entrevista por João Pedro Ramos
Fundada em 2018, The Reseters nasceu da paixão de seus integrantes por boss reggae, um subgênero que se conecta com as culturas mod e skinhead do Reino Unido nos anos 1960. Formada por Ahnsang Hyun (guitarra e vocal), Janghyup Kim (guitarra e vocal), Sunghyun Cho (bateria), Claire J (piano e órgão) e Akhee Ahn (baixo), a banda encontrou uma sintonia especial ao reinterpretar esse som clássico com uma identidade contemporânea, tornando-se a primeira e única banda de boss reggae na Coreia do Sul. A formação eclética da banda, composta por membros com influências que vão do rock ao jazz, resultou em uma química única que combina a tradição do reggae com o frescor da cena musical contemporânea da Coreia.
Em suas músicas, The Reseters exploram temas do cotidiano, com letras que falam de amor, desafios financeiros e histórias de amigos, como em “Blue Beat”, inspirada na experiência do vocalista Kim Jang Hyup, que certa vez, ao final de um dia difícil, desejou um uísque, mas não tinha dinheiro até o próximo pagamento. Essa sinceridade nas letras e o desejo de manter o som autêntico guiam o grupo, que grava suas músicas em uma máquina de 8 track e utiliza equipamentos dos anos 1960 para resgatar a estética sonora da época, enquanto colaboram com engenheiros e técnicos especializados em reggae e ska, como Joon Park e Chris Long.
Em entrevista exclusiva ao Scream & Yell, The Reseters compartilham a jornada de se firmar como uma banda de reggae na Coreia, o primeiro disco, “Give Me A Blue Beat“, de 2023, os desafios de tocar um gênero alternativo em um país onde o mainstream predomina e as memórias que mais marcaram sua carreira até agora.
Sua banda é conhecida como a primeira banda de “Boss Early Reggae” da Coreia do Sul. O que inicialmente inspirou vocês a adotar esse gênero e como tem sido a jornada desde que vocês se formaram em 2018?
djang: Na verdade, antes dos Reseters, eu tocava guitarra em uma banda de early reggae mais voltada para shows chamada Pegurians. Quando os Pegurians se separaram, foi muito ruim deixar de compartilhar o charme desse gênero com as pessoas, então eu sempre pensei em uma nova banda. Hoje, somos a única banda de early/boss reggae na Coreia. Não é uma jornada. Nós praticamos juntos, fazemos shows… Quando temos um número suficiente de músicas, gravamos e lançamos… (risos)
akhee: Eu era fã de punk e fiz parte da cena punk coreana por muito tempo. Então, já estava um pouco familiarizado com a música ska desde minha primeira banda. Depois comecei a procurar as raízes do chamado ska-punk dos anos 90… Esse foi o ponto de partida da minha jornada.
Toots and The Maytals, The Melodians e bandas da era 2-Tone moldaram o som de vocês. Como essas influências clássicas se misturam com a sua perspectiva sobre ska e reggae?
djang: Maytals, Melodians e bandas da área 2-Tone foram citados na introdução do álbum, mas, na verdade, você pode imaginar que há mais bandas. Elas criaram o som do early reggae que continua até hoje, e a música é boa, então os Reseters só querem reproduzir esse som. Não temos uma perspectiva coreana única, os membros só são coreanos. Acho que isso surge naturalmente quando fazemos uma música.
akhee: Na Coreia, há muito poucos fãs de ska, então fica difícil responder a perguntas desse tipo. Nós amamos o ska e o reggae à moda antiga, e precisávamos de uma nova banda para tocar junto. Foi só isso (fui direto demais? Não foi a intenção…).
Vocês se apresentaram principalmente em Hongdae e recentemente em Tóquio. Como tocar em casa se compara a se apresentar internacionalmente, especialmente ao lado de lendas japonesas como Rollings e The Redemption?
djang: A grande diferença é que o sistema de engenheiros de som nos clubes japoneses é muito bem estabelecido. Fora isso, todo mundo tem a mesma paixão no palco, então acho que não há muita diferença, porque o importante é a diversão nas apresentações.
akhee: Os Rollings são bons amigos nossos. E foi tão bom tocar com The Redemption (eu era fã de punk, então amava a antiga banda do Tsuda San, Aggressive Dogs). Hongdae é nosso lar, então sempre nos sentimos à vontade e seguros. Mas o Japão tem uma cena de ska/reggae enorme, então estamos sempre descobrindo novas coisas cada vez que tocamos lá.
