Entrevista: Hurricanes volta ao porão e honra sonoridade do rock setentista com segundo álbum

entrevista por Alexandre Lopes

Para muitas pessoas, o porão de uma casa pode não ser o cômodo mais convidativo para se estar – ou ainda mais para utilizar como local de inspiração e trabalho. Mas isso não é uma máxima válida para a banda Hurricanes. O grupo de blues e rock emergiu de seu subsolo com força renovada em setembro deste ano com um novo álbum, devidamente intitulado “Back to the Basement” (2024).

O Hurricanes teve suas origens em 2016, em Santa Maria (RS), quando o guitarrista Leo Mayer e o vocalista Rodrigo Cezimbra começaram a trabalhar no EP “Johny Cez & Noz Moscada”, apresentando letras em português e uma direção puxada para o folk. Ao mudar o nome para Hurricanes e seguir para São Paulo) em 2018, a dupla conheceu o baterista Guilherme Moraes e o baixista Henrique Cezarino. A partir daí, o grupo começou a fazer shows de releituras de composições de várias bandas dos anos 1960 e 1970, como Led Zeppelin, Doors, Beatles, Rolling Stones, entre outros. Mas a vontade de deixar sua marca com canções autorais falou mais alto, e em 2023 a banda lançou o primeiro disco auto-intitulado, com uma sonoridade bem calcada por suas influências.

Após uma recepção calorosa do álbum de estreia – que incluiu elogios dos Black Crowes após abertura dos shows da banda norte-americana no Espaço Unimed em 2023 – a Hurricanes voltou ao porão da casa de seu baixista para trabalhar em um sucessor. “Back to the Basement” não é apenas uma referência a um local físico, mas também ao processo criativo no porão, onde os membros se reuniram para ensaios despretensiosos. Leo Mayer descreve a experiência: “Começamos a compor sem pensar em prazos e, para nossa surpresa, as coisas evoluíram rapidamente. Em fevereiro e março de 2024 já estávamos registrando tudo no estúdio”.

As oito faixas do novo trabalho foram desenvolvidas de maneira livre e espontânea e, durante as gravações, a banda optou por um formato ao vivo com alguns overdubs adicionais, utilizando alguns instrumentos vintage que conferem timbres clássicos à obra. Em comparação ao primeiro disco, “Back To The Basement” traz uma sonoridade mais dinâmica, incorporando elementos que antes não eram tão explorados, como violões em “Big Eyes” e piano elétrico em “Down The Street”.

A banda conseguiu cobrir os custos de gravação através de uma campanha de crowdfunding que superou suas expectativas; a meta original de R$15 mil foi superada e permitiu uma “gordurinha”, segundo Mayer. “A gente conseguiu passar a meta em um mês, mais ou menos. Foi muito bom, a galera apoiou muito”. O músico reflete sobre o desafio de ser um músico independente em tempos atuais: “A pandemia complicou muito as coisas, mas estamos conseguindo viver de música agora. A parte cansativa é trocar a chave do cover para o autoral, mas vale a pena”. Tanto que hoje, todos os membros da Hurricanes vivem exclusivamente da música, fazendo de seis a oito shows por mês, alternando entre apresentações autorais e covers de clássicos.

Em um papo bem legal com o Scream & Yell, Leo Mayer contou sobre o processo de composição e gravação de “Back to the Basement”, a vida na estrada, como foi servir de abertura para o Black Crowes e já adianta que o próximo show autoral da Hurricanes em São Paulo será no Bourbon Street, no dia 6 de novembro, junto com Picanha de Chernobill. Confira a conversa abaixo!

Vocês lançaram recentemente o segundo álbum, “Back to the Basement”. O que você enxerga que este disco tem de diferente, em relação ao anterior?
Cara, a gente manteve a vibe, a sonoridade. Então não é exatamente um disco muito diferente do primeiro. Mas acho que a grande diferença se deu pelo fato que a gente conseguiu tocar bastante uma boa parte dessas músicas nos shows, antes de gravar. Acho que isso tornou o processo um pouco mais espontâneo e rápido. Começamos a compor esse disco em dezembro de 2023, que foi o ano do lançamento do primeiro álbum. Em fevereiro e março a gente já estava no estúdio gravando. Então de certa forma foi um álbum mais rápido; mais ‘pá-pum’. E a gente conseguiu explorar umas coisas que ainda não tinha conseguido no primeiro; no caso, violões em “Big Eyes” e bastante pianos e órgão hammond, em “Down the Street”, por exemplo. Além de mais percussões em “Over the Moon”. Então acho que a vibe segue parecida, mas tem uns elementos diferentes. Na minha visão a gente pôde explorar algumas coisas e principalmente tocar ao vivo o repertório antes de gravar.

