por Roberta Ávila
“O Mensageiro” é um filme de guerra um pouco diferente. Enquanto a maior parte dos filmes concentra-se na guerra em si, fazendo das barbaridades que acontecem durante o combate os motivos de sensibilização contra os confrontos armados, o filme do diretor Oren Moverman retrata a rotina de um soldado que acaba de voltar da guerra do Iraque, consagrado como herói.
Não se engane. O objetivo aqui ainda é mostrar o lado feio da guerra, porém, Moverman deixa mutilações, mortes, e perda física de lado e concentra-se na mutilação moral e emocional que a guerra causa no soldado, um foco que também não é novidade no cinema (você já viu isso de relance na dobradinha de Clint Eastwood sobre a batalha de Iwo Jima e, de forma distanciada e por vezes cômica em “Forrest Gump”), mas funciona bem “O Mensageiro”.
Ben Foster foi uma escolha interessante para o papel do sargento Will. Foster não é um incrivelmente bonito nem tem um rosto marcante. No começo do filme, sua expressão é sarcástica, debochada e essa soma de fatores faz com que ele seja perfeito para ser só mais um soldado que voltou da guerra. Com o desenrolar da história, conforme Will vai se abrindo, o personagem ganha empatia, mas é difícil estar ao lado de Woody Harrelson sem ser ofuscado.
A imagem que muitas pessoas guardam de Woody Harrelson advêm de filmes em que a violência ocupa um papel central – como “Assassinos por Natureza” e “Onde os Fracos Não Têm Vez” – e isso já garante de antemão uma presença selvagem no inconsciente. Em “O Mensageiro”, Harrelson é o capitão Tony, encarregado de coordenar e acompanhar o sargento Will em seu novo trabalho no exército: comunicar às famílias a morte de um ente querido no campo de batalha.
A edição lenta e despretensiosa facilita a absorção do roteiro, que expõe as seqüelas da guerra e o tratamento do exército norte-americano para com as pessoas que entregam a vida em suas mãos. Como o capitão Tony declara em certo momento, se um soldado cai numa vala, o exército comunica a seus familiares que ele morreu em combate, sempre buscando atribuir sentido a uma coisa que não tem explicação.
Afinal, como explicar o sentido das coisas para Will: seu pai morreu, sua mãe é louca. A namorada, que estava com ele desde a adolescência, o trocou por outro cara quando ele foi enviado para a guerra, e agora que ele está de volta, ela vai se casar. Will voltou para quê? Para quem? Para uma vida que não é mais dele, cheio de lembranças e mesmo de conhecimento que fazem ainda mais difícil com que ele se encaixe.
Entra em cena Olivia (Samantha Morton), uma das mulheres que Will e Tony precisam comunicar o falecimento de seu marido. Diferente das outras pessoas, Olivia não reage com violência nem demonstra dor aguda. Ela fica desorientada, mas age como se já soubesse que um dia iria acontecer. Mais tarde ela revela que cada vez que seu marido voltava do front estava mais diferente do homem com quem ela se casara. Ele já não era um bom marido, nem mesmo bom pai. Era um estranho que ela não amava, mas a morte faz com que ela passe a amá-lo de novo. Mas ele está morto.
De alguma forma, é essa questão da lógica que divide o filme. Qual o sentido de se enviar rapazes de 18 anos para “libertar” o Iraque? Qual o sentido para que eles morram lá? Qual o sentido na volta para casa, com a morte do inimigo no âmago por um ideal nebuloso? Como tocar a vida adiante depois de conviver com perdas tantas irreparáveis, explosões, bombas, armas, mortes, atentados? Qual o sentido de tudo isso?
No fim das contas, Will parece encontrar nos dilemas de Olivia e no luto da moça um cais tranqüilo em que ele consegue vislumbrar um recomeço. Não, não é um final feliz, mas existe a promessa de que um final feliz pode existir e a mensagem de que a esperança – apesar da dor e do pavor – não morre com a guerra.
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Roberta Ávila é jornalista e assina o blog Ficções da minha vida
Um bom filme que retrata esse retorno !! È “DEAD PRESIDENTS” só que em versao BLACK !! E com uma trilha sonora matadora ! Alguem ae ja viu??
A crítica está boa mas revela todo o filme. É um spoiler gigante! É preciso ter cuidado para comentar sobre e não revelar tanto sobre a obra, mas debater a qualidade da mesma. Sinopses são menos esclarecedores que essa crítica em si.
Agora quero ver, mas já sei o começo, o meio e o fim.