texto por Bruno Lisboa
fotos por Flavio Charchar
Realizado em Belo Horizonte desde 2010, o Transborda é o melhor festival da capital mineira e o motivo é simples: com uma curadoria atenta, o evento tem anualmente em seu line up o supra sumo do que de melhor a música brasileira tem produzido. Como se não fosse suficiente, a organização tradicionalmente promove discussões pertinentes sobre o mercado da música, e a edição deste ano não foi diferente juntando em rodas de conversa nomes como Mauricio Pereira (Os Mulheres Negras), Adriano Cintra, Lúcio Ribeiro, Beatriz Araújo (Natura Musical) e Karla Megda (Sympla), entre muitos outros.
Unindo as mais variadas vertentes da música, o Transborda 2017 foi realizado entre os dias 08 a 12 de agosto, ocupando dois espaços em duas fases: na primeira, a casa de shows A Autêntica recebeu o Sonâncias (de 08 a 11/08), ciclo de conversas e debates que tinha como foco neste ano discutir a sustentabilidade no meio musical de pequeno e médio porte nos dias atuais. Após as conversas de cada dia, duas apresentações encerravam os e bate-papos. Já a segunda culminou no festival propriamente dito, um grande evento de rua com diversas atrações musicais, tendo a Lagoa da Pampulha como coadjuvante.
Iniciado de maneira pontual às 16h do sábado (12/08), as apresentações no palco principal do Festival Transborda foram iniciadas pelo quarteto mineiro El Toro Fuerte, que trouxe ao evento sua sonoridade oscilante entre o math rock e emo com ares lo-fi. O set foi amparado pelo disco de estreia, “Um Tempo Lindo Para Estar Vivo”, um álbum agridoce lançado no ano passado, resultando num belo show que ia de momentos silêncios ao mais esporrentos.
Na sequência, os conterrâneos do Young Lights tocaram ao entardecer. O público, que começava a chegar num maior número, pode presenciar a banda de indie rock liderada por Jairo Horsth em ótima fase. O repertório trouxe a tona não só o novo single, “Understand, Man” (que deve figurar no novo álbum prometido para outubro deste ano), mas também tinha canções do álbum “Cities” e do EP “Na Early Winter”.
Seguindo a linha diversificada proposta pela curadoria, o grupo Pequeno Céu colocou o público para dançar ao som de uma sonoridade peculiar que une jazz, samba, música africana e post-rock e que lembra, ema alguns momentos, os também conterrâneos do Iconili. A apresentação foi calcada em “Praia Vermelha”, disco lançado em abril deste ano, e desde já figura fácil entre os melhores álbuns instrumentais de 2017.
A primeira atração “estrangeira” a pisar no palco do Transborda foi Iara Rennó. A cantora, que tem eu seu currículos composições para Elza Soares e Ney Matogrosso, realizou a apresentação em formato trio amparada pelo repertório de seu elogiado álbum duplo lançado em 2016, “Arco” e “Flecha”. Canções como “Mama-me” e “Sonâmbula” foram alguns dos pontos altos desta noite que ainda teria maiores surpresas.
Com a rua tomada, em número de pessoas e em energia, o rapper Djonga atendeu as expectativas com uma ótima apresentação. Amparado pelo ótimo disco recém-lançado, “Heresia”, o músico alinhou o seu forte discurso das ruas com uma presença de palco enérgica. Com o público nas mãos e em tom de reverência, Djonga incitou a participação dos presentes que, em tom de reposta, bradaram muitos dos versos complexos do álbum. Os comparsas da DV Tribo, coletivo do qual ele faz parte, também compareceram naquela que seria a melhor apresentação da noite.
Encerrando os trabalhos do festival, os potiguares do Far From Alaska estrearam “Unlikely”, seu mais novo disco, em Belo Horizonte. A pesada apresentação foi calcada no segundo álbum do grupo, mas também houve espaço para faixas do disco de estreia, “modeHuman” (2014). O entrosamento de Emmily e Chris, as vocalistas do grupo, impressiona, e o resultado é uma performance enérgica. O single mais recente, “Cobra”, e faixas como “Dino vs dino”, do primeiro disco, destacaram-se e colocaram pontos finais.
Em sua sexta edição, o Festival Transborda promoveu 12 shows em quatro dias e alcança o status de não só um festival excelente por tudo que propõe, mas também necessário em um cenário repleto de jovens artistas a procura de espaço e público, o que o codinome “festival de música emergente” casa a perfeição. Se a música brasileira (em geral, e a mineira, no particular) vive hoje um de seus melhores períodos, nada mais justo que a capital do estado ter um festival à altura que dê visibilidade e espaço a quem merece. Vida longa ao Transborda. E parabéns a equipe! Mais uma vez, um grande festival.
– Bruno Lisboa (@brunorplisboa) é redator/colunista do Pigner e do O Poder do Resumão.