introdução por Diego Albuquerque
Faixa a faixa por Rieg
Rieg Wasa nasceu nos Estados Unidos, cresceu na Alemanha e vive em João Pessoa à quase 20 anos, onde consolidou a carreira musical em bandas como a Rieg, o duo D_M_G e o projeto Orijah, além de ser um dos produtores do BBS Estúdio. Desde 2020, Rieg vem lançando material com o projeto Riegulate (você leu aqui sobre o EP “Glow”, um tributo aos anos 1980), que retorna agora com o EP “Whatever Together” (2024).
“É um EP de saudade, de nostalgia, quente e frio ao mesmo tempo. O nome, aliás, tem uma extensão: ‘Whatever, Forever’. Como se fosse a versão mais cínica da coisa toda. É sobre viver no agridoce, no meio-termo, nas nuances, dos tons de cinza. É o yin e o yang. Tem que ter. Viver é isso, afinal: um pouco de tudo, junto ou separado”, pontua Rieg. “Gosto de pensar nele como um reflexo de dualidades. É essencialmente pop e indie, mais voltado pra canção, com menos vocoder dessa vez — embora ele ainda apareça”, explica.
As músicas refletem diferentes momentos e experiências da vida do artista, desde suas viagens internacionais até reflexões pessoais sobre mudança e crescimento. “Grande parte do EP foi feita durante o #30dias30beats de 2023 e 2024, que é uma maratona criativa de produzir uma faixa por dia. Aliás, uma das músicas, a última, foi escrita em 2009”, revela. “Tem canções com vocoder, autotune, mas no geral, é uma ode ao pop, ao disco, a essa estranha dança entre os opostos. Acho que o nome ‘Whatever, Together’ já diz muito sobre isso: a gente segue em frente, junto ou separado, com essa mistura de sentimentos”, completa.
Abaixo, Rieg comenta “Whatever Together” (disponível nas principais plataformas) faixa a faixa. Além das cinco canções, o registro ganha uma bônus track, a versão do Riegulate para a música “Caribbean Queen”.
01) Feeling Good – Foi escrita em 2023, durante uma fase em que eu estava me exercitando mais, experimentando um novo contexto de vida. Era aquele momento em que a gente resolve parar de sentir vergonha de ser brega e só abraça o prazer de estar bem, mesmo que temporariamente. Queria captar essa sensação sem complicar, sem querer parecer mais profundo do que era. Sabe quando você está feliz e se pergunta: “Será que posso só… estar feliz?” É um pouco disso. Simples, sem pretensão.
02) Winter Chill – Também veio na mesma época de “Feeling Good”. Eu estava em Ottawa, vindo de um show na Flórida que, honestamente, caiu do céu numa fase bem complicada da minha vida. Eu estava meio perdido e, de repente, estava em turnê. A música fala dessa mistura de sentimentos, a saudade e a nostalgia que aparecem nesses momentos de transição. Quando cheguei lá, estava enfrentando tempestades de gelo, neve até os joelhos, aquela paisagem de fim de mundo. Aí, do nada, tudo derreteu e entrou a primavera, o sol, os animais selvagens voltando… A música fala desse ciclo, dessa alternância entre o frio e o calor, o antes e o depois, o que se vai e o que volta.
03) It’s That Thing You Do – Foi feita no #30dias30beats de 2022, se não me falha a memória. Era só mais um experimento do dia, mas eu estava muito inspirado no Anderson.Paak. A faixa é um frankenstein de duas músicas: começa meio hip hop e, de repente, vira disco music. Foi uma música que nunca estava completamente pronta, sempre tinha algo faltando. Meio que irmã da próxima faixa, “Disco Chill”, que também é filha do #30dias30beats.
04) Disco Chill – Foi feita no mesmo ano (da anterior), e eu estava bastante inspirado pela St. Vincent. Ela tem uma música chamada “Slow Disco”, mas sinceramente, não tem nada a ver com essa faixa. Eu até tentei encontrar alguma música dela que eu achava estar plagiando, mas, no fim das contas, não encontrei. Talvez essa música que eu pensava nem existisse, fosse só uma ilusão na minha cabeça. Acontece, né? Às vezes a gente acredita que está copiando algo, quando na verdade está criando algo novo. A arte é cheia desses enganos.
05) Drive – É de 2009. É uma velha conhecida minha. Na época, eu tinha acabado de lançar meu álbum folk “What We Call Home”. Eu entregava as cópias em lojas, enviava pelos correios. Um verdadeiro do it yourself. Já tinha começado a compor pro segundo álbum, seguindo a mesma vibe lo-fi folk, mas com baterias eletrônicas. Só que foi justo nessa época que minha banda, Rieg, começou a tomar forma, e algumas músicas foram ficando pelo caminho, nunca saíram do papel. “Drive” é uma dessas. A gente chegou a ensaiá-la, mas nada aconteceu. Aí, novas músicas surgiram, e o segundo álbum nunca viu a luz do dia. Será que ainda vale a pena lançar? Quem sabe. Mas resolvi regravar “Drive” agora porque gosto muito dela. Me lembra meus tempos em Augsburg, na Alemanha, quando eu só andava pelas estradas, meio sem rumo, absorvendo a paisagem e o silêncio.