por Bruno Capelas
Uma “velha banda nova”. Com mais de uma década de estrada e muitos fãs em Porto Alegre (mas desconhecidos fora da capital gaúcha), a Dingo Bells chega ao primeiro disco apenas em 2015. “Fazer um disco demora um pouco mais do que fazer um tweet, né?”, brinca Diogo Brochmann, guitarrista da banda, que no começo do ano lançou seu trabalho de estreia, “Maravilhas da Vida Moderna”. Produzido por Marcelo Fruet (Pública, Apanhador Só), o álbum se destaca por dois grandes fios condutores: a sonoridade que remete diretamente aos anos 1970, e a ironia existencial que permeia boa parte de suas letras – tudo embalado em uma abordagem pop.
“Queremos agradar ao cara que gosta de comprar fone de ouvido para ouvir música em casa, mas ao mesmo tempo queremos tocar no rádio e soar diretos e acessíveis para alguém que justamente não esteja prestando atenção”, comenta o baixista Felipe Kautz – completa a formação da banda o vocalista e baterista Rodrigo Fischmann. Os três bateram um papo animado com o Scream & Yell no início de junho, nas mesas coloridas da lanchonete do Centro Cultural São Paulo, dias antes do show de lançamento de “Maravilhas da Vida Moderna” no capital paulista.
Financiado por uma campanha de crowdfunding que pediu R$ 20 mil – e arrecadou 20% a mais que o almejado –, “Maravilhas da Vida Moderna” já foi descrito por aí como representante da “nova música gaúcha” e “um disco para quem está entre os 25 e os 35”. Na entrevista, o trio – que toca junto desde o Ensino Fundamental e hoje beira os 30, como evidencia a canção “Mistério dos 30” – comenta as duas declarações. Para Felipe Kautz, “o rock gaúcho já não é feito no Rio Grande do Sul há muito tempo”, enquanto Rodrigo (que é irmão de Ricardo Fischmann, um dos cabeças de outra boa banda pop gaúcha, a Selton) vê que “a identificação etária não é uma regra, mas que depende muito mais da fase de vida do ouvinte”. No embalo do tema, o trio é um dos integrantes do tributo “Espelho Retrovisor”, em homenagem aos 30 anos dos Engenheiros do Hawaii, disponibilizado pelo Scream & Yell.
Outro destaque de “Maravilhas” é o seu arrojado projeto gráfico, que envelopa o disco em uma caixa de 24x24cm e traz quatro diferentes capas, que o ouvinte pode trocar ao seu próprio gosto. “Hoje, a maioria das pessoas pega um CD e nem tem onde ouvir: ou leva pra escutar no carro, ou joga num canto e acaba baixando as músicas. Ao fazer um objeto diferente, queríamos que o ouvinte criasse uma relação diferente com o objeto”, explica o guitarrista. Neste segundo semestre, a Dingo Bells percorre o Brasil em turnê conjunta com os baianos da Maglore, também de disco novo na praça.
No papo a seguir, a banda fala mais sobre seu caminho até “Maravilhas da Vida Moderna” (que pode ser baixado gratuitamente no site oficial), explica alguns nomes, lembra como foi abrir para o beatle Ringo Starr e conta como surgiram canções existenciais e ganchudas como “Eu Vim Passear” e “Dinossauros”, pontos centrais de um disco que começa feliz e aos poucos vai se tornando contemplativo. “A melancolia é algo que a gente aprecia bastante”, avisa Rodrigo. Senhoras e senhores, apertem os cintos: esta é mais uma viagem de bordo das maravilhas da Dingo Bells.
Vocês são uma banda com mais de uma década de estrada, mas só agora chegaram ao primeiro disco. Antes de saber por que demorou tanto tempo, quero entender a história da Dingo Bells até chegar no “Maravilhas da Vida Moderna”.
Felipe Kautz: Nós três estudamos na mesma escola e passamos a frequentar também a mesma escola de música. Como era uma escola pequena, nós tínhamos contato diário, e aí começou a rolar um intercâmbio de sons…
Diogo Brochmann: A gente tinha uns 12, 13 anos, estava ali na porta do Ensino Médio. Nós começamos a compor, mas normalmente a gente fazia muito cover no começo.
Do que vocês costumavam fazer cover?
Felipe: Led Zeppelin, Pink Floyd, Beatles. E na época tinham saído os primeiros discos do Kings of Leon, que tinha trazido uma coisa mais old school que não aparecia muito na época. Essa fase de covers foi bem breve. Logo depois começamos a compor nossos sons, ainda que de maneira esparsa. Naquela época, quem compunha mais era o Rodrigo, e a gente foi percebendo que havia resposta de público, havia catarse nos shows, uma comoção da galera.
Rodrigo Fischmann: Olhando para trás, existe um marco no qual a gente decide ter uma banda e fazer shows. Em 2006, foi a fase dos covers. No ano seguinte, ficamos fora do país. Quando voltamos para casa, decidimos apostar numa linha autoral, bem na época que estava começando a faculdade.