O álbum de estreia de vocês, “Give Me A Blue Beat”, captura a essência do early reggae com um toque moderno. Como foi o processo criativo por trás desse álbum, e como vocês abordaram o equilíbrio entre influências tradicionais e seu próprio estilo?
djang: Acho que acumulamos músicas o suficiente para lançar um álbum. Foi sugerido lançá-lo, e os membros concordaram, então tudo correu bem. O que fizemos para combinar o som tradicional com nosso estilo atual foi um resultado natural, já que os Reseters são uma banda do seu tempo.
akhee: Acho que foi uma questão de química entre nós. Como eu disse, temos uma cena de ska/reggae muito pequena, então viemos de diferentes origens. Janghyup tocava em uma banda Oi há muito tempo, e eu era originalmente um músico de surf. Byunghu e Seunghyun são caras do rock n’ roll… Claire era fã de jazz. Mas concordamos que nossa música deveria se basear no early reggae, então, boom! Tudo aconteceu.
O álbum de vocês foi lançado em vinil. O que esse formato significa para vocês como artistas, e como ele foi recebido pelos fãs na Coreia do Sul e no exterior?
djang: É um formato necessário se você quer fazer reggae, pois os álbuns de vinil ainda são consumidos, e o Selecta faz música em LP. No entanto, mesmo que a Coreia não tenha uma fábrica de vinil, fiquei feliz que a JumpUp fizesse a prensagem do LP. Ainda não senti uma resposta clara dos ouvintes, tanto locais quanto internacionais. Algumas pessoas que gostam de nós disseram que ficaram felizes em comprá-lo e nos encontrar em LP…
akhee: Vinil… É um formato incrível que os sul-coreanos não conseguem com facilidade. Na Coreia do Sul, temos poucas fábricas e não conseguimos empresas adequadas para masterizar/prensar o som reggae. Então, foi uma ótima oportunidade ter nosso álbum em vinil. E, como você sabe, quem ama reggae, ama vinil.
Como você acha que a cena musical da Coreia do Sul evoluiu em termos de aceitação de gêneros como ska e reggae? Há uma comunidade crescente para esses gêneros?
djang: A cena existe, mas não é grande o suficiente para ser chamada de cena. Será que há umas 15 bandas de ska e reggae? Algumas estão ocupadas com a vida e não conseguem ser ativas. O reggae pop foi popular nas músicas coreanas nos anos 90, mas isso foi uma renovação baseada na tendência global. Então, o cenário atual de ska e reggae coreano é forte apenas por se manter e avançar.
akhee: Não, o foco das gravadoras é todo no K-pop. Somos os escolhidos… Apenas uma piada irônica. (risos)
Como é o processo de composição de vocês, e como vocês incorporam o estilo clássico do reggae dos anos 60 nas próprias composições originais?
djang: Se um membro traz uma música, letra ou acompanhamento, trabalhamos empilhando as performances, uma por uma. Ou trazemos a música completa e editamos os detalhes para moldá-la. Como costumo ouvir reggae dos anos 60, quando vejo a letra e a melodia que escrevi, isso surge naturalmente. Quando você gosta de algo e ouve muito, fica mais fácil de se adaptar rapidamente.
akhee: A inspiração do Janghyup é a parte mais importante.
Como uma banda de early reggae em uma cena dominada pelo K-pop, quais foram alguns dos desafios ou surpresas que vocês encontraram?
djang: Fazer reggae na Coreia, onde o mercado de idols domina a cultura mainstream, é só fazer o que gostamos. É isso. Não tem reação nem surpresa. O desafio e a surpresa para nós é continuar.
akhee: Desafios? Nem tivemos chance! Na verdade, sinto que vivo em um mundo paralelo. Não temos quase nada em comum com a cena K-pop… infelizmente…
Vocês têm algum momento ou memória favorita de shows ao vivo, seja em Hongdae, Tóquio ou em outro lugar, que se destaca como uma experiência marcante para os Reseters?
djang: Cada momento é muito divertido quando fazemos uma apresentação ao vivo. É ainda mais divertido quando o público dança e vibra. Pessoalmente, fico mais orgulhoso quando alguém escolhe nossa música e nos diz que foi muito boa depois da apresentação. Os membros e eu sentimos que a apresentação foi bem sincronizada. Estou feliz por todos nós termos conseguido.
akhee: Claro que foi em Tóquio. A última turnê foi incrível. Pudemos tocar com músicos lendários de ska japonês. The Sideburns, The Rude Pressures, The Tokyo Locals, The Silver Sonics e Gaz Mayall…
Olhando para o futuro, quais são algumas metas ou projetos que vocês estão animados para explorar, e como vocês enxergam os Reseters contribuindo para as cenas globais de Ska e Reggae?
djang: Primeiramente, ser a única banda de early/boss reggae na Coreia e cantar em coreano é bem único, então… acho que seria bom receber mais atenção de fãs de reggae ao redor do mundo, talvez? Minha ambição é conquistar a popularidade das raízes e do reggaeton. Quero trazer de volta o som early/boss! (risos)
akhee: Queremos ser uma banda de ska/reggae coreana de longa duração na cena musical global!
– João Pedro Ramos é jornalista, redator, social media, colecJionador de vinis, CDs e música em geral. E é um dos responsáveis pelo podcast Troca Fitas! Ouça aqui.