por Adriano Costa
James Oliver Rigney Jr., um norte-americano da Carolina do Sul, faleceu aos 58 anos em 2007, mas pode-se afirmar com relativa certeza que esses anos não foram em vão. Ele lutou na Guerra do Vietnã, formou-se em Física no retorno e virou engenheiro nuclear da Marinha. Quando a paixão pela literatura falou mais alto, passou a se dedicar mais ao tema criando a série “Fallon” sob o pseudônimo de Reagan O’Neal. E sob outro pseudônimo (dessa vez, Robert Jordan) escreveu vários livros de “Conan, O Bárbaro”, assim como os 11 livros da série “A Roda do Tempo”, uma fantasia épica de sucesso de público onde já foi publicada.
No Brasil, “A Roda Do Tempo” é mais conhecida por fãs desse nicho de literatura e devotos de RPG’s. A Editora Caladwin chegou a publicar os dois primeiros volumes aqui, mas perdeu os direitos e não saiu mais nada. Pelas curvas da internet também se conseguia quatro edições portuguesas que a Bertrand Editora lançou entre 2007 e 2008 por lá. No entanto, em termos mais amplos, os livros são bem desconhecidos em solo nacional. A Editora Intrínseca assumiu então a missão de publicar novamente os livros no país, e o primeiro exemplar é “O Olho do Mundo”, com 800 páginas e tradução de Fábio Fernandes.
Os primeiros capítulos de “O Olho do Mundo” não são muito fáceis de serem transpostos por aqueles já habituados a esse tipo de literatura fantástica, principalmente ao universo criado por J. R. R. Tolkien nos anos 50 em “O Senhor dos Anéis”. As semelhanças são muitas. O livro inicia quando três garotos de uma pacata vila são chamados para cumprir um papel importante na guerra do bem contra o mal. Isso em um momento de festa e alegria, tendo como destaque a chegada ou não de fogos de artifícios. Reconhece? Bom, é muito parecido mesmo se colocarmos Frodo e Rand al’Thor lado a lado inicialmente.
Rand al’Thor é o garoto fazendeiro meio perdido e acanhado que logo se vê com uma espada famosa nas mãos lutando contra Trollocs (uma espécie de Orcs de “O Senhor dos Anéis”) e seguindo adiante com mais alguns integrantes (como uma “Sociedade do Anel”) para salvar o mundo das mãos de um mal imenso que espreita e começa a se alastrar corrompendo pessoas e instaurando o medo. Tudo muito assemelhado ao clássico de Tolkien. E para quem gosta de achar correlações, as 800 páginas são um prato cheio para esse tipo de serviço.
A partir do momento que se compreende “A Roda do Tempo” como se fosse uma extensão criativa de “O Senhor dos Anéis”, as diferenças vão rareando e apresenta-se uma boa aventura para fãs do estilo, com magos, feiticeiras, animais perigosos, batalhas, reinos, e tudo o mais. E outras semelhanças passam a vir à tona, como com “As Crônicas de Gelo e Fogo”, de George R. R. Martin, que por já ser bem conhecida aqui no país, pode levar a falsa impressão que Robert Jordan também se apropriou de alguns temas, o que não é bem assim.
Algumas alcunhas (Fatricida = Regicida), nomes (como Aemon), animais (o papel de lobos e corvos) e andamentos políticos podem levar a essa ideia. Entretanto, Robert Jordan começou a escrever a série em 1984, tendo o primeiro livro publicado em 1990, ao tempo que George R. R. Martin passou a elaborar seus textos em 1991 e só os publicou em 1996, o que sugere uma inversão de influências. Esse ambiente político foi elevado ao extremo em “As Crônicas de Gelo e Fogo”, mas já aparece atuante em “A Roda do Tempo”, mesmo levando em consideração que no primeiro caso isso funciona muito melhor como personagem coadjuvante e motivador.
Em “O Olho do Mundo” você consegue enxergar até influências em outras séries como “Harry Potter”, “Eragon” e “A Torre Negra”, mas pela amplitude do conhecimento sobre essas obras, isso perde um pouco de valor para o leitor de hoje. Na promessa de publicar os 14 livros da série (11 escritos por Robert Jordan e três de maneira póstuma por Brandon Sanderson), a Editora Intrínseca tem a missão de deixar essas semelhanças explicadas ou esquecidas, com o intuito de fazer valer somente a boa aventura que permeia as páginas, e assim repetir o sucesso mundial da obra. Uma interessante tarefa.
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop
A Editora Intrínseca criou um hotsite onde disponibiliza o primeiro capítulo do livro e um pequeno livreto explicando um pouco mais sobre o universo da obra. Vale olhar aqui.