Felipe: Na época, eu tinha largado Direito para entrar em Ciências Sociais. Depois larguei a Sociais para entrar na Música, e agora a Dingo Bells talvez me faça largar a Música. (risos)
Rodrigo: Sou formado em Publicidade e Propaganda, mas não publica isso, por favor (risos). Em 2008, nasce a nossa consciência sobre o que era a Dingo Bells. Antes era só uma banda de amigos de colégio, uns moleques que estão aprendendo a tocar junto e trocam influências.
Diogo: É por isso que às vezes parece que o tempo foi muito mais longo do que realmente foi. A gente se conhece desde cedo, e a Dingo Bells foi um dos primeiros grupos de todo mundo.
Felipe: Por outro lado, vivem questionando a gente sobre a maturidade de algumas músicas. A resposta disso é tempo. Tocamos juntos há 10, 12 anos. É natural que role um amadurecimento. Hoje a gente tem 27 anos, se não tivesse amadurecido nada em todo esse tempo é porque tem algo de errado, não é? Sempre fomos melhores amigos, e levamos esse tempo todo para gravar um disco. Mas para nós foi algo natural.
Se a gente parar para analisar, vocês são contemporâneos a bandas como Selton e Apanhador Só – que já tem dois ou três discos na praça. Talvez pra quem esteja em Porto Alegre isso faça sentido, mas a Dingo Bells é uma banda “totalmente nova” para o resto do Brasil.
Rodrigo: De 2008 a 2010, nos dedicamos a tocar bastante em tudo que é lugar em Porto Alegre. Queríamos solidificar ao máximo nosso entrosamento, e que isso se refletisse nas nossas próprias músicas. Em 2010, gravamos um EP, e o produtor disse que basicamente queria registrar o que a gente já fazia ao vivo. Foi bacana, mas tudo sem muito planejamento – algo que só veio em 2013, quando lançamos o single “Lobo do Mar”. Um pouco com a ajuda da participação do Hélio Flanders, mas também foi quando tivemos assessoria de imprensa e saímos um pouco do aspecto local. Sempre tivemos consciência de que éramos desconhecidos fora de Porto Alegre. Mas por isso a gente quis dedicar o tempo que achasse necessário para ter um trabalho que valesse a pena ser lançado como primeiro disco.
Felipe: Fomos uma banda que se desenvolveu muito ao vivo: tocando na noite, você começa a pensar na sua proposta de som e em arranjos elaborados. Não consigo pensar em uma parte de uma música nossa que não tenha sido bem trabalhada, que a gente tenha largado o arranjo para lá e falado: “ok, vai assim mesmo”.
Rodrigo: Além disso, existe uma questão prática: em outros anos, queríamos lançar o disco e não tínhamos grana. Tentamos editais, e não rolou. Mais ou menos na mesma época, surgiu o crowdfunding, o que abriu para nós uma porta que não existia. Enquanto tudo isso acontecia, nós conseguimos criar o público que foi a base desse financiamento coletivo.
Na primeira vez que ouvi falar sobre a Dingo Bells, fiquei impressionado com isso: “mas como assim esses caras já estão fazendo crowdfunding no primeiro disco?”. Como é que foi esse processo? Vocês viraram os chatos do Facebook na época?
Felipe: Tínhamos esse receio, mas pedimos ajuda para o pessoal da Apanhador Só e da Selton, que passaram pelo mesmo processo antes. Por outro lado, descobrimos que se a gente ia fazer um crowdfunding, só podíamos trabalhar com uma única opção viável: vai dar certo. É um baita trabalho psicológico, e com muito planejamento: começamos a pensar no crowdfunding em outubro de 2013, e a campanha foi ao ar só no começo de maio do ano seguinte.
Rodrigo: O que nos ajudou bastante é que a Apanhador Só tinha acabado de fazer o crowdfunding deles, e eles ajudaram a popularizar o conceito. Muitos dos nossos apoiadores já sabiam o que era financiamento coletivo quando começamos a nossa campanha.
Diogo: A Apanhador ajudou a introjetar esse termo nas pessoas, e explicar que crowdfunding não é esmola nem vaquinha.
Isso é bem bacana. Hoje, acho que o termo já está mais bem explicado.
Felipe: Quem consome música independente hoje em dia sabe o que é um crowdfunding. E se não souber, financiamento coletivo é um termo que explica muito bem. Bah, é uma ferramenta que eu recomendo muitíssimo. É muito trabalhoso, mas acaba aproximando muito as pessoas. As pessoas se sentem parte, e os apoiadores acabam se tornando polos de distribuição do teu trabalho, porque eles ficam quase um ano esperando o resultado daquilo com o que eles contribuíram. Quando o disco chega, acaba sendo algo que eles querem dividir também com os amigos e os familiares deles.
E como foi a recepção dos fãs quando o disco finalmente chegou ao ar? – especialmente considerando que a Dingo Bells evoluiu bastante do primeiro EP para esse “Maravilhas da Vida Moderna”.
Rodrigo: Ao comentarem sobre o disco, o que as pessoas me passam é mais um orgulho de ver a banda chegar lá do que um choque sobre “ficar diferente”. De certa forma, existe em nós a consciência de que o EP é uma fase embrionária da banda.
