por Marcelo Costa
M. Night Shyamalan é um gênio. Ok, ok, peguei pesado, né. Bem, vejamos. Shyamalan ganhou destaque no cinema com seu terceiro filme, “O Sexto Sentido” (1999), fábula sobre um menino que via pessoas mortas, responsável por um dos finais de filme mais geniais dos últimos 15 anos, no mínimo. “O Sexto Sentido” foi indicado ao Oscar de melhor filme, Shyamalan teve roteiro e direção citados, Haley Joey Osment (o tal menininho) quase papou o Oscar de coadjuvante e muita gente começou a levar Bruce Willis a sério. Shyamalan conseguiu praticamente o impossível em seu terceiro filme.
No ano seguinte veio as telas “O Corpo Fechado”. Seguindo a linha suspense, o diretor criou outra fábula, aqui amparada em quadrinhos. A eterna luta entre o bem e o mal, blá blá blá. Bruce Willis, novamente, é o único sobrevivente de um descarrilamento de trem. O fato de ter sobrevivido a tragédia faz nosso amigo questionar sua invulnerabilidade. O argumento novamente cita o inacreditável, mas quem não se liga muito no universo de quadrinhos acaba achando o filme menor, já que a história funciona como adaptação de um herói qualquer. Se “Sexto Sentido” era nota 10, este “Corpo Fechado” fica na nota 7. Shyamalan sai devendo. Um filme excelente e um mediano. A prova dos nove fica para o terceiro, “Sinais” (“Signs” – 2002), não a toa, o filme que encerra o que a imprensa tem chamado de “Trilogia do Medo”.
“Sinais” repete a formula Shyamalan de cinema, o que já é um ponto e tanto para um diretor tão novato. Pegue um tema sobrenatural, coloque uma pessoa perturbada no papel principal e uma criança dócil e inocente para posar de filho correlacionando em importância os dois papeis. Escreva uma história com um q de possível, amarre tudo isso em um bom roteiro e, tchan tchan tchan, temos um excelente filme.
Graham Hess (Mel Gibson) era padre até perder a mulher em um acidente automobilístico. Com ela, o padre também perde sua fé, abandona a igreja e decide tocar sua fazenda, com um casal de filhos pequenos e seu irmão mais novo. Tudo segue bem até que Graham nota algo estranho em sua plantação de milho: um enorme círculo milimetricamente redondo e que, percebe-se, não poderia ter sido feito por humanos. Olhando de cima, vemos uma seqüência de sinais.
Desse ponto em diante somos apresentados a família Hess: o menino Morgan (Rory Culkin) sofre de asma; a menina Bo (Abigail Breslin) tem problemas com água, além de visões; o irmão Merril (Joaquin Phoenix) é um ex-jogador de beisebol, problemático. Estas poucas informações de cada personagem tem tudo a ver com o desenrolar da trama, genial, quando nos veremos frente a frente com seres de outros planetas. Anote.
Se em seus dois filmes anteriores, Shyamalan amparava o inacreditável em seres humanos (um homem morto em fase de transição em um, um homem “inquebrável” em outro), em “Sinais” a fé é testada com alienígenas. Mais do que discutir se a forma é esta, o diretor quer provar que não existem coincidências, amarrando o filme todo de forma detalhista e ultra-maxi-hiper genial. Assim, o que importa é se você acredita ou não em purgatório (“Sexto Sentido”), em pessoas iluminadas com um dom divino (“Corpo Fechado”) tanto quanto em seres extra-terrestres (“Sinais”). Os três objetos do diretor são tão sobrenaturais um quanto os outros e se não funcionam no mundo real (ok, ok, há controvérsias), na sala de cinema angustiam, assustam e empolgam.
M. Night Shyamalan é gênio. Vem sendo comparado a Steven Spielberg (revista “Time”) e Alfred Hitchcock (o jornal “The New York Times”) não a toa. Se colocarmos em questão que poucos diretores novos tem surgido com histórias geniais para contar, Shyamalan se destaca. Quentin Tarantino parou no segundo filme, “Pulp Fiction” (“Jackie Brown” é auto-cópia). Talvez, no mesmo nível de Shyamalan esteja Paul Thomas Anderson que após o bacana “Boogie Nights – Prazer Sem Limites” e o belo “Magnólia”, lançou “Punch-Drunk Love”, ainda inédito no Brasil.
O fato é que Shyamalan lançou, em cinco anos, três filmes arrebatadores, acima da média e, principalmente, com estilo. Nas três obras em questão podemos ver a mão do diretor, o traço do roteiro, a genialidade das histórias. Em tempos de cinema feito para vender artistas, Shyamalan vende histórias (ele não só dirige como escreve e roteiriza seus filmes). E, melhor, histórias que ficam, não só por serem contadas de forma genial, mas também por ampararem-se tanto no sobrenatural quanto no possível.
Injetando inteligência em uma arte cada vez mais preocupada com bilheterias, Shyamalan é o homem, pois consegue, ainda, sucesso de crítica e público. Coincidência? Não, caro leitor, não existem coincidências.
Numa palavra: filmaço.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.