Faixa a faixa: Mulato apresenta seu EP “Criatura”

introdução por Diego Albuquerque
Faixa a faixa por Mulato

Matheus Antonio é um produtor, cantor-compositor, artista visual e educador que nasceu em São Paulo, mas desde os 5 anos de idade vive em Jandira, cidade do interior paulista. Após estudar violão e guitarra, ele se lançou como artista aos 19 anos com a alcunha de Theuzitz. Entre 2016 e 2020 foram três álbuns e algumas participações em coletâneas, sempre experimentando e partindo do lo-fi agregando ritmos como folk, rock, hip hop e manifestações musicais brasileiras, como o samba e o funk.

Em 2022, desta vez sobre a alcunha de Mulato, Matheus lançou um single em parceria com a banda Salve.“O aprofundamento dos meus processos pessoais e a relação com a cultura brasileira foram alguns dos motivos para a mudança de Theuzitz, para Mulato”, comenta Matheus. Como Mulato, ele compõe a respeito de temas de natureza mais introspectiva e vem desenvolvendo um repertório baseado na relação entre suas subjetividades e as sonoridades urbanas de São Paulo.

Assim nasce “Criatura”, primeiro EP dessa nova etapa, com quatro faixas todas pensadas, produzidas e gravadas pelo artista. “Eu acredito que esse EP representa a essência do que eu sempre cultivei aqui em Jandira”, comenta. Mulato gravou todos os instrumentos de corda do trabalho, menos os baixos, gravados por músicos convidados,  e a bateria por Pedro Millecco, antigo colaborador.  “Foi um mergulho na minha natureza e na selvageria do meu inconsciente, nesse lugar da primeira infância, sem tantos filtros”, complementa.

Para entender um pouco mais sobre o EP, que está em todas as plataformas de streaming (ouça aqui), Matheus Antonio apresenta “Criatura” faixa a faixa pra gente. De o play e confira abaixo!

01) Tatuagem de Cobra – Ela é uma canção que fala muito sobre esse momento de reflexão e volta pra casa, sobre a cultura da metrópole que faz você fazer coisas que não gostaria, desejar coisas que não gostaria. É sempre muita coisa pra lidar e pouco tempo de poder assimilar. A letra faz essas alusões, enquanto a música evoca essa melodia brasileira ao mesmo tempo que mistura drones, shoegaze, rock gótico.

02) Desenho Cego – É uma música que foi construída sobre essa melodia do verso, um tanto infantil e fala sobre os caminhos da vida que nós não conseguimos controlar. Ao mesmo tempo que existe o retorno pra cada uma das nossas ações, como ele vai se dar, onde ele vai se dar, nós nunca vamos conseguir captar completamente. É o efeito borboleta. Musicalmente ela tem a influência desse som de rock alternativo dos anos 90, mas ao mesmo tempo tem influências mais contemporâneas e pop hipnagógico como Dean Blunt e Cindy Lee e brinca com essa temporalidade. Assim como o desenho cego, ela é uma composição que não se repete, o traço inicial não retorna para onde começou.

03) Terry Bogard – Essa faixa fala sobre a descoberta de uma paixão homoafetiva. Com referências de trip hop dos anos 1990 e dos anos 2000. Essa é uma música que faz numa mistura entre elementos santiagos e guitarras de rock dos anos 1960 e 1970 de bandas como Velvet Underground e Love. “Cruzando toda a Linha Azul” é um verso que representa tanto essa conexão entre a cidade através das linhas de metrô de São Paulo, quanto representa essa “linha azul” da heteronormatividade que paira sobre os costumes gerais. É uma canção que diz a respeito de como essa paixão é avassaladora e ao mesmo tempo ele então se reflete de maneira tão confusa por parte do narrador, nesse caso, eu mesmo. O título faz referência ao personagem da série de jogos Fatal Fury.

04) Bizarro!!! – Seguindo esse “trem de pensamentos”, “Bizarro!!!” continua esse trajeto subterrâneo, porém já trata de termos mais coletivos. A voz que evoca reflexões esparsas se confunde com os sons de samples, guitarras e teclados que criam essa atmosfera etérea e caótica como se o ouvinte se inserisse dentro dessa estação onde todos se encontram e se cruzam. o som do solo no meio da canção foi construído com o sample dos sinos de várias linhas de metrô de São Paulo, assim como a voz que surge na introdução.

– Diego Albuquerque é o criador do blog Hominis Canidae, um dos maiores repositórios de discos brasileiros da última década. O blog foi criado em 2009, no Recife, e divulga novos artistas e nomes indies da música brasileira, de norte a sul do país.

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