Felipe: Durante o processo de produção, discutimos bastante com o Marcelo Fruet sobre isso. Obviamente, nós três gostamos muito de música e é por isso que a gente está nessa, entende? Sempre pensamos em fazer um disco que fosse direto, mas que também fosse para alguém que goste de música. Alguém que está disposto a ouvir o disco muitas vezes e descobrir os pequenos detalhes que estão por trás de cada canção. São essas coisas que tornam um disco qualquer um grande disco: a possibilidade do ouvinte de retornar e perceber os detalhes, como a gente ouve no disco, sei lá, do Queens of the Stone Age que está na tua camiseta. Bem ou mal, estamos todos no mesmo jogo: somos músicos fazendo música em 2015. A Dingo Bells está lançando o “Maravilhas”, e queremos que as pessoas sigam escutando o disco, porque nós colocamos muito por trás das gravações.
Diogo: É assim que a gente gosta de ouvir música: com atenção, usando fone de ouvido.
Felipe: Essa foi a guerra que rolou sobre o conceito do disco: queremos agradar ao cara que gosta de comprar fone de ouvido para ouvir música em casa, mas ao mesmo tempo, queremos tocar no rádio e soar direto e pop para alguém que justamente não esteja prestando atenção.
Rodrigo: O conceito de pop é muito perigoso. Se tu fala em pop, já vem muita coisa negativa para quem gosta de música.
É engraçado: uma canção pop pode ser tanto Katy Perry ou Madonna quanto ser… Beach Boys.
Diogo: O pop nem é tanto uma questão de concepção de som. É uma questão de abrangência, talvez, ou de acessibilidade.
É uma palavra mais fácil de explicar. Pensando não no campo das possibilidades, mas sim das vontades: vocês querem tocar na novela e fazer show para 50 mil pessoas?
Felipe: Eu quero ter uma abrangência grande, claro. Mas quero que o disco fosse consumido com o mesmo cuidado que a gente fez. As coisas que chegam na novela ou no Faustão são muito descartáveis e sazonais. Queremos atingir as pessoas, mas queremos que elas achem que o “Maravilhas” não é só mais um disco de verão.
Nesse processo de idas e vindas, quando foi o momento em que vocês se olharam e viram que as músicas que vocês tinham rendiam um disco?
Diogo: Parece um chavão, mas o tempo acabou… passando. Pensamos um tempão até gravar o single em 2013. Gravamos, mas e a grana para gravar um disco inteiro? Tentamos editais e não conseguimos. Paramos para pensar o crowdfunding do disco, e foram mais seis meses. Paralelamente a isso, teve a gravação: começamos em janeiro de 2014, e só mandamos o disco para a masterização em janeiro de 2015. Por outro lado, a gente se deu a alguns luxos. O “Maravilhas” é o primeiro disco que a banda gravou, e só quisemos lançar quando estivéssemos satisfeitos com todas as músicas.
Rodrigo: Poderíamos ter corrido e feito tudo com menos cuidado para lançar no final de 2014. Mas poxa, ia valer a pena?
Diogo: Acho que nós passaríamos a vida inteira ouvindo o disco e pensando que poderia ter melhorado. Não que a gente não tenha arrependimentos, mas hoje parece que não há um momento do disco que a gente não tenha trabalhado até o final.
E no que diz respeito às composições? O “Maravilhas” parece um disco conceitual, mas todo esse repertório foi feito de uma vez só?
Rodrigo: A ideia do disco já existia antes: tínhamos umas 10 ou 12 músicas, a maioria delas composta só por mim. Era uma mistura de várias fases da banda: de coisas da época do primeiro EP até canções mais recentes, pós-2013. Era um repertório que parecia uma grande colcha de retalhos. Fizemos uma demo na sala de casa e apresentamos para o Marcelo Fruet, que já tinha feito o single com a gente. Ele escutou e falou: “olha, galera, tá bem legal… mas vocês querem lançar um disco de 10 músicas e estão me mostrando 12. Isso parece um pouco prepotente! Tragam no mínimo o dobro pra gente selecionar!”.
Diogo: Foi um baque. Nunca tínhamos feito música sobre demanda, no sentido de ter um prazo específico.
Rodrigo: O que acabou acontecendo é que a gente acabou se enfurnando na casa do Rodrigo Marroni em Porto Alegre. O Marroni é um amigo nosso, e é o fotógrafo que fez a arte do disco. A gente se encontrava lá todo dia, e pela primeira vez rolou um processo diferente, com os três compondo juntos. Em um mês e pouco, acabamos tendo umas 20, 25 ideias, e 80% das músicas que foram o “Maravilhas” acabaram vindo desse período.
O que não faz parte desse “lote”?
Rodrigo: “Todo Nó”, “Dinossauros”… “Funcionário do Mês”, acho que só. Enfim: depois de acertar todo esse material, mostramos as coisas para o Fruet, e começamos a selecionar o repertório que iria para o disco. Quando fechamos o tracklist, fomos para um sítio em Viamão [região metropolitana de Porto Alegre, a 32km da capital] para fazer a pré-produção e elaborar melhor as músicas. “Fugiu do Dia”, por exemplo, pegou a estrada só com duas estrofes. Voltamos do sítio com uma demo que já tinha a proposta do “Maravilhas”: havia um conceito nessas músicas, que fala do nosso momento no mundo. Era um fio condutor que a gente não tinha pensado, mas que servia muito bem.