Você comentou dos teclados e percussão. Essas partes foram gravadas por vocês ou por convidados?
Percussão foi feita pelo nosso batera mesmo, o Moraes. Ele inclusive tem formação acadêmica de percussionista, toca marimba e tal. Ele tem esse lado erudito forte, mas nunca tinha explorado isso em músicas nossas. Sempre foi naquela coisa mais tradicional da batera, mas nesse álbum a gente pode explorar isso com ele. E os teclados foram gravados pelo Jimmy, que já gravou o primeiro disco e vem tocando com a gente há dois anos. É um cara que está sempre junto com a gente quando temos shows autorais.

Mas o Jimmy não é um integrante fixo? Ele é um contratado? Como que funciona?
É, ainda não. Tipo assim, em todos os shows autorais ele está presente, mas ele não é um membro oficial. Existe o núcleo do quarteto e existem esses convidados. E isso é muito mais por logística; a gente viaja muito de carro e ainda não conseguimos ter a estrutura necessária para isso, mas gostaria muito que ele tivesse em todos! Às vezes a gente vai viajar e não consegue ir com todo mundo. Enfim, o núcleo são os quatro, mas aí tem os convidados. Tem as backing vocals que também viajam com a gente às vezes. Hoje em dia, o Jimmy é um músico convidado.

Soube que houve uma campanha para financiamento pro disco. Como é que funcionou? Deu certo?
Deu certo sim! A gente conseguiu passar a meta em um mês, mais ou menos. Foi muito bom, muito bom mesmo. E a gente colocou aquela coisa tradicional de oferecer recompensas, como uma pré-venda. Então a galera apoiou muito, foi muito foda mesmo. A gente ficou feliz. Sempre dá aquela insegurança, ‘pô é uma grana’, sabe? Não é tão simples fazer isso, mas a gente bateu a meta e passou um pouquinho. Deu uma “gordurinha” ainda.

É bom isso, porque músico independente já não ganha muita coisa, e com a situação da pandemia a situação piorou. Até queria perguntar isso: tem sido cada vez mais difícil fazer shows e turnês, mas como é que está sendo agora para vocês?
Então, a nossa banda começou em 2016 e 2017 fazendo releituras dos anos 1960 e 1970. Então a gente tem um show que conseguimos rodar bastante no interior de São Paulo e na capital em que tocamos Led Zeppelin, The Doors, Beatles, Rolling Stones… Enfim, nossas referências. Isso ajuda a manter a banda na estrada. Hoje em dia a gente tem feito de um a dois shows por mês do lance autoral e outros seis pelo menos de releituras, então a gente consegue viver de música e pagar nossas contas. Mas isso é como se fosse uma ‘escadinha’; começamos há pouco tempo esse esquema autoral e ainda estamos entendendo esse nicho, que é outra parada. O lance do autoral e do cover são coisas muito diferentes. Mas pra gente está começando a ficar legal sim. Está tendo show sempre, tem uma procura. A gente conseguiu rodar bastante o primeiro disco. Tocamos no Rio Grande do Sul, em Belo Horizonte (MG), tocamos no Rio [de Janeiro] e bastante no interior de São Paulo. Então a gente já conseguiu dar um rolê e levar esse disco para outros lugares. Aos poucos as coisas estão acontecendo. Mas vendo em um panorama geral, todo esse sucateamento das políticas públicas e principalmente para a Cultura, a gente sabe que é um fato. Muitas bandas terminaram inclusive durante ou pós pandemia por isso. Foi muito complicado. Mas aos pouquinhos eu vejo também algumas coisas voltando, coisas acontecendo.

Mas ainda nesse assunto, como é para vocês? Vocês têm outros trampos fora o lance da música?
Cara, hoje os quatro membros da banda vivem exclusivamente de música e da Hurricanes. A gente consegue, e é cansativo porque rodamos bastante. Entre seis a oito shows por mês fazendo esse esquema de releituras. Mas é muito bom, ao mesmo tempo. A parte que eu digo que é cansativa é que você tem que ‘virar as chavinhas’: você está fazendo um cover no final de semana, voltando às 6 horas da manhã para casa e segunda-feira tem que estar no estúdio para compor e ser criativo para gravar um álbum. Mas é isso; hoje os quatro membros vivem exclusivamente da banda.

