por Leonardo Vinhas
Quem diria que, em pleno ano de 2013, surgiria um disco divertidíssimo e viciante pautado por um gênero completamente esquecido da história da música? O disco em questão é “Ritmos Decepcionantes”, uma grande festa ancorada no twist, e o mérito é da banda argentina Los Barreiro, dona de uma história errática que, entre idas e vindas, completará 20 anos em 2014.
“Na verdade, fizemos um primeiro show só para nos divertirmos em 1994, e só voltamos a tocar em 1996”, explica o guitarrista e vocalista (e único membro original) Pachi Barreiro. Mesmo depois disso, a banda não seguiu um ritmo constante – tanto que a estreia em disco só aconteceu mesmo em 2013, com o CD já citado. “Acredito que não gravamos disco [até então] pelas constantes trocas de integrantes, já que alguns deles não estavam tão comprometidos com este projeto. Aparecemos em algumas compilações e gravamos demos durante estes anos, até que chegamos à formação que está no disco e o fizemos”, conta Pachi.
Mas o vaivém de músicos continua: o baterista Landy e o guitarrista e gaitista Wally abandonaram a banda recentemente, sendo substituídos por Mingo e Taylor, respectivamente. O baixista Carpenter segue segurando a onda e se mantém na banda. À moda ramônica, todos adotam o sobrenome Barreiro.
O que une a banda, além da incansável disposição de Pachi, é o amor pela música dos anos 1960. O twist é a base mais forte, mas o líder da agremiação explica melhor a proposta: “O twist é uma música muito divertida e elegante, mas na verdade dizemos que fazemos TwistBilly, um estilo que junta tudo o que gostamos e fazemos, como rockabilly, beat, surf , swing e até fuçamos com a new wave” (“Ritmos Decepcionantes” traz “El Karma del Camaleón”, uma deliciosa recriação de “Karma Chameleon”, do Culture Club).
O desfile de neologismos de estilos, aliás, parece ser outra paixão do rapaz: “No disco há outras invenções, como RapiBeat, FreeBilly e TwistSentido, meio que para colocar um enfeite”. OK, amigo!
Como se nota, há humor. Mas jamais paródia. A execução prima pela diversão, mas há um enorme respeito pela construção da canção. “As composições próprias têm que pesar mais que os covers – pelo menos para mim”, diz Pachi. “O que acontece é que nós fizemos covers por muito tempo, e já sentimos alguns deles como próprios”. O visual também conta bastante. “Nos vestimos elegantemente, assim fazemos bem aos olhos e ouvidos do público”.
É curioso que esse espírito retrô atraia um público cada vez mais jovem, Afinal, não é apenas o twist que entra na receita. O beat argentino é ingrediente indispensável. Para quem não conhece, o beat foi um “movimento” análogo á Jovem Guarda, com a diferença de que bebia ainda mais forte na energia bruta da fase inicial dos Beatles.
Sandro, um dos grandes nomes do gênero, ocupa posição de destaque no Olimpo musical de Pachi, junto com… Roberto Carlos! “No nosso repertorio ao vivo atual, tocamos duas canções de Roberto: ‘Es Prohibido Fumar’ e ‘Desamarra mi Corazón’ (versão em castelhano para “Unchain My Heart”, de Ray Charles)”. A admiração pelo “Rei” é tamanha que Pachi mantém um projeto paralelo sazonal chamado The Robert Charles Experience, que interpreta canções que o maior vendedor de discos do Brasil gravou nas décadas de 60 e 70.
O foco principal, entretanto, é e será Los Barreiro. Ou vão esperar outros 19 anos para fazer o próximo disco. “Não, não! Espero que não! A ideia é continuar tocando e poder levar alegria ao público, e gravar outro disco muito rapidamente. Já temos algumas canções novas rolando…”
– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yel
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