“Maravilhas da Vida Moderna” talvez seja um título bem explicativo, mas o que era esse conceito antes dele ganhar um nome bonito assim?
Diogo: O disco é inteiro permeado por uma certa ironia. “Maravilhas da Vida Moderna” é uma frase da música “Mistério dos 30”, e é um questionamento sobre como a gente chegou em uma certa idade e o que a gente conquistou.
Felipe: É um disco que traz as nossas inquietações. Nós somos muito amigos, temos a mesma idade e somos colegas de profissão. Os desafios que chegam até nós são muito parecidos. É quase um olhar interno de como a gente enxerga as coisas externas.
Apesar do disco ter sido concebido em um ambiente rural, eu vejo o “Maravilhas” como um álbum essencialmente urbano. É de propósito?
Rodrigo: Mais ou menos rural, né? Viamão faz parte da Grande Porto Alegre.
Felipe: Mas tinha estrada de terra para chegar lá, e às vezes a gente tinha que tomar cuidado para não atropelar uma galinha (risos).
Diogo: A gente vive em uma cidade – de maneira que é natural compor sobre isso. O campo é um lugar muito bom para o processo criativo, e quando falamos do sítio, não fazemos apologia a uma coisa bucólica.
Rodrigo: Talvez de forma inconsciente, a gente tenha saído da cidade para refletir sobre o que é a vida na cidade. Mas não foi uma busca. Se isolar no campo é o ideal para o processo criativo – pelo menos o nosso, sem celular por perto nem nada que incomodasse.
Há algum tempo, vocês foram parte de uma reportagem d’O Globo sobre a “nova música gaúcha”. Como é essa tal de “nova música gaúcha”? O que ela tem a ver com o que a gente conhece do rock do Rio Grande do Sul?
Rodrigo: Acho que a gente não se propõe a fazer nada que seja “rock gaúcho”. O rock gaúcho é um conceito já formado.
O que é rock gaúcho pra você?
Rodrigo: Rock gaúcho é a herança de bandas como TNT, Cascavelettes… naquela mistura de Beatles com Rolling Stones com um clima de rock’n’roll, “vamos beber cerveja e fazer barulho” e trocadilhos ruins. Mas vamos lá: alguns dos nossos professores de música foram os caras do rock gaúcho. Tivemos aula de música com o Carlo Pianta e com o Frank Jorge, da Graforreia, mas era uma época diferente. O que aquelas bandas dos anos 1980 faziam era uma coisa de liberdade juvenil. Isso foi herdado por uma segunda geração do rock gaúcho, como Bidê ou Balde, ou Video Hits, mas a herança acabou sendo mais uma questão de localidade do que pelo som parecido. Quanto às bandas da nossa geração, o que nos identifica é a busca por uma identidade. Não buscamos um som em específico, mas queremos uma música nova. Talvez hoje a “nova música gaúcha” se uma muito mais na identificação das mesmas dificuldades de carreira, mas não necessariamente em uma identidade sonora.
Diogo: Não sei muito bem explicar porque, mas parece que existe uma grande tara no Rio Grande do Sul pelos anos 1960. Claro, há outras coisas lá, mas esse lance existe e acaba formando um rótulo.
Felipe: Sim. Nós vimos Porto Alegre se transformar de uma cidade pacata em uma cidade caótica… não sei, não acho que hoje exista um compromisso sonoro específico. Cada um quer achar o seu som: nós fomos fazer um disco em Viamão, tem gente que grava na cidade. Acho até que esse próprio ranço do rock gaúcho que se fala há 30 anos é um incentivo para que as bandas achem seu próprio lance. O rock gaúcho já não é feito no Rio Grande do Sul há muito tempo.
Rodrigo: Mas ainda é. E alimentam isso. Às vezes, tu vai a algum lugar ou vai falar com algum jornalista, e esse tema sempre aparece de uma forma como se a gente tivesse de se orgulhar do passado. Quase não te dão escolha: “tu tens uma banda que toca com guitarras? Ah, tu faz rock gaúcho!” É o famoso bairrismo do Rio Grande do Sul.
Diogo: É algo que tem muito mercado lá, especialmente no interior do estado… Nada contra, mas a Dingo Bells quer ser uma banda brasileira, no sentido de ir além do Rio Grande do Sul.
Vocês querem fazer o interior do RS assim como querem fazer o interior de São Paulo, por circular e mostrar o som.
Rodrigo: É isso! Sem nenhuma diferença de importância!
Felipe: Sinceramente, eu prefiro ir para o Nordeste a ir para o interior do Rio Grande do Sul. (risos)
Vocês bateram na tecla sobre o momento em que decidiram que iam viver de música. E como funciona isso hoje?
