por Renan Guerra
“O Grande Encontro – 20 anos”, Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo (Sony Music)
Este reencontro marca os 20 anos do show clássico de 1996 que reuniu no palco Elba, Alceu, Geraldo e Zé Ramalho, lançado em disco no mesmo ano. Depois de um disco de estúdio e mais um ao vivo, ambos sem Alceu, agora quem não dá as caras é Zé Ramalho. Com essa formação inédita, o que o trio faz é um rememorar das canções já gravadas e regravadas nos encontros anteriores, com poucas novidades. Mesmo assim é encantador rever os três sobre o mesmo palco a cantar clássicos tão fortes como “Anunciação”, “Sabiá” e “Chão de Giz”. É, de certo modo, compreensível que eles caminhem apenas por estradas já atravessadas, pois o público vai ao Grande Encontro sempre em busca das mesmas canções e não há decepção para quem já se encantou com os encontros anteriores, porém os momentos em que eles se aventuram por repertórios distintos, isto é, faixas que não constavam nos outros discos, provam que eles poderiam renovar faixas quase esquecidas de suas próprias carreiras, vide a beleza que é “Cabelo no Pente”, interpretada por Alceu. Das novidades incluídas no repertório, vale atenção à interpretação de “Sangrando”, que ganha novo fôlego na voz de Elba. A clássica “Tesoura do Desejo” aparece apenas como bônus no DVD, o que é quase injusto com a interpretação certeira de Elba. No todo, o encontro de 20 anos é realmente um deleite para quem já é interessado no universo do trio, porém não soa atrativo para não-iniciados.
Nota: 7,5
“Abraçar e Agradecer – Ao Vivo”, Maria Bethânia (Biscoito Fino)
“Abraçar e Agradecer” segue fielmente seu título: é como uma carta de agradecimento de Bethânia aos seus fãs e a todos que acompanham sua trajetória. Não traz grandes novidades ou mudanças bruscas de rota, mas deixa claro que o repertório de Bethânia ainda pulsa, passeando de forma sábia por seus 50 anos de carreira, indo desde uma versão instrumental da clássica “Carcará” até se aproximar dos compositores mais modernos que a acompanham. E são em seus compositores mais clássicos que ela se deleita: Chico, Caetano, Dorival Caymmi, Gonzaguinha, entre outros. Em quase duas horas de show, ela passa por faixas como “Motriz”, “Oração de Mãe Menininha”, “Rosa dos Ventos” e “Gita”, além das suas clássicas leituras, que incluem textos de Clarice Lispector, Waly Salomão e Carmem L. Oliveira. A surpresa fica pela interpretação de “Non Je Ne Regrette Rien”, cantada num francês bem santamarense e entremeado pela declamação de uma versão traduzida da faixa. Destaca-se ainda no DVD a delicada introdução, que apresenta todo o ritual de preparação da cantora antes do show, narrado por sua amiga íntima Renata Sorrah. “Abraçar e Agradecer” não soa instigante para aqueles não muito afeitos ao misé-en-cene de Bethânia, mas com seu cuidado técnico e a qualidade do espetáculo em si é um deleite para o fãs da Abelha Rainha.
Nota: 8,5
“Mãeana no MAM – Ao Vivo”, Mãeana (Sony Music)
Mãeana é Ana Claudia Lomelino, vocalista do Tono, que lançou seu disco de estreia solo em 2015. Gravado no início de 2016, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, este DVD registra de forma suntuosa todo o universo de Mãeana: com sua voz suave e seu onirismo, são em seus jogos de luzes, figurinos kitsch e ornamentações bufantes que tudo ganha brilho novo. Com cenários e figurinos construídos pela própria Ana, em casa, com materiais múltiplos (de papel celofane a bonecas), o registro em vídeo é fundamental para que o universo criado em torno dessa persona chegue a um público ainda maior. Em sua nave espacial (que parece uma homenagem torta à Xuxa dos anos 80), Mãeana revisita o repertório de seu primeiro disco, com faixas autorais e de gente como Caetano Veloso, Rubinho Jacobina e Adriana Calcanhotto (compostas especialmente para esse universo ufológico da artista). Acompanhada de Domenico Lancelotti, Stephane San Juan, Bruno Di Lullo, Mestrinho e Bem Gil (seu marido), Mãeana propicia uma viagem que passeia por esse universo de feminilidade nada óbvio, que vai da maternidade ao amor romântico sem cair em chavões. Do repertório, vale destacar “Filho Bonito”, versão que Gilberto Gil fez da faixa “Beautiful Boy”, de John Lennon.
Nota: 9
– Renan Guerra é jornalista e colabora com o sites You! Me! Dancing! e Scream & Yell.