entrevista por Marcelo Costa
Lançado em 2018, “Consertos em Geral” é o belo disco de estreia do itaperunense Manoel Magalhães, após trabalhos com as bandas Polar e Harmada. Na época em que essa entrevista foi realizada, em janeiro de 2019, o disco já despontava na votação de melhores do ano do Scream & Yell (o que se confirmou, pois ele ficou entre os 20 discos nacionais mais votados do ano), e o acaso da primeira pergunta desta entrevista soa, quase nove meses depois, até interessante, pois essa entrevista demorou para sair… Decupar entrevista é um processo difícil, poderia alegar o jornalista, pois é muito doloroso, mas não chega nem perto da dor de criar e desenvolver uma persona artística.
Com seu disco de estreia, Manoel Magalhães enfrentou esse processo difícil, doloroso, e acena, na conversa franca que você encontra abaixo (regada a cervejas e muitas risadas), que não quer estender por toda a sua vida, mas que ainda tem uns três discos pela frente antes de dizer “deu”. Tudo isso porque, segundo ele, “há uma necessidade artística de procurar alguma coisa e de dizer determinadas coisas. Mas acho que isso se esgota. Para mim, esse é o problema da ligação entre arte e entretenimento. Porque quando vira entretenimento, o cara fica com a obrigação de fazer, e esgota”. E ele quer resolver suas questões com a música antes desse esgotamento que coloca muita carreira no piloto automático.
Além desse tema, a conversa abaixo passeia por outros temas, como o segundo disco da Harmada (“Olha isso, que milagre, quase 10 anos depois (risos)…”), a herança maldita da geração do rock nacional dos anos 80 que fez muita gente confundir o fazer com o “fazer sucesso”, o acaso que resultou na bonita capa do disco (e também em seu nome), o espaço das canções de amor no mundo moderno, o sucesso de streaming da faixa vingativa “Azar” (em janeiro ela já estava com mais de 100 mil plays no Spotify), o perigo da nostalgia na música pop (“É o que as pessoas querem ver, e você vira escravo do que as pessoas querem ver”) e a felicidade resultante de lançar um disco imensamente triste. Fala, Manoel!
Demorou para sair esse primeiro disco, hein?
Demorou. Comecei a trabalhar nele em 2014… e é (um processo) difícil. Dá muito trabalho e eu demoro muito para fazer essas coisas. Estou tentando trabalhar mentalmente como não demorar tanto tempo (risos). Pois é um processo muito doloroso. Primeiro você escuta a música, e gosta. Passa dois dias e você já não gosta tanto. Dai era uma vez a certeza se é uma música que vale a pena…
A autocritica vem tão rápido assim?
Vem, vem. Dois dias e você já fala: “Hummm, não é tão bom isso não”. Daí fico querendo mudar algo (na música) para ver se vou voltar a achar que era bom de novo. Demora muito tempo para eu achar que vai ser uma música que (vale a pena)… Mas ao mesmo tempo, tem uma coisa muito boa, que com o distanciamento do tempo, você começa a pensar: “Pô, não era tão ruim quanto eu estava achando…” (risos). Só que, por outro lado, sempre rola a ideia do “tenho certeza de que posso fazer muito melhor”. E é um sentimento bom, o tempo é bom para isso e por isso acho que demora. Para se ter uma certa certeza…
Ou seja, esse grupo de canções do álbum “Consertos em Geral” passou por um longo crivo…
Sim, bastante. Ainda que seja um crivo absolutamente subjetivo, pois é o que me deixa satisfeito com o que eu gosto em música. Você também, que é apaixonado por música, também deve ter isso, essa sensação de ouvir um disco quando você era moleque e, sei lá, faixa 3, e você louco por ela, ouvia e voltava e ouvia de novo. A minha sensação é de que estou sempre procurando fazer essa faixa 3, um disco inteiro de faixa 3. E no “Consertos em Geral”, todas para mim são faixas 3. E é estranho… Por exemplo, fui tocar dia desses, e algumas músicas do disco são tão faixa 3 que é estranho refaze-las (ao vivo). É uma coisa muito pessoal mesmo. E acho que é isso: faixa 3 é uma visão muito pessoal do que é bom para mim.
Como você gravou o disco?
