Resenhas por Adriano Mello Costa
“Gatilho”, de Carlos Estefan e Pedro Mauro (Independente)
A produção nacional de quadrinhos está cada vez mais vasta, abrangendo diversas facetas da nona arte. “Gatilho”, da dupla Carlos Estefan e Pedro Mauro, é mais um bom exemplo disso. De produção independente, com 64 páginas e formato grande (21 x 28cm), teve lançamento na CCXP 2017, em São Paulo, com sucesso. A graphic novel apresenta um faroeste clássico, inspirado no trabalho do cineasta italiano Sergio Leone e demais filmes do “spaghetti western” dos anos 60 e 70. O roteiro de Carlos Estefan (do grupo Mauricio de Sousa) é bem elaborado, indo e voltando para revelar os meandros no meio da dor, vingança e redenção, honrando assim o gênero com o que lhe é diretamente inerente. Os personagens são moldados por fatos do passado e isso além de ficar entalado nas suas gargantas, servirá para desencadear ações vindouras sem direito a perdão. A arte em preto e branco do experiente Pedro Mauro de trabalhos na editora italiana Bonelli (casa do Tex) é uma aula de como se fazer algo dentro dessa seara. Com extras que além de explicar as inspirações para a obra também contam um pouco do processo de produção, “Gatilho” é uma obra mais do que bem-vinda.
Nota: 7
“Império”, de Mark Waid e Barry Kitson (Mythos Books)
Como seria um mundo onde o vilão derrotou todos os heróis e assumiu o poder com mão de ferro e justiça baseada apenas nas próprias convicções? Esse é o mote de “Império”, HQ de Mark Waid (Flash, Capitão América) e Barry Kitson (L.E.G.I.O.N), que conta a história de um mundo onde o mal venceu e o impiedoso Golgoth controla tudo e (quase) todos. A história era uma ideia antiga de Mark Waid, porém só veio a ser concebida e publicada em meados de 2000 sendo finalizada em 2004. Passou por diversas casas (Gorilla, Image, DC) e hoje os direitos são da IDW Publishing. A Mythos Books trouxe pela primeira vez ao Brasil em 2017 esse trabalho em um encadernado de luxo com 204 páginas. Um dos nomes mais importantes dos quadrinhos mundiais, tanto pelo que fez em grandes editoras quanto nos trabalhos autorais, Mark Waid recheou “Império” com segredos, conspirações por trás das portas, traições inesperadas, desejos sombrios e resoluções surpreendentes. O foco existente entre a manutenção do poder por Golgoth e a briga da esforçada resistência para derrubá-lo é apenas o cenário maior, a desculpa que Mark Waid precisa (com a habitual competência de Barry Kitson na arte) para explorar caminhos mais tortuosos.
Nota: 7,5
“Angola Janga – Uma História de Palmares”, de Marcelo D’Salete (Editora Veneta)
Marcelo D’Salete é quadrinhista, graduado em artes plásticas e mestre em história da arte. Já produziu ótimas obras como “Encruzilhada” (2011) e “Cumbe” (2014), mas que não se comparam ao seu mais recente trabalho, chamado “Angola Janga – Uma História de Palmares”. Elaborado em mais de 11 anos de pesquisa, “Angola Janga – Uma História de Palmares” foi publicado em 2017 pela editora Veneta com 432 páginas tendo roteiro e arte em preto e branco do autor. Angola Janga significa na língua banto quimbundo “Pequena Angola” e era assim que os escravos se referiam a Palmares quando fugiam dos absurdos a que estavam submetidos nos engenhos. D´Salete mergulha no Brasil colonial do século XVII, onde a cana-de-açúcar era um dos mais importantes produtos explorados e que para tanto utilizava mão de obra escrava oriunda da África em navios negreiros que durante todo o período em que vigorou a escravidão trouxeram milhões de negros e negras como mercadorias. O autor constrói um épico forte e poderoso para contar a história de alguns desses nomes que se levantaram e brigaram contra uma opressão devastadora, como Zumbi. Cheio de extras como glossário, textos e mapas da época, “Angola Janga” é provavelmente a obra mais importante já feita nos quadrinhos nacionais.
Nota: 10 (Site do autor: https://www.dsalete.art.br)
– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop: http://coisapop.blogspot.com.br