Felipe: Nós tocamos com a Dingo Bells, tocamos com outros artistas, damos aulas de instrumentos e fazemos outros projetos musicais. Entrar de cabeça era a nossa única opção.
Rodrigo: Com a Dingo Bells, ainda estamos criando esse norte e entendendo como a coisa vai funcionar. Queremos circular bastante, criar muito público e trabalhar a receita clássica: apostar em merchandising, venda de produtos e, com um pouco mais de estrutura e tendo saído na mídia, buscar editais com bala na agulha.
Felipe: É foda: quando se trata de música independente, o sucesso é no fio do bigode. Podemos fazer sucesso no corpo a corpo, usando uma linguagem que fala com as pessoas. A partir do momento em que a pessoa se toca com algo que ouviu, a chance dela querer passar aquilo adiante é maior.
Algo que me chamou a atenção foi a ênfase que vocês deram para a participação do Marcelo Fruet na concepção do disco. Por que ele era o cara certo para ser o produtor do “Maravilhas”?
Felipe: Fora a experiência que nós já tivemos com ele em 2013, queríamos alguém que a gente pudesse confiar, mas que fosse externo a nós. A banda é muito próxima e aprendeu a tocar junto, de maneira que temos alguns vícios entre nós. A solução pode estar próxima – e nesse caso, alguém de fora como o Fruet ajuda a gente a enxergar as coisas melhor.
Diogo: Além disso, ele é muito ativo. Tem muitos produtores que costumam se focar só na parte de timbres, na técnica de gravação mesmo. Já o Fruet sabe tirar muito bem o som, mas também dá pitaco na parte artística.
Rodrigo: Queríamos alguém que fosse capaz de mexer na nossa música, a ponto de dizer para nós que uma determinada canção estava vetada.
Muito bom. Vocês comentaram que o rock gaúcho tem uma tara pelos anos 1960. No disco de vocês, eu senti que estava entrando num túnel do tempo direto para os anos… 1970.
Rodrigo: Pô, conseguimos avançar dez anos! (risos)
É de propósito? As influências de vocês vêm dos anos 1970 ou isso é só impressão minha?
Diogo: Não, acho que faz muito sentido. Talvez, no EP, por exemplo, você escutasse mais uma coisa um pouco anos 1960. Mas na época do disco, tinha muito a ver com o que a gente escutava na época.
O que vocês estavam escutando na época da gravação do disco?
Rodrigo: Steely Dan. Muito Clube da Esquina, Milton Nascimento em carreira solo, Chic, Talking Heads. São as coisas dos anos 1970.
Felipe: Os sons de bateria e os sons de baixo são muito calcados nos anos 1970. O baixo de “Eu Vim Passear” é muito inspirado no que o Bernard Edwards fazia no Chic. Foi a minha grande referência na hora de gravar.
Eu ouço “Eu Vim Passear” e penso em Dirty Projectors, nessa turma do Brooklyn…
Felipe: Que afudê! O Dirty Projectors é uma banda muito afudê.
O disco tem também uma pegada filosófica, meio existencial-espacial, que para mim tem tudo a ver com os anos 1970. De onde veio isso?
Diogo: Tem dois temas recorrentes no disco: o espaço e o mar. O encarte interno mostra o mar, e esses dois “temas” acabam sendo os ambientes mais amplos que a gente conhece hoje. São coisas vastas, que a gente se perde meio sem limite frente a nossa pequenez.
Rodrigo: São coisas que você vê no seu dia a dia de maneira fácil, e que te ajudam a te dar conta de como tu (e o ser humano) é pequeno. Essa pequenez do homem traz várias indagações que são base para o conceito do “Maravilhas”. Isso está muito presente em “Anéis de Saturno” e “Dinossauros”. Nós sempre gostamos desse tipo de imagem, mostrando que o espaço é maior do que qualquer coisa que tu pode querer ser.
Queria saber como é a relação de vocês com a Selton…
Rodrigo: (interrompe). Bem, a minha é familiar. Mas acho que você pode ligar pra minha mãe e perguntar melhor disso aí (risos).
Mais do que só isso (risos), vejo a Selton e a Dingo Bells como duas bandas muito próximas: talvez nem tanto na questão sonora, mas muito na maneira como encaram a música e a postura em frente ao pop.
Felipe: A Selton é uma banda muito próxima mesmo. Tem duas coisas que são importantes nessa proximidade: uma é a questão das harmonias vocais, e outra é a maneira como nós pensamos a música, que é uma maneira muito direta, no sentido da canção ser acessível. A Selton se propõe a fazer música pop, até enquanto gênero.
As harmonias vocais da Dingo Bells talvez sejam uma das coisas que eu mais gosto na banda. Como isso apareceu?
Rodrigo: São coisas que vieram de muito do que a gente já escutava. Afinal de contas, Beach Boys e Beatles ensinaram quase tudo o que a gente tinha que aprender na música pop. Além disso, as harmonias vocais têm a ver com o fato de nós termos tocado muito tempo como power trio na noite. O que diferenciava a Dingo Bells da crueza ou do peso das guitarras da maioria das bandas era colocar o elemento das vozes harmonizando tudo.