Primeiro fiz todas as bases sozinho. Montei uma estrutura que consigo fazer em casa tranquilo. Mas a partir do momento em que gravei todas as bases, fiquei com medo dessa autocritica me paralisar, de talvez eu parar e nunca fazer. O que é muito possível, com música, pois a autocritica te pega de uma maneira tão pesada que você não anda…
Na minha percepção, às vezes acho que é uma sensação que não apenas você, mas outros parceiros de geração também passam. Acredito que Dary Jr. passa por isso, acho que Beto Cupertino sofre disso, que são caras tão geniais quanto você, e que tem uma musicalidade, mas também tem uma autocritica que os impedem de ficar lançando disco todo ano… embora vocês três pudessem lançar disco todo ano, mas demora para sair o primeiro disco, e você não sabe quando vai sair o segundo…
Pensando bem friamente, o ideal é que não demorasse muito tempo para sair o segundo (disco). É quase um processo de amadurecimento para confrontar isso de uma forma mais humana e pragmática. Mas ter demorado também foi bom, sabia. Porque, geralmente, todo ano tem aquele artista que surge (do nada), mas eu sempre gostei de artistas que demoraram para ser o que são, porque existe um processo que é demorado. No meu caso, foi bom ter demorado porque acho que estou maduro para as duas coisas: ter feito um disco que me deixa feliz com ele e pensar como fazer um segundo melhor sem demorar esse tempo todo.
Como foi a segunda parte do processo?
Depois que fiz todas as bases, fiquei com medo, mesmo. E pensei: “Vou ter que chamar alguém para dividir essa responsa aqui porque talvez eu não consiga ficar bem com isso sozinho”. E foi ai que chamei o Clower Curtis, que é o cara que produziu o EP da Polar (nota: primeira banda de Manoel, “uma das bandas mais interessantes do cenário carioca recente”, cravava o Scream & Yell em 2005), para tocar comigo e me ajudar a terminar o disco. Ele tem um estúdio na Cinelândia, no Rio, e ao invés de ficar em casa, passei a ir lá e começamos a fazer o disco juntos. Começamos a colorir as bases que eu havia feito em casa, colocar um violão aqui, uma guitarra lá, um teclado. O “Consertos em Geral” é um disco de composições minhas, mas, como banda, somos nós dois. Foi muito bom. Me deu uma segurança além de uma sensação de que fazer esse disco em duas pessoas, me permite pensar que o próximo eu possa fazer sozinho. Porque tem coisas que só estão na sua cabeça, e você fica buscando aquele som, e quando você chegar nele será o grande dia da sua vida. Quando se trabalha com outra pessoa, ela pode chegar com uma sugestão que é até melhor do que a sua, mas para ficar feliz e completo… acho que agora está rolando essa coragem…
Mas tem disco da Harmada no caminho, certo?
Tem, já está quase pronto. Olha isso, que milagre, quase 10 anos depois (risos)…
Como você lida com a banda?
De uma forma muito tranquila. Porque a gente percebeu e decidiu que a banda não é uma banda que irá nos dar dinheiro, não temos esse talento de vendedores, sabe. Nunca foi nosso foco. E a sensação pessoal é de que eu não quero ficar mexendo com música durante um longo período da minha vida. Acho que quando chegar nos 40 e alguma coisa, vou dizer “valeu”… Eu me programo para isso.
O Rainer Maria Rilke fala um pouco sobre isso no “Cartas a Um Jovem Poeta”, de como a arte (no caso, a poesia) pode consumir a pessoa. E ele instruí o aprendiz dele a largar tudo, numa coisa tipo “se a poesia te consome tanto, abandona ela. Se for só algo passageiro, passará. Mas se você ‘precisar’ escrever, você voltará”…
O bom de largar tudo é quando você fez tudo o que você achava que tinha que fazer. Eu quero largar com a tranquilidade de ter feito. O ruim, e vejo muito isso na minha geração, é que acho que muitas pessoas estão com a sensação de que não fizeram o que tinham que fazer. Porque é duro… Nasci nos anos 80 onde tinha uma indústria do disco, as bandas que a gente viu quando éramos moleques são bandas que viviam de música e se tornaram artistas consagrados. Crescemos com esse padrão de que se fizermos algo bom, teremos reconhecimento. O que é um grande engano. E acho que isso deprimiu muita gente no final dos anos 90 e nos anos 2000, porque as pessoas achavam que só era fazer, com muito esforço, que o reconhecimento iria vir, e não é assim. A gente sabe que não é assim…
A música pop tem inúmeros exemplos disso e muitas vezes acho que é inocência…
É uma absurda inocência, mas que foi alimentada na cabeça das pessoas por muito tempo, uma ideia romântica do que são as coisas, e que na verdade não são. Não fica achando que você vai ser diva, porque nem todo mundo nasceu pra ser Caetano. As pessoas se frustram muito (com isso).
