por Marcelo Costa
Abrindo a segunda série de cervejas da Bierland, de Blumenau, com a American IPA da casa, já com a linha de rótulos repaginada. Faz jus ao estilo, a cervejaria usou apenas lúpulos made in USA na receita, e o resultado é uma cerveja de coloração âmbar alaranjada com creme branco de boa formação e longa retenção. No nariz, tudo o que se espera de uma boa American IPA: frutas cítricas pulando para fora do copo (manga, maracujá, tangerina, acerola e toranja), presença perceptível de notas resinosas (mas suaves) e também de notas herbais (pinho). Na boca, a textura é seca e picante. O primeiro toque mostra a potência da lupulagem, que oferta notas cítricas deliciosas e herbal suave sobre uma base doce de malte que é atropelada pelo amargor, potente e respeitando os 57 IBUs antecipados pela casa. Dai pra frente, um rastro de amargor passeia por uma fazenda de frutas cítricas. O final é amargo, mas suave. O retrogosto, por sua vez, traz manga, maracujá e toranja além de um leve terroso. Muito boa!
A Bierland Strong Golden Ale busca prestar homenagem a esse famoso estilo belga que tem como principal característica o alto volume de álcool que, ainda assim, soa imperceptível no aroma e no paladar. De coloração amarela com leve alaranjado e creme branco de média formação e rápida dispersão, a Bierland Strong Golden Ale exibe o uso excessivo da levedura em primeiro plano (costumo dizer: “Sabe quando a levedura cheira fermento em pó?”), que não tira o brilho de uma paleta aromática que oferece frutado, leve condimentado e sugestão de vinho branco, mas devia ser mais suave. Na boca, textura seca e picante. O primeiro toque oferece cítrico agradável, rápida doçura e vinho branco interessante com leve condimentação. O amargor é levemente “alcóolico” e, dai em diante, uma cerveja que, como todas as grandes Strong Golden Ales, melhora muito quando aquece na taça. O final é doce e cítrico enquanto o retrogosto oferece mais doçura, mais frutado cítrico e quase nada de álcool. Muito boa.
Terceira da série, a Bierland 1516 é uma colaborativa dos catarinenses com os italianos da Doppio Malto, que resultou em uma German Rauchbier cujo nome visa homenagear o ano da promulgação da Lei da Pureza Alemã. De coloração âmbar acastanhada com creme bege claro de boa formação e média alta permanência, a Bierland 1516 exibe um aroma com defumação interessante em primeiro plano sobrepondo-se à doçura caramelada do malte, que, discreta, fica na retaguarda acompanhada de toffee. Na boca, textura cremosa. No primeiro toque, reforço do domínio do defumado com caramelo e toffee na sequencia. O amargor é baixo e defumado abrindo as portas para um conjunto que favorece a defumação deixando a doçura caramelada na base, bem discreta. O final é maltado. No retrogosto, mais defumação, doçura de caramelo e leve condimentação. Boa.
A Bierland Witbier (antes conhecida por Oceânica e campeã do Concurso Cervejeiro Caseiro Bierland 2013) presta singela homenagem a Pierre Celis, que criou a Hoegaarden renovando a vida de um estilo que estava praticamente esquecido na Bélgica. De coloração dourada (mais para Blue Moon, a witbier made in USA, do que para Hoegaarden) com creme branco de baixa formação e retenção, a Bierland Witbier apresenta um aroma com condimentação derivada tanto da levedura quanto da adição de casca de laranja, semente de coentro e gengibre ralado em primeiro plano com suave doçura de trigo e mel na base. Na boca, textura seca e levemente picante. O primeiro toque reforça a pegada da condimentação (com auxilio da levedura) destacando o gengibre. O amargor é bastante baixo e, dai pra frente, surge um conjunto refrescante com final marcado pela condimentação. No retrogosto, semente de cravo, gengibre e cítrico puxado para limão. Ok.
Para fechar, uma parceria da casa com Vinicius Carpentieri e Gabriel Kollross, de Florianópolis, vencedores do 4º Concurso Cervejeiro Caseiro Bierland e responsáveis pela Bierland Prosa, American Barley Wine lançada em 2016 e já com uma medalha de ouro no rótulo conquistada no South Beer Cup (e um bronze no Festival Brasileiro da Cerveja, em Blumenau). De coloração âmbar caramelada com creme bege clarinho de média baixa formação e retenção, a Bierland Prosa exibe um aroma notadamente alcoólico (10%) com percepção de doçura de caramelo intensa, toffee e cítrico médio. Na boca, textura melosa, quase licorosa, e picante (de álcool). O primeiro toque confirma a pegada alcoólica trazendo consigo caramelo, cítrico e casca de laranja. Dai pra frente, uma cerveja que promove um encontro interessante de caramelo, cítrico e álcool para se beber devagarinho. O final é quente. No retrogosto, mais calor, cítrico, caramelo e leve condimentado.
Balanço
A ótima cervejaria catarinense marca presença nesse segundo passeio com sua belíssima American IPA, que, além de fresca, respeita todos os atributos sensoriais da escola norte-americana. Muito boa! A Bierland Strong Golden Ale me decepcionou no começo, com muito fermento exposto, mas me impressionou no final, equilibradíssimo. Saldo de cerveja excelente. A Bierland 1516 é uma boa Rauchbier exibindo defumação de forma assertiva enquanto a Bierland Witbier é uma Belgian Wheat um tiquinho mais arisca do que o padrão, mas ainda assim ok. Fechando a série, a Bierland Prosa é uma porrada alcoólica que ainda oferece caramelo e cítrico. Muito boa, mas aconselha-se dividir a garrafa (não consegui beber uma inteira sozinho, não só pelo álcool altamente perceptível, mas também pela união de caramelo com cítrico o que sugere uma compota de fruta que me soou levemente enjoativa). Boa, mas beba com mais moderação que as demais.
Bierland American IPA
– Estilo: American IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.5%
– Nota: 3.40/5
Bierland Strong Golden Ale
– Estilo: Strong Golden Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3.43/5
Bierland 1516
– Estilo: Rauchbier
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.31/5
Bierland Witbier
– Estilo: Witbier
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5.2%
– Nota: 3.01/5
Bierland Prosa
– Estilo: American Barley Wine
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 10%
– Nota: 3.31/5
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