por Marcelo Costa
Uma das micro cervejarias mais elogiadas de 2012/2013, a Invicta, de Ribeirão Preto, comemora dois anos com um lançamento especial, e polêmico, a Invicta 1000 IBU. O IBU é o International Biterness Unit, escala que mede o amargor de uma bebida. Uma Brahma, por exemplo, fica entre 10 e 15 IBU. Uma autêntica pilsen tcheca chega a 35 de IBU. Essa Invicta 1000 IBU, porém, não tem tudo isso de amargor. Com a palavra, o mestre cervejeiro da casa ribeirão-pretana, Rodrigo Silveira, em aspas publicadas no blog Maria Cevada: “Ela foi calculada pra 1000 IBU, mas como cervejeiro e engenheiro, tenho que saber que é impossível chegar aos 1000 IBUs, a cerveja satura. Pelos cálculos matemáticos que usamos para fazer a cerveja, ela foi planejada para ter 1000 IBUs, a carga de lúpulo é para isso, mas se for feito um teste em laboratório, é claro que não vai ser 1000 IBUs”.
Phil, do blog Noticias Cervejeiras, foi ainda mais didático em um post sobre o caso (leia aqui), e embora Rodrigo Silveira defenda-se dizendo que “o legal da cerveja não é a questão dela ter ou não 1000 IBU’s, isso a gente até explica no contra rótulo” (veja o rótulo aqui), a grande polêmica em torno da Invicta 1000 IBU é que ela induz o consumidor ao erro, muitas vezes acreditando ele estar diante de uma cerveja extrema, talvez a cerveja mais extrema já feita. Não é. A Invicta 1000 IBU se coloca lado a lado com dezenas de bons exemplares de Imperial India Pale Ales, e até soa menos amarga que algumas outras, como a Double IPA da Great Divide ou mesmo a Double Pale Ale da Flying Dog e a Anderson Valley Heelch O’Hops – nenhuma delas alcançando 100 IBU. É uma bela Imperial IPA brasileira, mas não tem 1000 IBU. Abaixo, leia sobre ela e outros dois rótulos da Invicta.
A Invicta German Pilsener é uma interessante releitura do pessoal de Ribeirão Preto, que criou uma receita com malte de cevada, malte Viena e malte de trigo, lúpulos Perle, Tettnanger e dry-hopping de Spalt. O resultado é uma cerveja de coloração palha, espuma branca de ótima formação e média permanência. No aroma, forte sensação de trigo, cereais e suave presença de notas herbais (grama) derivadas do lúpulo. Há uma leve percepção de diacetil, que não compromete o conjunto, mas está presente. O paladar (de textura leve e corpo idem), como uma boa pilsener, traz amargor em primeiro plano (IBU 35), e o exército de malte na sequencia equilibrando a experiência com trigo e cereais. O adjetivo pão liquido cai bem aqui. O final é amargo, refrescante e maltado enquanto o retrogosto, amargo e levemente adstringente, não deixa você esquecer que bebeu uma German Pilsener. Bela representante do estilo.
Cerveja colaborativa entre a cervejaria ribeirão-pretana Invicta e a carioca 2cabeças, a Saison à Trois é inspirada nas Farmhouse Ales que os trabalhadores do campo bebem durante o verão no sul da Bélgica e não contêm adjuntos nem conservantes. A receita mistura maltes de cevada e trigo, levedura belga, o lúpulo neozelandês Motueka e sementes de coentro resultando em uma cerveja levemente dourada e turva, devido a não filtração, que apresenta uma boa formação de creme, de média permanência. No aroma, notas picantes derivadas do coentro tomam a frente. Na retaguarda, floral, herbal (grama, feno) e leve cítrico compõe um belo painel olfativo. No paladar, o corpo é leve e a textura suavemente frisante, com leve adstringência. O primeiro ataque traz picância derivada do coentro e da levedura, um leve amargor de lúpulo e sensação herbal (feno), quase ao mesmo tempo. Há ainda leve cítrica que remete a laranja e abacaxi. O final é seco e refrescante e o retrogosto levemente cítrico num belo exemplar nacional do estilo. Que venham mais parcerias.
Chegamos então à Invicta 1000 IBU, uma receita que traz três variedades de lúpulos na fervura (Magnum, Nugget e Cascade) e uma no dry-hopping (Simcoe). Há certo consenso de que o paladar humano não distingue amargor acima de 100 IBU (alguns até baixam esse número para 60), o que torna a experiência da Invicta 1000 IBU ainda mais interessante. Turva e de coloração âmbar, a Invicta 1000 IBU apresenta uma espuma de ótima formação e alta permanência. No aroma, a intensa carga de lúpulos faz um excelente trabalho distribuindo notas cítricas (maracujá e acerola), intenso herbal (grama e mate) e sugestão de resina. A alta lupulagem não esconde o caramelado do malte, que fica em segundo plano, mas está presente. O paladar é intensamente amargo (cítrico, herbal e resinoso), mas não espere algo acintoso: a força da Invicta 1000 IBU está mais ligada à permanência do que intensidade. Desta forma, o amargo riscará a garganta e irá ficar no final, no retrogosto seco e coloca mais um par de minutos. Um baita soco (como sugere o rótulo) de uma cerveja extrema… e excelente.
Invicta German Pilsener
– Produto: German Pilsener
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,5%
– Nota: 3,09/5
Saison à Trois
– Produto: Saison Farmhouse Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,8%
– Nota: 3,45/5
Invicta 1000 IBU
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3,85/5
Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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