Ao vivo: Clima soturno do Porta ajuda a compor o cenário para as canções da Madre, novo projeto de Luiza Pereira

textos e vídeos por Bruno Capelas
fotos por Daniela Ometto

Durante uns bons anos da última década, Luiza Pereira esteve à frente de teclas e microfones na Inky, cantando em inglês e enveredando por sonoridades eletrônicas. O fim da banda, em 2018, levou Luiza a um período de afastamento da música – até que, no casulo da pandemia, ela comprou uma guitarra e voltou a se inspirar.

O resultado dessa longa metamorfose é “Vazio Obsceno”, disco lançado no dia 14 de novembro não só nas plataformas digitais, mas também no palco no chão do Porta, casa de shows recém-reaberta na Vila Madalena – agora na rua Horácio Lane, atrás do Cemitério São Paulo.

O clima soturno do local ajudou a compor o cenário para as canções do novo projeto, que passeia entre o clima de angústia e caos daquele período trevoso, pulsão de vida/pulsão de morte (a excelente “Transe”, que poderia virar hit radiofônico mesmo nos dias de hoje) e certa busca espiritual/espacial, como se mostra em “Lá Longe No Espaço”.

Se em disco o trabalho tem espacialidade interessante, com referências confessas de Radiohead, Portishead, PJ Harvey e Bjork, ao vivo as canções funcionam ainda melhor. Ainda mais por conta da habilidosa banda que acompanha Luiza – enquanto a cozinha de Theo Charbel (baterista da Ema Stoned, aqui no baixo) e do baterista Gentil Nascimento (da Young Lights) dispara feito metralhadora, a talentosa Desiree Marantes amplifica camadas de espacialidade com sua guitarra, dando piscadelas a Jonny Greenwood. Pena que, no contexto geral do espaço-tempo, a boa voz de Luiza tenha ficado encoberta.

Além disso, talvez as canções bacanas do disco peçam uma presença mais forte do que a postura tímida da cantora naquela noite fria em São Paulo. Mas em tempos de artistas que colocam a própria voz à frente de tudo, essa talvez nem seja uma má notícia. Taí uma madre que ainda pode fermentar muita coisa boa.

– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista. Apresenta o Programa de Indie e escreve a newsletter Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais. Colabora com o Scream & Yell desde 2010.

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