por Flavia Denise
A clichê adolescência intensa e agressiva que se transcende pelos acordes da guitarra de Dylan Baldi quase nos remete a um passado não muito distante. Fazem-nos lembrar de segundos pertinentes que poderiam ter sido cruciais para uma mudança severa em algum momento de nossa vida. Parece exagero? Pode ser. Mas exagero ou não, qualquer um já passou por uma situação parecida. Carregado pela energia do noise rock, o Cloud Nothings traz à tona toda a face densa de uma parte de nós severamente desgastada por nossos atos.
Nostálgico seria a palavra quase ideal para definir “Here and Nowhere Else”, quarto álbum do Cloud Nothings, que revela talvez o melhor da herança deixada pelas bandas de sua mesma linhagem – uma associação com o Pixies soa inevitável. A instabilidade do sentimentoe a desconstrução de um universo baseado em superficialidade se encaminham em uma constante que marca a estrutura do álbum. Tanto em suas letras e seus arranjos tomados pela distorção das guitarras é possível contemplar um trabalho sonoro de qualidade em uma série de riffs bem sucedidos que se complementam a composição e a percepção furiosa da banda.
“Here and Nowhere Else” é uma obra rápida que tampouco se difere do terceiro e majestoso registro da banda, que trouxe o trio de Cleveland para os holofotes. “Attack On Memory” , o álbum em questão, por diversas vezes foi citado como um dos melhores discos de 2012. As características de um som levado pelo post-hardcore sujo revisitam uma atmosfera amigável dos anos 90. Nada mal. Em meio a tantas bandas que tentam fazer algum diferente, mas soam inevitavelmente iguais, o Cloud Nothings se torna destaque progressivamente em cada disco lançado.
Gerando uma sensação de melancolia, as impressões imediatas ao ouvir faixas como “I’m Not Part Of Me” e “Psychic Trauma” são de um dia de inverno conduzido pela recordação de momentos únicos e singelos de nossas vidas. Sejam bons ou ruins. Em outras faixas há festividade (“Just See Fear”, “Giving Into Seeing”) e uma grandeza incrivelmente percebida na construção das composições (“Now Here In”, faixa que abre o disco), com ruídos (“Pattern Walks”) que soam imponentes em comparação com a sensação do cenário musical que encontramos no momento, desgastado pelo mais do mesmo.
“Here And Nowhere Else” é rápido e sem delongas, um álbum curto, mas preciso ao transpor ao ouvinte acertos e uma espontaneidade visceral legitima. Focando muitas vezes no sentimento de culpa e discutindo sobre tópicos de um relacionamento arruinado, o Cloud Nothings aposta na energia para comprovar os pontos inesquecíveis que estão ligados ao fator coração. Quando, em “I’m Not Part of Me”, o compositor Dylan Baldi diz que “Eu não vou te dizer tudo o que estou passando / Eu me sinto bem”, ele nos leva a fazer uma conexão a uma condição atual.
O trio norte-americano ressurge ambicioso com “Here And Nowhere Else”, e cresce sem temer a crítica, mostrando e apostando que o ouvinte tem poder sobre os conceitos de sua vida. De maneira satisfatória e até um pouco descompromissada, a banda deixa de ser promessa e se firma no cenário musical atual.
– Flávia Denise (https://www.facebook.com/flavsdenise) é estudante de jornalismo e colabora com os sites Pulsa Nova Música e You! Me! Dancing!
Que bela resenha!! uma das grandes bandas atualmente! concordo com cada palavra!
Muito boa banda,me empolga sempre que escuto!Deve ser o ar juvenil deles.
Melhor resenha que encontrei do disco até agora.
Consegue expor exatamente meus sentimentos a cada vez que ouço esse album.
Cloud Nothings foi a melhor coisa que apareceu na música em muito tempo.
Que banda!