarrotando as salas de cinema do país né?
O que estão fazendo atualmente? Quais os planos para o futuro?
A gente segue tentando fazer cinema, mesmo na dificuldade. Eu e Isadora estamos no doutorado em Comunicação na Universidade Federal de Pernambuco, desenvolvendo pesquisas ligadas a cinema. Ela terminando de escrever a tese, eu começando. Cheio de medos e apreensões, já que assim como a cultura, a pesquisa no Brasil também tem sido alvo de ataques ferozes do atual governo. A Isadora escreveu outro roteiro que vai ser dirigido pelo Marcelo Gomes, realizador pernambucano e que deve sair em breve. Eu também escrevi outro roteiro, junto com a Taís Monteiro, roteirista e fotógrafa cearense. Conseguimos financiamento através de um edital da SECULT – CE e da Lei Audir Blanc. O longa é dirigido pela Janaína Marques, diretora cearense, já foi todo gravado e tem previsão pra ser lançado no final desse ano ou começo do ano que vem. Seguimos trabalhando e tentando contar histórias em meio a esse caos e incerteza que vivemos, mas mantenho o otimismo e o orgulho de conseguir fazer cinema cearense apesar de tudo.
E como vocês enxergam o futuro do Brasil? Situações como a de Pilar são comuns. Vocês acreditam que há chances de evoluirmos e não haver mais lugar para “Fortaleza Hoteis” em algum tempo no futuro?
É o que eu espero. Não tá fácil manter qualquer otimismo diante do cenário atual, mas acho que precisamos acreditar que as coisas podem ser melhores. Aliás, com certeza elas podem ser melhores, a gente precisa fazer algo a respeito. O filme, embora explore cenários de injustiça e desigualdade, tenta mostrar que de perto todos temos medos e desejos em comum. É a história de uma mulher comum, trabalhadora, que sonha em ter uma vida melhor, que a filha tenha uma vida mais digna, que quer ganhar um salário mais justo e que o estado ofereça alguma segurança para a sua existência. Espero que as pessoas não precisem deixar sua casa pra trás porque não conseguem mais viver, mas que possam escolher se aventurar pelo mundo por desejo de conhecer outras coisas, outras pessoas, ver outros lugares. O desejo de voar pra longe eu acho que é muito potente, a necessidade de deixar tudo pra trás em busca de sobreviver, não parece tão certo. A gente vê as notícias e pesquisas sobre o clima e sobre as mudanças no planeta. Muitas falam de uma quantidade assustadora de refugiados climáticos. Isso assusta, principalmente porque sabemos que quem mais vai sofrer com esse tipo de violências são aqueles mais pobres, mais desassistidos. De alguma forma eu vejo a história da Pilar com outros olhos hoje. Talvez porque tenha um afastamento do roteiro, escrito já há algum tempo. Penso que o que está ali, construído pela nossa história, uma tentativa de apontar que precisamos olhar uns pros outros com mais humanidade e empatia, pra que assim a gente possa atravessar tudo isso juntos. Parece meio utópico, mas a gente precisa acreditar em alguma coisa, né?
Caso surja a oportunidade, vocês se veem escrevendo roteiros de novelas/seriados?
Claro. Vi uma entrevista do Lázaro Ramos dia desses e perguntaram se ele gostava mais de fazer novela, cinema ou teatro. Ele respondia que queria pagar as contas (risos). Pode parecer estranho, mas diante do cenário atual, conseguir trabalhar e realizar projetos já é muita coisa. Conheço muita gente talentosa que tá sem conseguir trabalhar. Como eu falei no começo, cresci vendo novelas, filmes e seriados que passavam na TV aberta. De alguma forma eles também compõem as minhas referências e os elementos que alimentam as histórias que eu crio. Meu desejo maior é contar boas histórias, seja onde for, de que forma for. Tenho acompanhado as produções nacionais recentes, feitas pros canais de televisão e de streaming. Tem muita coisa boa surgindo. Gente nova, novo(a)s roteiristas, diretoras, atrizes, atores. Acho que é um mercado em ascensão e queremos fazer parte dele.
Que conselho vocês dariam para quem gostaria de começar a escrever roteiros?
Acho que qualquer pessoa pode escrever uma boa história, mas pensar numa história e transformá-la num roteiro é um processo mais difícil, principalmente sozinho. Então vale buscar companhia, alguém que queira escrever junto, pesquisar se tem algum laboratório, curso, oficina na cidade. Tem muita coisa na internet também, de graça. Pra escrever um roteiro é importante saber o que é um roteiro, qual a estrutura desse tipo de escrita. Então é importante ver filmes e séries, mas também ler roteiros. Tem muito roteiro disponível online. Acho que o principal trabalho de um roteirista é pesquisar, mergulhar na história que se está querendo criar, no coração dos personagens que está escrevendo. Pesquisar também quais os canais de acesso, pequenas produtoras, gente que tem interesse em novas histórias, em novos talentos. E paciência (risos), infelizmente as coisas ainda acontecem de forma lenta por aqui, mas acontecem.
O que falta para um filme brasileiro ganhar um Oscar?
Nossa, não sei se saberia responder essa pergunta (risos). Acho que são muitos fatores. Mas pra mim o principal deles é investimento. Pra que tenhamos bons filmes, capazes de penetrar na grande indústria do cinema americano, os filmes precisam ser feitos. E pra que os filmes sejam feitos, o país precisa investir na produção de boas histórias. Elas estão por aí, acredite. Mas minha esperança é que a gente construa um cinema nacional forte o suficiente para que tenhamos nossos próprios festivais e premiações importantes. Já temos, claro, mas isso precisa ser fortalecido invés de ser atacado. Claro, o Oscar é um objeto de desejo pra qualquer pessoa que trabalhe com cinema, mas se existirem boas histórias, bons filmes e boas campanhas em torno deles, a gente pode ganhar qualquer coisa.
– Daniel Tavares (Facebook) é jornalista e mora em Fortaleza. Colabora com o Scream & Yell desde 2014.