Disco do Ano: Marcos Bragatto

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Discos do Ano #10
“13”: reencontro com a própria história
por Marcos Bragatto

Artista – Black Sabbath
Álbum – “13”
Lançamento – 10/06/2013
Selo – Vertigo/Universal

Se a reunião anunciada às 11h11 da matina do dia 11/11/11 fosse apenas para uma turnê mundial com a formação original do Black Sabbath, já estaria de bom tamanho. Mas a história que veio a seguir teve contornos de drama médico, desentendimentos e suspense para resultar na gravação não só de um dos melhores álbuns de 2013, mas no melhor trabalho envolvendo Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler em muitos anos. Sim, porque “13” – que outro nome poderia ter um disco do Sabbath lançado em 2013? – supera com vantagem qualquer trabalho feito por cada um deles, solo ou com outros projetos, em pelo menos 18 anos. E isso levando-se em conta que se trata de uma das poucas bandas na história do rock a emplacar seis álbuns seguidos dignos de nota máxima, nos anos 70.

A escolha do produtor Rick Rubin para comandar o processo foi certeira. Fã da banda – quem não é? – desde sempre, Rubin coleciona a produção de trabalhos que resgataram, por assim dizer, sonoridades perdidas, como fez com Johnny Cash na série “American Recordings”, a partir dos anos 90. De estilo simples e minimalista, foi dele a escolha do baterista do Rage Against The Machine, Brad Milk, para substituir o cansado e ganancioso Bill Ward, que acabou não participando das gravações por não chegar a um acordo com os outros três remanescentes da formação original do Sabbath. Pior para ele, porque Rubin levou o grupo a um encontro com sua própria história.

A busca da sonoridade perdida pregada pelo produtor, entretanto, não resultou, como apregoado aos quatro ventos, em um disco datado ou de sotaque retrô. Primeiro porque, quase quarenta anos depois, as técnicas, equipamentos e instrumentos são outros; na hora de gravar, tudo é diferente. E, depois, porque Tony Iommi, o homem que um dia viu as pontas dos dedos decepadas para depois criar o heavy metal, tinha riffs poderosos guardados numa caixa de pandora que Rubin não hesitou em descortinar e agrupar em 11 faixas – oito na versão padrão e outras três de bônus – que não ficam nada a dever aos melhores dias do Black Sabbath, sem uma única exceção. Mesmo com as dificuldades de se gravar em mais de um estúdio, em Los Angeles e em Birmingham, no Reino Unido, e com as interrupções por conta do tratamento quimioterápico de Iommi e os compromissos de celebridade de Ozzy, o disco guarda uma unidade temático/sonora impressionante.

Não por acaso a sombria “End Of the Beginning”, que abre o disco, é uma prima distante de “Black Sabbath”, a música do álbum de estreia, de 1970, que inaugurou o subgênero que iria mudar a cara do rock para sempre. Além da lentidão arrastada, cruel e pesada que permeia a música e todo o álbum, a faixa capta com precisão a temática do Mal – em música e letra -, marca registrada do Sabbath. O primeiro single, “God Is Dead?”, cujo título já inflexiona uma cínica dúvida, mantém o lastro de um cenário sinistro e caótico que Geezer Butler já descrevia há 40 anos, mas também remete às boas baladas da carreira solo de Ozzy. Ainda que se apontem recursos de estúdio, Ozzy funciona – e muito bem – se reafirmando como uma das principais vozes do heavy metal em todos os tempos.

Mas é no excepcional coletivo de riffs de Tony Iommi, eterno especialista no assunto, que passam os melhore momentos de “13”. Impossível não se sentir impulsionado a balançar a cabeça com “Age of Reason”, por exemplo, uma traulitada sonora que tem a consistente base de Butler e surpreendentes interlúdios cativantes por natureza. Um exercício de composição bem sucedido que envolve opostos como poucos conseguem fazer no mundo da música. “Live Forever”, a mais “veloz” do disco, marcada pelos versos “não quero viver para sempre/mas não que morrer”, característicos de Ozzy, traz outro incentivo ao bater cabeça coletivo instantâneo. “Dead Father”, de sonoridade mais agressiva, fecha a trinca riffônica mais que perfeita e nos induz a questões como “Por que Tonny Iommi não desencravou esse riff antes?” ou “Será que Tony Iommi vai continuar compondo assim pra sempre?”.

O disco desencadeou, à duras penas, por conta da saúde frágil de Tony Iommi, uma turnê mundial subsequente que passou pelo Brasil em outubro e já está registrada – via shows na Austrália, em abril e maio – no DVD “Live… Gathered In Their Masses”, a ser lançado no próximo dia 26/11. O giro prossegue na Europa até o final do ano, e, até agora, numa prova de vitalidade, cinco das 11 músicas de “13” vem sendo tocadas nos shows. O disco chegou ao topo das paradas americana e britânica e em outros 49 países, incluindo o Brasil, onde foi certificado como “Disco de Platina”, por superar a marca de 40 mil cópias vendidas. É o primeiro álbum com Ozzy, Tony Iommi e Geezer Butler em 35 anos, e traz as primeiras músicas inéditas desde as duas faixas de “Reunion”, disco ao vivo lançado em 1998.

– Marcos Bragatto (@rockemgeral) é jornalista e edita o http://www.rockemgeral.com.br/

Semanalmente teremos um convidado no Scream & Yell escrevendo sobre o disco do ano

Especial Melhores de 2013:
– Disco do Ano #1: “Fade”, do Yo La Tengo, por Cristiano Castilho (aqui)
– Disco do Ano #2: “Random Access Memories”, do Daft Punk, por Rodrigo Levino (aqui)
– Disco do Ano #3: “…Like Clockwork”, do QOTSA, por Mariana Tramontina (aqui)
– Disco do Ano #4: “Shaking the Habitual”, do The Knife, por Tiago Ferreira (aqui)
– Disco do Ano #5: “The Next Day”, de David Bowie, por Carol Nogueira (aqui)
– Disco do Ano #6: “Nocturama”, de Nick Cave & The Bad Seeds, por Gabriel Innocentini (aqui)
– Disco do Ano #7: “Dream River”, de Bill Callahan, por João Vitor Medeiros (aqui)
– Disco do Ano #8: “Foi no Mês Que Vem”, de Vitor Ramil, por Thiago Pereira (aqui)
– Disco do Ano #9: “Tooth & Nail”, de Billy Bragg, por Giancarlo Rufatto (aqui)
– Disco do Ano #11: “Estado de Nuvem”, de Bruno Souto, por José Flávio Júnior (aqui)

Leia também:
-“Black Sabbath” e “Paranoid” Deluxe Edition, Black Sabbath, por Marcelo Costa (aqui)

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