“A Viagem dos Capitães da Areia a bordo do Apolo 70”, Capitães de Areia (Independente)
por Bruno Capelas
O disco de estreia já dava ideia do potencial da Capitães da Areia, e agora eles retornam com um projeto ambicioso, bem à moda dos discos conceituais dos anos 70 e 80 – onda que anda bastante revisitada também em Portugal, por inspiração do psicadelismo de grupos como o Tame Impala. A história é a seguinte: em visita a uma livraria no centro de Lisboa, um acidente acontece, transformando o lugar em uma espaçonave pronta para viver aventuras (musicais) pelo espaço (em referência a “10.000 Anos Depois Entre Vênus e Marte”, clássico do rock luso feito por José Cid, que participa do trabalho), em busca da volta para casa. Entre uma aventura e outra, eles deparam-se com nomes do passado (Lena D’Água, Toy, o vocalista dos Heróis do Mar, Rui Pregal da Cunha) e do presente (Manuel Fúria, Samuel Úria, Capitão Fausto, Tiago Bettencourt) do pop português, e até mesmo com o comediante Bruno Aleixo. É um trabalho de fôlego (há quanto tempo você não ouvia um disco com mais de 70 minutos?), mas que serve de maneira dupla: é tanto um disco de boas canções (apesar da irregularidade) quanto um cartão de visitas das figuras interessantes que o rock português tem a apresentar. Boa viagem.
Nota: 6,5
Ouça o disco: https://oscapitaesdaareia.bandcamp.com/
“Medusa”, Capicua (Valentim de Carvalho)
por Pedro Salgado
“Medusa” resulta da vontade de Ana Matos de comemorar o primeiro aniversário do aclamado “Sereia Louca” (2014). Neste novo álbum, Capicua juntou alguns dos mais importantes nomes da música eletrônica e da cena hip-hop portuguesa, resultando num disco de remixes que percorre as canções mais conhecidas de sua carreira. O resultado é estimulante e as faixas ganham nova vida em função dos diferentes conceitos sonoros utilizados. Em “Soldadinho”, o remix de Sam The Kid conjugado com a vocalização r&b de Tamin dá ao tema um agradável sabor de r&b orquestral, “Vayorken” ganha uma pegada funk que realça as intenções lúdicas da rapper portuense e a emblemática “Maria Capaz”, sob a batuta de Ninja Kore, aposta numa eletrônica exuberante e dançável que caracteriza grande parte do trabalho. Na faixa-título (abordando a violência sobre as mulheres), em parceria com Valete, Capicua exibe um registo entre o rap e o spoken Word. “EgoTríptico” (a outra faixa inédita do álbum), concilia a toada agreste com o sentido de humor. Fazendo um bom revisionismo de temas anteriores e lançando pistas para trabalhos futuros, “Medusa” concretiza o propósito de premiar os fãs de Capicua.
Nota: 8
Ouça o disco no iTunes: https://itunes.apple.com/pt/album/medusa/id969108618
“Diabo na Cruz”, Diabo na Cruz (Sony Music Portugal)
por Pedro Salgado
Depois do relativo insucesso de “Roque Popular” (2012), o Diabo na Cruz decidiu substituir a densidade sonora e os riffs grandiosos anteriores por uma guinada pop que não subvertesse a sua matriz tradicional portuguesa. Em consequência desse propósito, a música que se escuta em “Diabo na Cruz” (2015) é explicitamente divertida e irônica fazendo do álbum uma coleção de temas contagiantes. A nota dominante do disco é a presença marcante dos sintetizadores e faixas como a otimista “Ganhar O Dia” ou “Moça Esquiva”, ancoradas em refrões eficazes, revelam frescor e representam um aperfeiçoamento da mensagem do grupo lisboeta. A crítica de costumes (“Vida De Estrada”) e as farpas políticas (“Mó De Cima”) são pontuadas pela percussão ou conciliando a sonoridade da viola braguesa com a música eletrônica, permitindo à banda de Jorge Cruz adotar modelos experimentalistas que sugerem novos caminhos a trilhar. Refletindo positivamente sobre os sentimentos e aspirações da atual geração, o novo disco do Diabo na Cruz confirma a vitalidade do trabalho desenvolvido pelo conjunto.
Nota: 8,5
Ouça o disco no iTunes: https://itunes.apple.com/pt/album/medusa/id969108618
– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista e assina o blog Pergunte ao Pop.
– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui
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– Ana Matos (Capicua): Infelizmente, chega pouco rap brasileiro a Portugal (aqui)
2 thoughts on “Três discos: Capitães de Areia, Capícua e Diabo na Cruz”