Vi que o disco saiu pela ForMusic Records, assim como o primeiro. Como que rolou esse contato com eles? Vocês são amigos?
Quando estávamos com o primeiro disco gravado mas ainda não lançado, eu sabia da necessidade de ter algum profissional para trabalhar esse disco, seja um selo ou uma assessoria de imprensa. A banda tem um público legal, mas a gente também precisava de algo mais profissional, mais sério. Eu não conhecia muita gente, mas conversei com o (Roberto) Maia, da [rádio] 89 FM, que é um grande amigo nosso. Ele estava discotecando em um dos primeiros shows que fizemos em São Paulo, então criamos uma amizade bem legal. E aí o Maia me falou ‘cara, fala com a galera da ForMusic’. E aí rolou o contato, a gente conseguiu conversar perto ali do show de abertura do Black Crowes. Acho que a gente já tinha até fechado parceria quando rolou esse show, já estava nos trâmites. Mas foi muito importante, porque é aquela coisa: a gente já faz tudo sozinho. A gente produz, faz vídeo, a arte de capa vem do nosso núcleo, nós e nossos amigos. Então ter profissionais para nos ajudar a divulgar esse álbum foi essencial sim, muito importante.

O novo disco não foi gravado no porão da casa do baixista, mas ele foi composto lá, é isso?
Isso! Algumas coisas foram gravadas lá, mas não inteiramente.

E como funcionou? Vocês gravaram linhas de guitarra, umas guias e levaram pro estúdio depois, algo meio híbrido assim?
Basicamente é assim: o nome é “Back to the Basement” porque a gente realmente passou meses compondo e gravando o primeiro álbum. Então quando ele finalmente saiu, tacamos pau na divulgação do disco, nos shows e tudo. É como se a gente tivesse fechado o nosso porão, sabe? E depois disso, quando percebi, a gente estava com a guitarra e amplificador descendo aquela escada, que é a capa do álbum, voltando ao porão, para escrever um novo disco. A gente não tinha muita ideia do que ia acontecer. Então essa cena foi muito clara na nossa cabeça, tipo ‘tá, tamo descendo, estamos de volta no porão, falou’. O nome tem a ver com isso. A gente realmente retornando ao nosso porão, onde tudo foi feito, tanto o primeiro álbum quanto o segundo. Mas o disco mesmo foi gravado no Ekord, um estúdio aqui em São Paulo. E boa parte dele, como guitarras e baterias, a gente gravou naquele esquema meio ‘ao vivão’. Baixos e algumas vozes gravamos no porão porque queríamos trazer essa característica também, de um jeito bem ‘roots’. A gente ligou as caixas e o Rodrigo cantou em cima. Foi uma coisa bem não convencional. Normalmente é com fonezinho, microfonezinho paradinho… E algumas coisas de percussão de “Over the Moon” a gente gravou no porão também. Então além de ter sido criado lá, retornamos também para fazer alguns overdubs. Os teclados foram gravados no Orra Meu Estúdios aqui em São Paulo, que tem os instrumentos de teclas antigos e isso deu um molho massa também.

Eu vi que vocês tem bastante o lance do vintage e etc. Eu tinha visto um vídeo em um canal do YouTube que mostra as suas guitarras, se não me engano umas três…
Sim, sim! Isso. Guitarras da Dunamiz [marca brasileira de instrumentos fabricados à mão, inspirados nas décadas de 1950 e 1960].

E você utilizou todas essas três guitarras no disco?
Foi até mais, na verdade. Porque quando vamos gravar é quase uma Disneylândia, né? (risos) Vem um amigo que tem uma guitarra vintage, um brother que trouxe uma Gibson, se eu não me engano um outro amigo trouxe um amplificador Gibson GA40 de 1959… Então a gente vai juntando equipamento e tal. Foi uma delícia gravar, muito bom mesmo. Mas eu usei basicamente a minha SG velha de guerra, somado a alguns timbres de outras guitarras. Se procurar no meu Instagram, tem lá vídeos mostrando só essas coisas (risos).

Essa SG é como se fosse uma SG Júnior, com captador P90? Eu curto muito o som do P90.
Sim, nossa, eu acho foda! Das duas SGs que eu usei para gravar, as duas tinham P90. Era uma original de 1966 e a minha agora, de 2019.

