por Marcelo Costa
Boas bandas são aquelas que surpreendem show a show acrescentando coisas que fazem com que o público acredite que aquele momento é especial, único, e não uma reprise de algo que a pessoa já viveu. No caso da Apanhador Só, a apresentação impecável no Lollapalooza Brasil, debaixo de um solarão do meio dia, parecia não apenas selar o auge do momento musical dos gaúchos, mas se colocava como a melhor performance dos caras em São Paulo, algo aparentemente imbatível, mas eis que eles surpreenderam novamente.
O cenário foi especial: em noite sold out, o charmoso Auditório Ibirapuera parecia referendar a celebração da boa aceitação do “difícil” segundo disco do grupo, “Antes Que Tu Conte Outra”, Melhor Álbum Nacional de 2013 segundo votação do Scream & Yell (posto dividido com Emicida), ocorrida no Lollapalooza. Porém, se no festival o tempo curto (45 minutos) possibilitou um show enxuto que terminou com sensação de coito interrompido após a balada “Cartão Postal” e sem bis, no Ibirapuera tudo pareceu absolutamente no lugar.
Praxe desta tour, a porrada radioheadiana “Mordido” abriu os trabalhos com microfonia ainda com as cortinas cerradas, e trouxe no telão imagens das manifestações de julho do ano passado, e, inclusive, anteriores, como a derrubada do boneco Fuleco, em Porto Alegre, que inspiraria a temática do segundo disco (eles contaram aqui). Aos gritos de “Não Vai Ter Copa”, a excelente “Por Trás”, recado explícito para aqueles que acreditam que parceria só deve favorecer um lado, veio na sequencia e trouxe, ao cabo, o jingle “Líquido Preto”.
Um dos fatores que tornaram essa noite diferente de outras foi que números mais difíceis do repertório da banda funcionaram perfeitamente nesta noite, como se esperassem pela acústica do Auditório Ibirapuera para revelarem suas delicadas nuances, algumas delas imperceptíveis em outros ambientes. Desta forma, a dobradinha “Salão de Festas” / “Paraquedas”, lançadas em compacto (já esgotado, mas liberadas para download) em 2012, soaram irretocáveis, com a psicodelia da segunda casando perfeitamente como ambiente.
O mesmo pode ser dito de “Reinação” e, principalmente, “Nado”, que repete um teatrinho caótico que a banda vem realizando ao vivo ao chamar pessoas do público para desarranjar a canção no palco com batucadas, gritos e barulhos. No show de lançamento do disco em São Paulo, no Sesc Belenzinho, em agosto do ano passado, a brincadeira não funcionou, mas as cerca de 15 pessoas que subiram ao palco no Ibira (para desagrado dos seguranças da casa) fizeram um caos que alimentou a canção tornando o momento bastante especial.
No quesito participações especiais, duas escolhas certeiras: o grande Mauricio Pereira surgiu em cena para dividir os vocais com Alexandre Kumpinski em “Vitta, Ian, Cassales”, uma das canções do segundo disco favoritas dos fãs, e embelezar o arranjo com a intervenção econômica de seu sax soprano (principalmente no trecho final da canção), e ceder sua “Trovoa”, presente no álbum “Pra Marte” (2007), para a recriação dos apanhadores, resultando em seis minutos de um crescente melódico instigante, um dos grandes momentos da noite.
Outro grande momento surgiu com a entrada do outro convidado, o compositor Jair Naves, que cantou “Lá Em Casa Tá Pegando Fogo”, outras faixa difícil da Apanhador Só que funcionou muito bem no Ibira, e viu a banda gaúcha preparar um arranjo corpulento para sua intensa “Pronto Para Morrer (O Poder de Uma Mentira Dita Mil Vezes)”, uma das faixas reluzentes de seu primeiro disco solo (de título quilométrico). Com presença de palco impressionante e entrega vocal intensa, Jair Naves mostrou porque é um dos grandes nomes dessa nova geração.
Para o final, os integrantes abdicaram do teatrinho do bis, já que o público vinha pedindo canções desde o meio do show, e atenderam aos fãs tocando duas canções adoradas do álbum de estreia: “Nescafé” e “Maria Augusta” (do repertório mais antigo ainda fizeram parte da noite “Prédio”, “Bem-Me-Leve” e “Na Ponta dos Pés”) encerrando uma grande noite. Sabe-se lá o que eles vão aprontar da próxima vez para superar essa apresentação, mas, na dúvida, tente estar presente: ao menos a lembrança de um grande show você levará para casa.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
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Esse grupo é legalzinho, mas superestimado aqui neste blog. As letras das músicas deixam muito a desejar.
Esses caras sabem fazer um bom show. Levei uns amigos comigo para ver o show deles (inclusive alguns que já tinha ouvido a banda, mas acharam só ok) no sesc de uma cidade vizinha e eles gostaram tanto que acabaram comprando cd, camiseta e na semana seguinte fomos todos juntos (e mais uma amiga) num outro show deles no sesc de outra cidade próxima. Muito bom!
Liu, vc só pode estar de sacanagem, né?
Na música “Despirocar”, por exemplo, é retrato tão bem a rotina de grande parte dos brasileiros, com tanto sentimento, que você se põe no lugar do eu-lírico da música.
em “Bem-me-leve” o compositor SENDO HOMEM, retrata perfeitamente a visão das coisas da maneira como uma mulher vê. Se acha fácil, tente fazer isso.
Nessa seleção de vídeos mesmo, você parou para pensar sobre o que ele está querendo dizer?
“Qual é o peixe que tu tá vendendo” você não acha que realmente ele está falando de peixe, acha?
Em “Não Se Precipite”, pare para prestar atenção na letra, ele ironiza o trabalho que se tem para compor um música, não é algo que se vêm à cabeça e tá feita. Tem que se trabalhar muito para fazer uma música.
As músicas deles tem o dom de invadir o mais profundo das sensações humanas, você tem que se deixar levar e se colocar lá dentro, com certeza vai aproveitar mais.
Só escrevi esse texto enorme porque o seu comentário foi a coisa mais estúpida que eu li esse ano.
Essa banda é qualquer-coisa-mesmo, umas harmonias batidas, umas letras adolescentes, uns arranjos sem graça, mais uma bandas indie amada pelos blogs mas que não tem graça nenhuma… concordo com o Liu!