resenhas por Leonardo Vinhas
“François Peglau y la Fracaso Band”, François Peglau (Atutiplén)
Em seu terceiro álbum, o peruano François Peglau mantém o coquetel de ska, romantismo latino e calipso calibrado por doses generosas de new wave, receita que garantiu o bom nome de seus trabalhos anteriores. O que muda mesmo é a “opulência” da gravação: antes assumidamente lo-fi, Peglau dessa vez levou sua Fracaso Band para o estúdio e deu uma bela encorpada na sua cara-de-pau sonora. “El Monte de las Animas” é o ápice desse momento “hi-fi”, uma baladinha dançante com metais safados e a voz anasalada assumindo o papel de crooner sensível – um espetáculo que só ouvindo para crer. Mas o disco não é só isso, claro: “Final Feliz”, “La Piscina” e “El Camino No Es el Camino” estão feitas em molde semelhante, só um tiquinho menos viciantes. “Sur”, por sua vez, pega a onda mais reggaeira, enquanto “La Pastilla” é funk oitentoso com baixão estalado e teclados que parecem saídos da trilha sonora de “Um Tira da Pesada”… e acredite, funciona! Merecem destaque ainda as regravações de “Costa Rica” e “Déjanos una Canción”, ambas do álbum anterior (“La Crisis del Segundo Disco”, 2013): ainda que sem grandes reinvenções, ficaram bonitas em um registro mais ambicioso. Oxalá esse tratamento de estúdio faça com que Peglau deixe de ser um segredo bem guardado. O mundo se beneficiaria muito de um pop star talentoso que não se leva a sério.
Nota: 7,5 (ouça e baixe o álbum no Bandcamp)
“La Sintesís O’Konor”, El Mató a Un Policia Motorizado (Laptra Discos)
Assim como o supracitado Peglau, os argentinos do El Mató a Un Polícia Motorizado elevaram a qualidade de seu registro de estúdio com seu terceiro álbum. Só que aqui a aposta foi mais alta: a produção aconteceu no afamado Sonic Ranch (EUA), onde já gravaram Animal Collective, Ministry, Yeah Yeah Yeahs, Of Montreal e muitos outros. Qualquer dúvida sobre a aposta ter valido ou não a pena se dirime já na primeira audição: a trinca de abertura – “El Tesoro”, “Ahora Imagino Cosas” e “La Noche Eterna” – é simplesmente o melhor conjunto de canções que essa excelente banda já entregou. Incorporando percussão e nitidez ao seu indie rock sintético e emotivo, além de deixar mais claros os efeitos sonoros e arranjos de teclados, o quinteto conseguiu se reapresentar sem perder suas características essenciais. É bem verdade que perdem um pouco o fôlego em uma (“Las Luces”) ou outra (“El Mundo Extraño”) canção menos original, mas ouvido como um álbum, até esses momentos mais “genéricos” fazem sentido e honram a obra. E se originalmente a faixa de encerramento, “Fuego”, é um pedido de desculpas, com Santi Motorizado cantando “ahora soy mejor / te juro / soy mejor”, dá para tomar uma liberdade poética e dizer que é também um reconhecimento do passo adiante que a banda deu.
Nota: 9 (ouça o álbum no Spotify)
“#8”, Buenos Muchachos (Bizarro)
O novo álbum dos veteranos uruguaios dispensou título. “Nos pareceu que a força da obra, tanto na parte musical quanto na parte gráfica, não deixava espaço para circunscrevê-la a um título”, disse ao Scream & Yell o baterista José Nozar – ainda que o álbum esteja sendo divulgado como “#8” nas redes. A banda não tem receado em declarar seu orgulho pelo disco, o qual referem como o melhor de seus 26 anos de carreira – e estão certos. Nunca os Buenos Muchachos soaram tão frescos e arejados em sua densidade poética. Pode não ter o apelo pop/indie rock de “Amanecer Búho” (2004), o charme sombrio de “Uno com Uno y Así Sucesivamente” (2006) ou a complexidade de “Nidal” (2015), mas tem as doses exatas disso tudo, e de outros traços que a banda exibiu em seus outros quatro álbuns. Esse oitavo lançamento mostra o poder da banda em saber navegar por canções sentimentalmente pesadas cheias de delicadeza harmônica (“Sentimiento Acorde”, “Todo Aquel Infierno”), misturar murga com Einsturzende Neubauten (“La Miseria de Tu Plan”) ou mostrar seu lado mais roqueiro sem concessões à boçalidade (“Dos No Da Tres”, “Arco” e a belíssima “Antenas Rubias”, que ganhou um grande clipe). Além disso, o vocalista (e letrista) Pedro Dalton elabora seu canto além da característica rugosa de sua voz, e o salto de sua performance vocal é surpreendente mesmo para quem já havia notado evolução em “Nidal”. Mais focado em guitarras, mas nem por isso mais pesado, o disco equilibra doses iguais de frescor e mistério e fecha como um álbum belíssimo, sério candidato a entrar na história – da banda e do rock latino-americano.
Nota: 9,5
– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.