Texto por Marcelo Costa
Foto por Érico Padrão
Você é fã do rock nacional anos 80? Você é fã do Ira!? Bem, muito cuidado com as linhas que vem a seguir…
Por pouco mais de 50 minutos, Edgard Scandurra, o homem por trás das letras e melodias do Ira!, vestido todo de preto e apenas com um violão em punho, sem nenhum acompanhamento, emocionou uma platéia de quase 300 pessoas tocando um repertório preenchido apenas por canções de seu grupo que nunca tocaram no rádio, mas muita gente ouvia em casa, vide o coro que se seguiu durante a apresentação. Os famosos lados b, como apresentou Edgard.
O pequeno show fazia parte do projeto Sons 80, do Sesc SP, que visava trazer um artista significativo mostrando canções dos anos 80 em formato voz/violão. Scandurra abriu o projeto (que ainda teria Guilherme Isnard do Zero, a ex-Nau Vange Leonel e o Hanoi Hanoi Arnaldo Brandão no line-up) com “Saída” e “Mudança de Comportamento”, ambas do primeiro e clássico disco do Ira! de 1985.
Seguiu-se “Casa de Papel” e “XV Anos” de “Vivendo e Não Aprendendo”. Para apresentar a próxima seqüência, Edgard desabafou: “a próxima é de um disco chamado ‘Meninos da Rua Paulo’. Era final de contrato com a gravadora e eles pouco se lixando para o disco e tem tantas canções boas”. Foi a deixa para “Amor Impossível”, “O Tolo dos Tolos”, “Não Mataras” e uma versão arrepiante de “Prisão das Ruas”.
O público respira e mais emoção surge. “Essa eu acho sempre atual. Todos as manhãs de domingo são assim”, e mandou uma das grandes canções de um dos prováveis melhores discos de todos os tempos do rock nacional: “Psicoacustica”.
Para apresentar “O Girassol”, Edgard lamentou o fato da gravadora sempre se dedicar a uma ou outra música de um disco (as tais músicas de trabalho). “Quando fazemos um disco, todas aquelas músicas são boas. Nós não estamos preenchendo o disco com bobagens. E essa coisa de música de trabalho acaba colocando em segundo plano outras boas canções, como essa”. Os arranjos surgiam vigorosos, fieis as versões do álbum. “Você Não Sabe Quem Eu Sou”, “Alegria de Viver”, “Campos, Praias e Paixões” e “Nas Ruas” (com um trecho de “Tolices” no meio) completaram o set list.
Ao final, Edgard precisou retornar para um bis e, de guitarra em punho, tocou uma pungente versão de “Núcleo Base” para alegria de todos os presentes que aplaudiram em pé ao final do show.
Não saiu no Jornal Nacional, os jornais não deram manchete, o programa do Gugu não vai comentar, mas entre 20h e 21h de uma segunda-feira de vento frio em São Paulo, o pequeno palco do Sesc era o lugar mais perfeito do universo para quem gostava de boa música, aquela, tocada com garra, paixão e emoção. Aquela que você ouve em seu quarto. Aquela que te traz alegria de viver.
Uma das coisas legais da música é que ela permite que, vez em quando, a gente volte a ter quinze anos. Edgard, sentado no banquinho cantando “Manhãs de Domingo” simbolizava isso. E mais da metade do público presente também.