Mas sério que, sei lá, aos 60 anos, você com violão, as músicas vindo e… não?
Sério, tenho certeza que não. Há uma necessidade artística de procurar alguma coisa e de dizer determinadas coisas. Mas acho que isso se esgota. Para mim, esse é o problema da ligação entre arte e entretenimento. Porque quando vira entretenimento, o cara fica com a obrigação de fazer, e esgota. Os grandes artistas que a gente gosta, eles tem períodos de criação maravilhosos, que geralmente são quando eles estão colocando em prática essa necessidade de expor, mas quando vira trabalho, quando tem que ter a turnê para ter dar dinheiro para manter determinado estilo de vida, a coisa toda se esgota. É muito problemático. E me deprime muito ver gente de que gosto e que desandou por isso, porque virou obrigação de fazer. Estou fazendo muito esforço para fazer tudo o que tenho que fazer, porque dói pra caramba, dói muito. Fiquei uns seis meses sofrendo sem saber se esse disco ia sair. É preciso que você confronte muito a sua própria visão do que é a coisa. Então, quando você está aquém daquilo que você quer fazer, dói muito. E acho que é por isso que as pessoas desistem tanto. Porque é doloroso.
No texto que o Bruno Capelas escreveu sobre o disco para o Scream & Yell, ele reflete um pouco sobre essa ideia do espaço das canções de amor. E num dos seus shows que vi, você perguntava para o público: “Vocês querem ouvir isso mesmo?” (risos). Você acha que há espaço para essas canções de amor densas?
É uma pergunta muito difícil. Porque tanta coisa influi nisso. Tivemos um período em que o Brasil era ultrarromântico, as rádios eram assim, os artistas populares eram assim, havia o Roberto Carlos e a gente tem essa tradição. Porém, houve uma mudança geracional que é complexa. Hoje em dia, o conceito de amor é difícil. Eu mesmo nem sei o que representa o amor para essa geração. É uma pergunta muito difícil, mas também não posso me furtar a fazer essas canções. Acho, inclusive, que estou mais feliz fazendo isso. Até porque houve algumas críticas que fizeram ao disco de que gostei muito, avaliando que o disco era uma coletânea de rádio de canções clássicas de amor. O Cleber, do Miojo Indie, falou isso, e a Julianna Sá, que é produtora e tinha um programa ótimo de rádio no Rio, o Radar, também fez um comentário que ia por esse lado. Eu fiquei feliz, pois é isso mesmo. “Para Gravar na Sua Secretaria Eletrônica” é uma musica dessas, um baladão pop de rádio, aquela coisa meio Roberto Carlos para o cara ficar chorando sozinho, você vai no karaokê e tá lá ele cantando a música sozinho, a intenção é essa… E eu não sei não ser assim, mas acho isso muito bonito.
E o fato do disco ter entrado na lista dos 25 mais votados do Scream mostra que há uma galera que ouviu (não sei se chorou) e reconhece a qualidade dele. E isso independente do alcance, porque o “Consertos em Geral” não fez o mesmo caminho do que o disco do Baco (que foi eleito disco do ano), o que deixa a questão: se todo mundo que ouviu o disco do Baco tivesse ouvido o seu (e todos os demais, igualitariamente), o resultado não poderia ser diferente? O disco do Baco foi o disco hypado do ano, o disco que chegou na galera…
Para o tipo de artista que eu sou, chegar numa coisa dessas, e estou muito tranquilo com isso, é preciso estar no radar durante um tempo, entende. Porque o Baco chegar e virar essa parada é normal, pois é o som do agora, é o som que as pessoas querem, e, de repente, daqui a 10 anos ninguém mais vai saber quem é Baco. Já vimos isso diversas vezes. Já para o tipo de som que eu faço, para o que foco que ele tem, acho mais fácil permanecer no radar passo por passo. É preciso continuidade. Para que quando eu chegar no quarto disco, talvez…
Adorei a capa do disco…
Eu já estava com o disco quase pronto, e não tinha nome. Não sabia o que seria a capa também. Eu achava que como é o meu primeiro disco solo, o primeiro passo nessa caminhada de me firmar, eu tinha que aparecer na capa. Porque rola um processo… de “vamos ter coragem aos poucos”. O Baco é um artista, eu não me sinto um artista, e sim um compositor que canta (risos). Então eu tinha que estar na capa para começar essa afirmação. E o grande responsável por essa capa é o Yuri de Castro. Ele fotografou essa sapataria, e o letreiro é “Sapataria Lisboa / Consertos em Geral”. Na hora que vi a foto, pensei: essa é a capa do disco. Tem um banquinho ali, que também está na capa do disco, e eu vi a imagem do João Gilberto sentado ali naquele banquinho fazendo as coisas dele. Ainda pensei: “Consertos em Geral” é o nome, porque é um disco sobre composição, e como são canções de amor, na minha cabeça era uma homenagem aos compositores. Porque a ideia é de que a música vira uma ferramenta para consertar o que você está sentindo. É um conserto afetivo. De alguma forma, a música te acerta tanto. Nem a psicanalise consegue isso dessa maneira. Gostei da metáfora dessa coisa de ter uma loja de consertos afetivos.