Também vi um vídeo do baixista, mostrando que ele toca com um baixo Giannini e um amplificador feito pelo irmão dos Mutantes. Ele também foi utilizado na gravação?
Sim, 100% daquele equipamento que a gente mostrou está na gravação, com alguma coisa extra ou outra. O gear do Henrique é aquele Giannini Rickenbacker com o amplificador CCDB [Claudio Cesar Dias Baptista], que foi feito pelo irmão do Sérgio e do Arnaldo. Isso e a caixa Vox. O Henrique usa aquele setup, eu basicamente também: a Dunamiz com o Fender 68. “Over The Moon” tem uma guitarra Fender de doze cordas. “Down the Street” tem uma Stratocaster de 1962. Então a gente vai brincando com esses elementos. A guitarra tem essa possibilidade de colocar mais camadas. Mas a gente gosta muito desse timbre. E o baixo do Henrique também é anos 70, se eu não me engano. A gente gosta bastante porque é o som dos discos que a gente sempre escutou. A gente toca e fala “ó Isso aqui, é aquele som”. Aquele timbre, aquela textura. Para a batera, a bateria que a gente gravou foi uma Ludwig 65 original, do estúdio Ekord. Por isso também que muita gente fala assim ‘vocês lembram essa sonoridade vintage’, apesar da gente não buscar isso numa mixagem assim. Tem gente que quer buscar exatamente aquele som de se escutar e falar ‘anos 70’. Não é exatamente isso, mas tem a textura, tem o timbre, mas com uma mixagem mais moderna também.

Vocês têm o apego ao instrumento vintage, mas não necessariamente aos formatos de gravações, visto que os álbuns foram feitos de forma digital. Ou vocês fizeram alguma coisa com fita de rolo também?
Foi tudo digital mesmo.

Vocês pensam em fazer de forma analógica também? Tem alguma tara com isso?
Cara, tem e não tem, sabe? Quero experimentar um dia de fazer com a banda, mas eu não me prendo muito a isso. É tipo gravar em película: é do caralho, é lindo, mas é caro. Quem sabe no dia que a gente tiver orçamento e tempo para fazer isso? Acho super válido o teste, amo gravação em fita, em película. Mas hoje em dia dá para buscar bons resultados com digital tranquilamente. O que a gente não abre mão mesmo é dos instrumentos e amplificadores, que realmente eu acho que faz muito mais diferença. Pegar um amplificador moderno e gravar na fita eu acho que não é uma equação que eu gostaria. Mas um dia eu quero experimentar.

E como que vocês fazem com esses instrumentos mais antigos na turnê? Vocês levam? Eu vi que você costuma usar uma guitarra para cada afinação, mas em shows fora da cidade vocês levam um set de equipamentos menor?
No geral, quando a gente viaja, levamos uma guitarra só. Aí a gente monta um repertório de acordo com isso. O primeiro álbum tem realmente umas três afinações, neste novo tem três, mas são mais fáceis porque é coisa de mudar apenas uma corda, então é mais tranquilo. O primeiro era mais difícil, então tinha que montar um setlist com intro de bateria para eu afinar rapidão, sabe? A gente moldava de acordo com o show. Não tem como ir pegar um voo e levar quatro guitarras porque fica caro…

E é arriscado também.
É arriscado e eu não despacho guitarra não, porque já vi muitas histórias de quebrar guitarra na estrada. Enfim, eu levo uma guitarra, pedal e bora! E o Henrique também tem um baixo só e é isso. Apesar de eu ter outras guitarras, não sou desses caras que curte ter vinte guitarras não. Eu gosto de ter duas ou três, no máximo. Para poder dar atenção a elas também. Hoje em dia eu estou com duas só. E gosto dessa coisa de ter uma guitarra só pro show, de brincar com ela, de trocar afinação na hora, de ter essa essa interação com ela. No próprio show que a gente fez na abertura do Black Crowes, eu levei três ou quatro, peguei umas emprestadas, porque era um show de meia hora e não tinha muito tempo para ficar afinando. E muitas vezes eu pegava guitarra afinada pelo roadie, chegava do backstage até o palco e já dava uma desafinada, eu tinha que conferir… Então no final das contas dá para fazer show com apenas uma guitarra tranquilo, não tem muito galho não.