Felipe: É difícil às vezes fazer música só com três caras. Daí, se tu coloca três vozes, tu já está dobrando o número de instrumentos! (risos)
Rodrigo: Acho que também é uma busca por um diferencial, mesmo. Você quase não vê bandas de rock com bons vocalistas ou que se preocupam com a parte vocal.
O jornal gaúcho Zero Hora chamou o “Maravilhas da Vida Moderna” de um disco para quem está entre os 25 e os 35 anos. Quando vocês estavam compondo, vocês pensaram nessa questão geracional?
Felipe: É difícil essa pergunta. Hoje, a gente está com 27…
Rodrigo: Inclusive, nos deram outro dia uma explicação muito louca, de que aos 27 anos Saturno começa a dar a volta, e tudo na vida da gente muda.
Eu não entendo nada de astrologia, mas não é aos 29? Tem a música da Legião Urbana, “Vinte e Nove”, até…
Felipe: Putz, faltou ouvir mais Legião Urbana… não, não faltou não! Tá bom assim! (risos).
Poxa… mas voltando à questão geracional?
Felipe: Acho que é algo natural quando tu fazes uma música que se chama “Mistério dos 30”, questionando uma série de desafios que aparecem quando você tem nessa idade. A gente vive um momento de transição hoje: estamos tentando no firmar no mundo, na nossa idade. Talvez quem já tenha vencido algumas das nossas dúvidas, alguém mais velho, por exemplo, não se surpreenda tanto com o nosso som. Sei lá: eu li “Sidarta”, do Hermann Hesse, com 18 anos, e pirei. Na época, todo mundo disse que “O Lobo da Estepe” ia ser muito mais foda e tudo mais. Fui tentar ler há dois anos e não me bateu, porque eram coisas que eu já tinha superado. Talvez funcione assim.
É como o “O Apanhador no Campo de Centeio”, que é um livro certo para você ler quando tem 15 anos.
Diogo: É como ouvir Iron Maiden! Se você vai ouvir Iron Maiden com 30 anos, não pega!
Mas tem muito cara de 50 ouvindo Iron Maiden…
Diogo: Mas é porque ouviu com 15! E ficou lá.
Rodrigo: Acho que a identificação etária não é uma regra, mas depende muito mais da fase da vida da pessoa. Se você já concluiu muitas dessas coisas que a gente está questionando, beleza, talvez o disco não funcione. Não tem a ver com idade, mas tem a ver com a pessoa.
Diogo: Casualmente, a gente está chegando aos 30, mas não necessariamente isso se une com a idade que o ouvinte vai ter.
Rodrigo: Inclusive, a música “Mistério dos 30” surgiu de uma conversa que a gente estava tendo sobre a ideia que corre por aí que “os 30 são os novos 20”, e que os 40 seriam os novos 30, e assim por diante.
Diogo: Tem especialistas que defendem que isso estava atrapalhando a vida de muita gente, que deixava para se preocupar com o futuro quando já estava chegando aos 25, 27…
Rodrigo: É foda você chegar aos 30 e ver que não construiu nada porque… bem, porque os 30 são os novos 20.
Quando peguei a versão física do “Maravilhas” pela primeira vez na mão, fiquei impressionado com o encarte, especialmente pela possibilidade de mudar a capa, e pelo formato não-usual. Como foi a concepção desse projeto gráfico, ainda mais levando em consideração que ele serve a um disco pago com crowdfunding – e que tudo tem um preço?
Felipe: Nós queríamos provocar essa reação de surpresa quando o ouvinte pegasse o disco na mão. Desenvolvemos o conceito do projeto com o Rodrigo Marroni, o Léo Lage e o Lipe Albuquerque, que são os três artistas que botaram a mão na massa para criar o projeto. O Marroni e o Lipe têm um trabalho muito legal mesclando fotografia analógica em P&B com desenho, algo que se encaixava muito bem com o nome Maravilhas da Vida Moderna: são dois processos antigos unidos digitalmente. A partir disso, começamos a pirar: toda a questão da customização e da personalização dos nossos dias também está presente no projeto gráfico do disco. Se você pode escolher o teu mate com ou sem açúcar e batido com dez mil frutas diferentes, tu também pode escolher a capa do disco. Você escolhe qual das quatro capas traduz melhor o clima do disco para ti.
Mas quando vocês mandam o disco para um serviço de streaming, por exemplo, só dá para escolher uma capa. Por que vocês escolheram a do “dinossauro” pegando fogo?
Diogo: Tenho a impressão de que essa capa não foi colocada ali para ser “a capa do dinossauro”. A maioria das pessoas não entende que aquilo que está pegando fogo ali é um dinossauro. Por outro lado, por ser uma foto mais ampla, ela acaba se encaixando melhor no disco.
Rodrigo: No fim das contas, a gente tinha que escolher uma para estar na frente. É a capa que deixa mais coisas em aberto e a que entrega menos sobre o que a gente quer dizer com “Maravilhas da Vida Moderna”. Cada um sabe o que é a maravilha da vida moderna: tem gente que faz um uso muito saudável do celular, e tem gente que só se fode com ele!
