texto por Paulo Pontes
fotos por Fernando Schlaepfer
A história não é nova: uma banda perde de forma trágica seu frontman, que é adorado pelos fãs, e, anos depois — em alguns casos, meses, como foi com o AC/DC, por exemplo —, retorna com uma nova formação, um novo disco, uma nova turnê.
Alguns fãs chiam, outros agradecem, mas ninguém fica indiferente (ou no mínimo curioso pra conferir o resultado). Já vimos situações como essa que deram muito certo e outras que não acabaram tão bem assim. Fato é que, a vida após a morte — de outra pessoa — continua, e o tempo é um o grande responsável por ditar o ritmo dessa continuidade.
Para o Linkin Park, foram necessários sete anos pra uma retomada, que já pode ser considerada histórica, após a morte do icônico vocalista Chester Bennington. No ano em que os irmãos Gallagher se “resolveram” e decidiram voltar aos palcos com o Oasis, Mike Shinoda e sua trupe foram além e já soltaram até disco novo (e dos bons): “From Zero” (2024).
E esse recomeço “do zero” do Linkin Park se dá com a entrada de uma nova vocalista, Emily Armstrong, e um novo baterista, Colin Brittain (além do guitarrista Alex Feder, que vai substituir Brad Delson somente nos palcos). E eles mandam muito bem, tanto ao vivo quanto no estúdio. Essa volta começou com o lançamento do single “The Emptiness Machine” e com um show transmitido ao vivo pelo YouTube.
Não demorou muito e os fãs brasileiros começaram a pedir um show da banda por aqui. Também não demorou muito e o Linkin Park atendeu ao pedido, anunciando duas datas (uma delas extra) no Allianz Parque, dias 15 e 16 de novembro (sexta e sábado).
A convite do Santander, fomos conferir o show no camarote do banco na sexta-feira. E que show! Na abertura, o Ego Kill Talent esbanjou seu já conhecido talento, que ganhou muito com a entrada da carismática Emmily Barreto, também vocalista do Far From Alaska. Fato curioso é que, em 2023, a banda se apresentou em algumas ocasiões com dois integrantes do Far From Alaska, Emmily, que foi efetivada como vocalista, e a participação do guitarrista Rafael Brasil. Inclusive, ele esteve na abertura do show do Evanescence. Agora, outra integrante do Far From Alaska está na formação do Ego Kill Talent, Cris Botarelli, que assumiu as quatro cordas.
Já no show de abertura, o Allianz estava abarrotado de gente (todos os ingressos foram esgotados para as duas datas). Foi muito legal ver a recepção do público com o Ego Kill Talent. Um excelente aquecimento pra um público que estava ansioso pra conferir a atração principal e seu novo momento.
A espera valeu! Quando o Linkin Park subiu ao palco, trazendo consigo um disco recém lançado (“From Zero” saiu na sexta-feira, 15, mesmo), foram pouco mais de duas horas praticamente irretocáveis, de um show que em pouquíssimas canções baixou a adrenalina de um público que cantou literalmente todas as músicas junto com a banda — inclusive as faixas do novo disco.
A apresentação, dividida em quatro atos, teve início com “Somewhere I Belong”, um dos grandes clássicos do grupo e faixa que trazia os vocais característicos de Chester Bennington. De cara, Emily Armstrong mostrou sua potência vocal, inserindo personalidade na música. É aqui que reside um dos grandes acertos de Mike Shinoda e sua banda em escolherem Emily para o cargo: ela não soa — e nem tenta soar — como uma cópia de Chester. Daí o “From Zero” no título do álbum, talvez. Realmente, estamos diante de uma banda renovada, ainda que devidamente apoiada em seu passado. Sem falar que a sinergia entre a voz dela e a de Mike Shinoda é excelente.
A sequência daí pra frente foi matadora: “Crawling”, “Lying From You” e a novíssima “Two Faced”, tocada ao vivo pela primeira vez desde seu lançamento (lançada dois dias antes). O mais incrível é que a música foi recebida e cantada pela galera como se já fizesse parte dos setlists da banda desde os anos 2000. Também, é uma puta música que poderia facilmente estar presente em discos como “Hybrid Theory” (2000) ou “Meteora” (2003).
No total, foram cinco faixas do novo disco. Além da já mencionada, a banda apresentou “The Emptiness Machine”, “Casualty” (que pedrada — foi possível ver pelo menos umas cinco rodas espalhadas pelas pistas do Allianz), “Over Each Other” (com Emily assumindo uma das guitarras) e uma das melhores músicas lançadas em 2024: “Heavy Is the Crown”.
Poucos momentos deixaram o show mais morno, como nas faixas “Castle of Glass” e “Leave Out All the Rest”. Não que grande parte do público não tenha cantado junto com a banda, mas foram momentos que deram uma “quebrada” na energia que estava rolando.
O momento alto ficou pra trinca “Numb”, “In The End” e “Faint”, que levaram um Allianz Parque total à loucura. O final veio com “Bleed It Out” e uma caralhada de fogos de artifício, que deram ainda mais brilho e cor pra uma noite memorável na capital paulista.
Ah! Caso você tenha perdido um dos dois dias em SP, a banda já anunciou quatro shows no Brasil pra novembro de 2025, dois em São Paulo, um no Rio de Janeiro e um em Porto Alegre. Tudo indica que essa volta do Linkin Park é pra valer, e se depender da recepção dos fãs, vai durar por muitos e muitos anos. Que bom!
– Paulo Pontes é colaborador do Whiplash e escreve de rock, hard rock e metal no Scream & Yell. É autor do livro “A Arte de Narrar Vidas: histórias além dos biografados“.