por Mac
Faz seis semanas que “In Rainbows” crava as dez músicas mais ouvidas da rádio Last FM. Então você questiona: isso lá significa alguma coisa? Bem, os números respondem isso. Em seis semanas (42 dias), o Radiohead foi executado pela Last FM nada menos do que 11 milhões de vezes (número preciso: 11.594.424 execuções). “15 Step”, a música que abre “In Rainbows”, já foi ouvida 760 mil vezes pelos usuários cadastrados no site. “Videotape”, a faixa que encerra o álbum, teve 620 mil execuções. Esses números são assustadores… pra mim.
A segunda coisa que tenho para falar sobre o Radiohead diz respeito ao livro estampado neste post: “Beijar o Céu”, de Simon Reynolds. O livro traz muitas matérias bacanas, mas a do Radiohead é sensacional. Escrita originalmente para a The Wire britânica, a reportagem (que foi capa da revista) ocupa 30 páginas do livro, e traz dezenas de momentos memoráveis de jornalismo pop. Abaixo transcrevo alguns:
1) “Talvez seu primeiro pensamento quando pegou este número da The Wire tenha sido ‘que porra é essa?’, e talvez seja uma reação compreensível. Afinal, o Radiohead é um grupo que conseguiu vendas multiplatinadas em 50 países. Não fiz as contas (não sou tão louco), mas considero perfeitamente concebível que as vendas totais de cada artista que aparece nesta edição da The Wire, somadas, talvez não passe as vendas globais de ‘Ok Computer’, o maior álbum do Radiohead. E existe um argumento forte de que uma banda com esse tipo de peso comercial e tal nível de consenso no mainstream simplesmente não tem lugar na capa de uma revista desse tipo, conhecida por lutar pelos dissidentes e pelos que estão a margem.
Só que o Radiohead, eu insisto, fez por merecer. Considere os fatos: no final do ano passado, três álbuns rejuvenesceram o conceito moribundo do pós-rock. ‘Agaetis Byrjun’, do Sigur Ros; ‘Lift Yr. Skinny Fists Like Antennas To Heaven’, do Godspeed You! Black Emperor; e ‘Kid A’. (…) Acontece que só um dos membros desse triunvirato do pós rock entrou no primeiro lugar das paradas de álbuns mais vendidos do Reino Unido e dos EUA. (…) O fato é que o Radiohead opera hoje como embaixador do mainstream para muitas das coisas que essa revista estima”.
2) Jonny Grrenwood fala: “Quando saíram as críticas de ‘Kid A’, nos acusando de sermos difíceis de propósito, eu falei: ‘Se isso fosse verdade, teríamos feito um serviço muito melhor’. O disco não é tão complicado assim – tudo ainda tem quatro minutos de duração, é melódico”.
3) Thom Yorke fala: “Estamos muito felizes porque, dois dias atrás, o Jonny deu uma entrevista para um jornal brasileiro e a primeira pergunta foi: ‘O que você achou do Noel e do Liam dizerem que ‘Kid A’ foi uma monumental covardia?’ Não sei o que isso quer dizer, mas quem se importa, a gente falou YES, finalmente deixamos eles putos”.
4) Talvez o comentário de “covardia” dos irmãos Gallagher esteja relacionado à ideologia central do britpop, de fazer-sucesso-a-qualquer-custo. Essa retórica de ter as paradas de sucesso como alvo, afinal, denigre os velhos ideais do indie rock como derrotista, obscurantista, elitista até. Não só “Kid A” ressuscitou um conceito diferente de ambição – amadurecimento artístico contra explosão comercial – mas também interferiu no destino “correto” do Radiohead: tornar-se uma megabanda tipo U2 fase “The Joshua Tree” (…)
Espécie de álbum semiconceitual sobre a tecnologia e a alienação, a magnitude de “Ok Computer” – em termos de som, temática e aspiração – fez o britpop pagar por seus erros, substituindo seu anti-intelectualismo juvenil e seu hedonismo vazio pelo glamour da literatura e da angústia. Noel e Liam têm razão em se sentirem incomodados: o Radiohead é o anti-Oasis, é o enorme sucesso de “Ok Computer” ofuscando “Be Here Now”, o álbum dos irmãos Gallagher inflado e arruinado pela cocaína.
Ps. Eu queria colocar mais trechos, mas o texto é graaaaaaaaande e tem muita coisa imperdível… risos