Diogo: Já que a gente tinha que fazer uma capa e um projeto gráfico para o disco, a gente queria fazer algo diferente. Hoje, a maioria das pessoas pega um CD e nem tem onde ouvir: ou leva pra escutar no carro, ou joga num canto e acaba baixando as músicas. Ao fazer um objeto diferente, queríamos que o ouvinte criasse uma relação diferente com o objeto.
Eu queria perguntar sobre a origem de algumas músicas. A primeira delas é “Eu Vim Passear”, que pelo menos aqui em São Paulo poderia ser um grande manifesto a favor das ciclovias e do prefeito…
Rodrigo: Pô, vamos lançar a campanha! É a música oficial do trânsito de São Paulo (risos)
Felipe: Começamos a conceber essa música como o relato de alguém que chega na Terra e observa as coisas, vendo a inversão da nossa vida. O refrão da música é super claro: “tanta gente buzinando / se esqueceu de andar / veio ao mundo por engano / eu vim passear”. Tem tanta coisa incrível acontecendo, mas às vezes você está mais preocupado em infernizar a vida de alguém e bater a mão numa buzina porque o cara da frente te fechou e por isso ele é um filho da puta. O mundo se transforma naquilo, quando na verdade tem coisas bem mais importantes acontecendo ao teu redor. Você pode ver tragédia e salvação onde quiser, a questão é só mirar certo. “Eu Vim Passear” não é um manifesto a favor da ciclovia (risos), mas sim um manifesto para você olhar ao redor das coisas que importam e que são bacanas.
Rodrigo: Esse conceito de que alguém que veio de fora, um alien ou um astronauta, é especialmente importante em alguns versos. “Disseram que a vida nesse lugar / depende da temperatura do ar”, que no caso, é o ar condicionado, “televisão, teto solar para ver / cerveja e cama para sobreviver”, como se fosse uma receita desse estilo de vida moderno.
Eu tenho que ter um carro, tenho que ter TV, cerveja e cama, e tenho que comer direitinho… essa é a receita?
Rodrigo: A gente brinca toda hora com o sal: às vezes ele é o vilão, às vezes ele é o herói da nossa alimentação.
Desculpa interromper, mas o que vocês acharam daquela capa da Veja sobre… o ovo?
Felipe: Tá liberado o ovo agora! Uhul!
Rodrigo: A gente vai trocar essa parte da música por ovo nos shows agora! (risos)
E como surgiu “Dinossauros”, provavelmente a minha favorita do disco?
Rodrigo: É uma das poucas músicas que é mais minha do que da banda, e pertence a um primeiro lote de composições. A letra é clara: “Dinossauros” fala sobre alguém que se sente à beira da extinção, à beira de uma tragédia, como se o fim estivesse próximo. Por outro lado, não é uma letra deprê: é uma letra de questionamento. “Cheguei aqui, mas e agora?”. O refrão surgiu da dificuldade de explicar (e das outras pessoas entenderem) um momento meu e da banda, que foi quando a gente resolveu que ia viver de música. As pessoas têm problemas que elas consideram reais, e às vezes não conseguem enxergar a importância que os problemas dos outros têm – mesmo que eles possam parecer menores. É daí que vem o verso “a sua imaginação esteja tão limitada por problemas reais”. Obviamente, isso é uma ideia minha que já teve milhões de interpretações… não sei nem se os guris da banda concordam. É?
Diogo: (silêncio)… é por aí!
Rodrigo: A música acaba trazendo um pouco mais para o chão todas essas metáforas, fazendo a ligação com o dinossauro e com o astronauta “de frente para a Lua”. E é engraçado, porque logo depois que eu compus essa música, o Fleet Foxes lançou “Helplessness Blues”, que tem uma temática bem parecida, essa questão existencial.
A gente já falou sobre como vocês talvez não se encaixem na ideia do “rock gaúcho”, mas ainda assim é uma surpresa a existência de uma música chamada “Bahia” no repertório de vocês.
Diogo: Não é por causa do bar da Augusta, viu? (risos)
Por que “Bahia”, então?
Felipe: É um pouco a ideia do clima. Por mais que a música seja super irônica, ao chamar esse lugar ideal de “Bahia”, acho que é quase um abraço nosso na Bahia. É um lugar muito legal que a gente acha que se encaixou perfeitamente na música, mas mais é uma ideia.
Rodrigo: No Rio Grande do Sul, existe esse imaginário de que a Bahia seja um lugar incrível. Não sei, talvez porque a gente passe muito frio, e as pessoas são mais fechadas. A Bahia é um paraíso no mundo, apesar de poder ser uma menção a qualquer lugar especificamente tropical. É uma imagem: pô, alguém mentiu para mim, fiquei chateado… vou embora pra Bahia, que lá é o lugar perfeito, vou beber água de coco.
Por que essa fixação pelo calor? (risos)
Diogo: É pela falta de calor.
Rodrigo: Poxa, mas em Porto Alegre faz muito calor!
Felipe: Talvez seja algo inconsciente que a gente não conseguiu traçar ainda. Durante a pré-produção e a gravação, estava muito calor. A gente só conseguia entrar no estúdio que a gente montou depois que baixava o sol, porque antes era fora de condição. Mas não acho que tenha sido algo consciente… é uma suposição total isso.