Dentro dessa homenagem a compositores, quem são as suas influências?
Jards Macalé é um. Ele não é muito popular, mas tem canções que me tocaram muito e, de alguma forma, orbitam o meu imaginário, como “Movimento dos Barcos”. Renato Teixeira é outro. Pode ver que tem sanfona, tem viola caipira no disco. A “Domicilio” é uma homenagem a ele. O Almir Sater também. E ele tem essa coisa da tradição, mas também da música pop. Um disco dele que tem haver com o meu nesse sentido é o “Sete Sinais” (2007), eu fiquei ouvindo muito esse disco. É o tipo de balada que eu gosto, não é ultra regional, é mais balada canção mesmo. Sou muito fã do Almir.
Quando você estava fazendo o disco da Polar, lá em 2005, você vislumbrava o “Consertos em Geral” dentro de você?
Não, não. A Polar é de um tempo que, para quem vivia no Rio, todo mundo achava que seria a próxima parada. Então teve o rock nacional nos anos 80, o manguebeat nos anos 90, e no Rio, real isso, todo mundo achava que iria ser a próxima bolacha do pacote. E isso aconteceu justamente no período da queda das gravadoras. Até não duvido de que aquela geração pudesse ter vingado, porque as gravadoras estão no Rio, e você tinha, sei lá, 50 bandas muito boas circulando. A gente só pensava isso: “Vai acontecer alguma coisa”. Porém, não sei se chega a 10 que lançaram um disco completo. E desses 10 deve ter uns cinco, no máximo, que continuaram, fizeram um segundo. Lasciva Lula fez um disco… e acabou. Reverse também, mas assinou com grande gravadora e ela não fez nada. Havia muitas bandas boas naquela época, mas as pessoas amarram muito o fazer ao “fazer sucesso”.
Esse, talvez, seja o lado ruim dos rock nacional dos anos 80, a herança maldita, essa coisa de fazer com que quem monte uma banda já sonhe em se tornar rock star.
E viver de música é algo muito suado. E é a responsabilidade de fazer porque tem que fazer. Ter disco porque tem que ter turnê. E quando começa a entrar dinheiro, tem um monte de gente na cola dele, trabalhando com ele, e ele não pode deixar esse pessoal na mão. Dai você ouve os casos de cara de banda processando artista, e isso fica tão distante do “fazer música” que se torna muito complicado. Artista virar empresa, em música, é muito complicado.
Isso me lembra do documentário do Pixies, o quanto é constrangedor olhar aquelas quatro pessoas no camarim que não conseguem conversar entre si…
Isso é muito triste. E eles se veem obrigados a continuar porque muita gente depende daquele dinheiro… É tipo o Ira!, que é Ira! sem ser Ira!, pois não é mais a mesma banda, mudou. E então você encontra um CD de melhores músicas do Ira! com cinco caras na capa sendo que só dois deles tocam naquelas músicas. Os outros três estão simbolizando um som que eles nunca fizeram. E por mais que você coloque esses caras para reproduzir a música ao vivo, não é a mesma música. Isso é muito triste do showbusiness.
