por Marcelo Costa
São Paulo é uma cidade absolutamente incrível. Ok, há divergências, ainda mais quando quem escreve isso nasceu no Belenzinho porque não havia maternidade vaga na Moóca, ou seja, o coração bate mais forte toda vez que o avião sobrevoa a cidade e anuncia o pouso em Congonhas. Porém, São Paulo muitas vezes destrói coisas belas, pois aqui tudo muitas vezes precisa ser “grande demais” para dar certo, e perde personalidade. Não é a toa que a maior cidade do país (e uma das maiores do mundo) não tinha um grande festival de cerveja para chamar de seu. Não tinha. A primeira edição do Slow Brew São Paulo conseguiu atender a demanda da cidade sem perder a característica cuidadosa das edições no interior do estado.
O desafio não era pequeno, mas a produção do Slow Brew soube domar as expectativas do público paulistano, que esgotou todos os ingressos do evento três dias antes, e cerca de 2 mil almas bêbadas vagaram tranquilamente atrás de suas cervejas prediletas pelo Centro de Eventos Pró-Magno, um enorme galpão no bairro da Casa Verde. Mantendo o acerto de outras edições, as atrações musicais ficaram numa área a parte dos expositores de cerveja, o que permitiu conversar mais sossegadamente com os cervejeiros – dependendo da intensidade das filas – e curti os enormes buzinaços que anunciavam alguma cerveja bacana sendo engatada naquele momento num clima divertido e de festa, como tinha que ser.
Para os bebedores, a tarefa também não era fácil: 52 cervejarias (oito delas, internacionais) engataram mais de 250 cervejas diferentes nas torneiras do festival (incluindo as surpresas de última hora). Um dia antes, preparei a minha lista pessoal com 53 rótulos, dos quais acabei experimentando “apenas” 32 no evento (dois a menos do que na edição de Campos do Jordão, em 2016) com saldo extremamente positivo. A cerveja mais disputada de todo o dia foi a Selassie, incrível Russian Imperial Stout da sueca Omnipollo, cuja receita une 10 tipos de maltes, café da Etiópia e favas de baunilha – quem experimentou a colocou no topo do ranking do dia. A Morada Gasoline Sour, limitada a um copo por pessoa, também fez bonito.
Entre as melhores que bebi, três foram cortesias de amigos: a pancada Quatro Graus Black Anthrax 2017 e seus 17.5% de álcool (obrigado James), a sensacional De Molen Bommen & Granaten Rioja Barrel Aged (valeu Tosi) e a incrível 3 Cariocas Sour du Leblon (obrigado Sheila). A 3 Cariocas surpreendeu ainda com a Sournilha, uma incrível Sour com baunilha e maracujá enquanto a Dogma fez bonito com a Large Pepo Cake, uma RIS com café, avelã, cacau e baunilha. Uma das grandes pequenas cervejarias da capital, a Trilha montou um cardápio especialíssimo, e das seis que eu queria provar deles só consegui experimentar três (a que balançou o coração foi Faun’amora French Oak).
Outra para entrar na listinha das melhores do dia foi a Zalaz Ybyrá Uma 2017 Barrel Aged, que vinha acompanhado de petit four, uma harmonização que amaciava a pancada da acidez da cerveja equilibrando-a com doçura (a Zalaz Cascara seguia harmonizada com torresmo e a Áurea acompanhada de queijo). A Urbana Jabronx continua incrível, o mesmo pode ser dito da Dogma Cafuza e a Dádiva Milkshake, cervejas que não estavam na lista por já terem sido provadas antes, e um festival como o Slow Brew, com mais de 250 rótulos diferentes, se torna um local aprazível para conhecer o novo e descobrir surpresas, mas que diante do espaço vago na frente do balcão das cervejarias, e da qualidade das receitas, mereceram um repeteco.
Após duas edições em Ribeirão Preto e uma em Campos do Jordão, o Slow Brew passou com louvor pela prova de estrear na gigante São Paulo – com pessoas vindo de 252 cidades do país exclusivamente para o evento – e se torna, desde já, um dos festivais cervejeiros mais bacanas do país. Com mais “raridades”, “lançamentos” e “experimentações” do que a edição 2016 em Campos do Jordão, o Slow Brew São Paulo alcançou a marca de 17 mil litros de chope consumidos por um público que, com toda certeza, já colocou a data de 03 de novembro de 2018 na agenda, que irá acontecer “no mesmo lugar, no mesmo horário”, segundo a produção. Que o tempo passe rápido porque o povo tem sede. Parabéns, Slow Brew Brasil.
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