(silêncio). Tá bom, vamos falar do nome da banda. Era a primeira pergunta que eu deveria ter feito, mas ia ficar chato começar uma entrevista assim.
Diogo: Pô, estava só cozinhando a gente… É que a explicação não é muito legal, né?
Rodrigo: Era uma brincadeira da época do colégio, que foi quando a banda começou. Foi ficando, foi ficando…
E vocês nunca pensaram em mudar de nome?
Diogo: Quisemos várias vezes, mas já era tarde demais. Chegamos a ter uma reunião só para isso, mas todos os nomes que a gente propôs eram tão ruins quanto. Não foi um projeto que foi para frente… Quando o nome de uma banda começa a circular, aquele conjunto de palavras começa a remeter muito mais ao conceito da banda e ao som dela do que o significado original.
É engraçado, porque nesse momento que vocês estão começando de novo, eu imagino que um monte de gente olhe com o nariz torto e não leve a sério a proposta da banda.
Rodrigo: Isso não tem acontecido tanto. Já passamos por isso no RS, e agora nem tem sido algo tão forte. As pessoas não comentam mais o nome, mas comentam só o disco. Acho que a gente conseguiu ressignificar o nome Dingo Bells.
Diogo: Uma dificuldade que rola muito ainda é o lance da grafia. A gente sempre se policia para soletrar o nome da banda em todas as entrevistas.
Eu tive esse problema quando a gente gravou o podcast do Scream & Yell, e a solução que eu achei foi dizer que era que nem Ringo, só que com D no começo.
Rodrigo: Baaaaaaah! Muito boa (risos). Isso é um grande favor! (risos).
Felipe: Ou Bingo, que é mais fácil ainda. (risos)
Mas Ringo é mais legal, até porque dá para contar a história de quando vocês abriram para o Ringo Starr. Aliás, como foi isso?
Rodrigo: Foi legal, mas a gente descobriu na pele que um beatle tem muitas frescuras. Ninguém chega perto dele! E pior: o Ringo sai direto do palco para a van que vai embora, ainda no meio da última música. Nem deu chance da gente ir lá e pedir um autógrafo (risos).
Diogo: Ele pediu o nosso disco para a produção do show. O pedido foi bem claro: “levem só o disco, não levem eles”.
Felipe: Mas foi a primeira vez que a gente se deparou com um público grande. Eram mais ou menos 8 mil pessoas, e quando tu nunca encarou nada perto disso, é uma multidão infinita. Foi muito legal, porque a gente se matou ensaiando e foi uma ótima apresentação. Tem uma música nossa que tem um “lararará” no final, e o público cantou… foi incrível!
Hora da pergunta Marília Gabriela do dia: “Maravilhas da Vida Moderna” é um termo carregado de ironia. Agora, sem ironia nenhuma: quais são as maravilhas da vida moderna para vocês?
Diogo: Às vezes, são as mesmas que as irônicas. A tecnologia é um grande exemplo disso: tudo que faz bem também pode fazer mal. Uma vez, li um texto que dizia que o avanço tecnológico é muito mais rápido do que o avanço moral. Não é por falta de tecnologia que a gente não está muito bem.
Rodrigo: Estamos falando de tecnologia, mas acho que tudo que a gente vê cabe nessa ideia. Você poderia potencializar o lado humano com qualquer coisa “maravilhosa”, mas muitas vezes isso só potencializa o lado negativo. “Todo Nó” finaliza o disco com essa importância: a gente falou um monte de coisa que tu pode entender de uma forma ruim e deprê, mas não é bem assim. Existe um lado bom para tudo.
Diogo: Apesar da gente questionar muito a vida contemporânea, a impressão que eu tenho — e que a gente quis passar — é que o Maravilhas não é um disco depressivo.
Não é: um disco que começa com “Eu Vim Passear” não é um disco depressivo. Mas o que eu sinto é que o disco vai se tornando melancólico ao longo das músicas.
Rodrigo: A melancolia é algo que a gente aprecia bastante.
E o futuro?
Diogo: Que ele seja uma maravilha!
Rodrigo: Queremos lançar mais um clipe até o final do ano, e queremos lançar o Maravilhas em vinil.
Felipe: Estamos muito felizes e orgulhosos do disco, e achamos que ele pode tocar as pessoas. Sabemos da dificuldade de circular como banda independente, mas queremos levar a mensagem adiante.
Rodrigo: E naturalmente, enquanto corremos estrada, começaremos a pensar num próximo trabalho.
Alguma estimativa de tempo para esse próximo disco? Dois, três, dez anos?
Rodrigo: Não sei, não sei. Acho que agora as pessoas já sabem como a gente funciona…
Diogo: Fazer um disco demora um pouco mais do que fazer um tweet, né? (risos).
– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista e assina o blog Pergunte ao Pop.
LEIA MAIS TEXTOS, ENTREVISTAS E REPORTAGENS SOBRE MÚSICA
One thought on “Entrevista: Dingo Bells (2015)”