Sim, e escrevi sobre isso na resenha do show do Nick Cave em São Paulo. Ele estava lá mostrando o agora dele, as músicas novas, o momento pós-perda do filho. Ele é uma rara exceção porque 90% da música pop lida com nostalgia. De Roger Waters a LCD e Los Hermanos, é tudo uma celebração do passado. Para cada Courtney Barnett, uma multidão de bandas pagando tributo ao próprio passado.
E é o que as pessoas querem ver, e você vira escravo do que as pessoas querem ver. São raros os que conseguem fugir disso. Jack White é um deles: “Vocês pagaram para me ver, certo. Então eu vou fazer o que eu quero”. É raro, é muito raro. Nisso eu tiro o chapéu para o Caetano. Ele tem a coragem de continuar a fazer as coisas dele, o que já o torna mais corajoso do que o Chico e o Gil. O Chico, para mim, já poderia ter deixado de fazer discos e se concentrado na carreira de escritor, que é o que ele realmente gosta, mas ficou refém do que ele movimenta.
Voltando ao “Consertos em Geral”, e esse papo de “Azar” ser a música mais tocada no disco em streaming?
Essa música está me impressionando! É a canção do rádio!
Você esperava isso? Qual canção você apostava?
Eu apostava em “Fica”, e por isso coloquei ela para abrir o disco. Mas acho que a ideia que eu tenho do que é bom é um pouco descolada da realidade do que as pessoas acham que é bom (risos). Eu acreditava em “Fica”, mas acho que “Azar” comunica mais, tem um conceito ali, do que está sendo dito, que as pessoas vestem mesmo… Essa música chegou em gente que nem sei.
E é uma música sobre vingança que tem muita relação com esses últimos anos, em que as pessoas se sentem liberadas para dizer o que realmente sentem…
Rola um certo rancor, né. Essa coisa de aplicativo, de relacionamentos efêmeros, gera um certo rancor, porque as pessoas sempre estão com raiva das outras. Mas sempre digo: a gente sempre tem alguém que a gente acha que trouxe azar total pra nossa vida, mas na verdade todo mundo leva azar para a vida de alguém. Inclusive nós. É natural. A gente tende a culpar o outro e essa música fala sobre isso. Acho que é fácil, é confortável falar que foi muito azar encontrar alguém. Pretendo fazer um clipe legal pra ela…
Chegamos na parte “futuro” da entrevista…
Se a gente conseguir fazer esse clipe acredito que isso possa dar uma sobrevida para o disco, talvez leva-lo para gente que não o conheça ainda. Montei uma banda para toca-lo ao vivo, mas também quero criar tarimba para defendê-lo só no violão. Tocar voz e violão expõe você demais. Tenho tentado focar nisso até para cada vez mais fazer um show melhor, ter domínio, porque isso é uma arte. E conseguir esse domínio é necessário. É um amadurecimento. E também é mais fácil de viabilizar, pois levar banda completa é sempre mais difícil e eu quero circular. Mas ao mesmo tempo quero tocar as outras coisas, o disco da Harmada está quase pronto e quero lança-lo no segundo semestre. E o próprio “Consertos” abre a possibilidade de que a Harmada seja ouvida de novo. Ainda assim, não quero demorar muito para fazer o próximo disco solo. Estou trabalhando nisso, nessa busca pela canção, em dar um passo à frente. As coisas estão caminhando e estou muito feliz porque existe certa dificuldade de passar determinado limite que acho que já dei uma cabeçadinha para fora. Então agora é se esforçar e ir além… mas estou muito contente porque as coisas estão caminhando na velocidade que elas tem que caminhar.
Você está realmente muito contente em lançar um disco triste pra caralho? (risos)
É só o que eu sei fazer (risos). Eu nem sei como fazer música feliz. O Pedro Antunes comentou isso na lista de 50 discos do ano da Rolling Stone: “Esse é um daqueles discos para abraçar debaixo do chuveiro para disfarçar as lágrimas”. E isso de alguma forma é uma chave para entender tudo, a busca por encontrar esse tipo de pessoa que, em 2019, vai ouvir um disco triste e… se emocionar. Tem público para isso, mas para chegar nele, demora. Tem um amadurecimento mesmo. E tem que ter muita força para continuar fazendo e ir aguentando os solavancos. Não é de uma hora para outra.
Você acha que até o quarto disco chega nisso?
Acho… e voltaremos a essa conversa. Quem sabe será o grande dia, o último, a redenção. Acabou. Deve dar uma felicidade…
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.