Já que você comentou da abertura pro show do Black Crowes: queria saber como é que foi essa experiência. Vocês conseguiram trocar uma ideia com eles, rolou alguma interação com a banda?
Pô, rolou super. Eles foram muito receptivos, desde o início. Sempre existe uma história de boicote, aquele limite de som para a abertura e a aparelhagem toda apenas para a banda principal. Mas com eles não foi assim, estava tudo no mesmo nível de volume. Em todo o decorrer do rolê eles trocaram ideia com a gente, mas mais no final, porque da passagem de som até a hora do show não deu muito tempo de conversar. A gente deu um alô e tudo mais, mas no final o produtor chegou no camarim e falou “ó, a galera da banda quer trocar uma ideia com vocês, eles curtiram o som e querem conversar, vocês estão indo embora?”. E aí a gente pôde conversar com calma mesmo, principalmente com o Rich que é o guitarrista. Cara muito legal, trocamos ideias de vários assuntos assim. Ele gostou muito da banda e agradeceu por a gente estar fazendo rock and roll. Ele falou que eles rodam muito o mundo e ele está ligado que está cada vez mais em falta um som com essas influências. Foi muito massa, a realização de um grande sonho.

Imagino o que isso deve ter significado para vocês! Achei uns vídeos dessa apresentação no YouTube e o som parecia estar redondinho mesmo. E agora que vocês já conquistaram isso do Black Crowes, com quem mais vocês pensariam em tocar?
Eu acho que qualquer troca entre bandas assim é legal. Desde uma banda grande ou uma banda pequena. A gente já dividiu a noite com várias bandas aqui de São Paulo também, mas obviamente que uma banda internacional traz esse negócio de puxar um público maior. O show com o Black Crowes nos trouxe muito público. Em nossos shows autorais em São Paulo tem sempre muita gente com camiseta do Black Crowes e que nos fala que nos conheceu lá e que agora está acompanhando direto, comprando CD, camiseta… Realmente virou fã. E cara, de verdade, de sonho mesmo de tocar junto, recentemente veio o Deep Purple para cá. Rolou uma campanha de fãs na internet e a gente ficou empolgado, porque deu uma galera comentando no post da produtora. A gente até conseguiu entrar em contato, mas rolou a resposta que não ia ter banda de abertura no Brasil. Mas cara, dividir a noite com qualquer um desses ídolos é uma experiência muito, muito foda.

Pena que não rolou com o Deep Purple aqui. Mas vocês têm planos de tocar fora do Brasil ou algo assim? De repente assim acontece…
Já teve um convite para fazer uma turnê. A gente está analisando, porque tem questões de custos, não é tão simples assim. Mas sim, seria um negócio bem legal. Mas por enquanto não tem nada de concreto.

Parece que aumentou o valor do visto para tocar como músico nos Estados Unidos. E para a Europa tem a questão do euro ser mais caro, mas ainda assim parece que para a Europa compensa mais porque o pessoal recebe melhor as bandas, em questão fornecer lugar para dormir e coisas assim. Vocês pensam em Estados Unidos ou Europa?
Eu acho que está mais na Europa mesmo. Esse convite que tivemos foi para a Europa mesmo, com vários países de lá. O legal da Europa é isso: você pega um carro e roda vários países, não só estados. Vai de um país para o outro. E pelo que eu pesquiso, lá ainda tem um público grande e que é receptivo. Acho que isso é muito importante: um público que vai no rolê às vezes sem conhecer a banda mesmo. Vai lotar uma casa de show grande, paga ingresso para conhecer as bandas. Na França, por exemplo, tem uns rolês no centro da cidade que tem música de quarta a domingo, música autoral nova, música de todos os estilos, todos derivados do rock. Mas então pensa em São Paulo; olha o tamanho da cidade. Honestamente não temos aqui um lugar desses, que tenha de quarta a domingo um público interessado em bandas novas. Então, realmente aqui no Brasil a coisa é mais difícil.

Sim, e tem rolado uma coisa muito esquisita com o público: tem muita gente que está preferindo não sair mais de casa, ou pelo menos não na mesma frequência de antes. Vocês perceberam algo assim ou pro som que vocês fazem ainda tá tá rolando nos lugares de boa?
O que eu percebi é que muitas casas fecharam na pandemia, tanto por grana quanto por ficar tudo caro. A galera às vezes fica com medo, não sei. Mas eu senti que com certeza ainda tem o rock em São Paulo. Foi um dos motivos pelos quais a gente mudou para cá. Existe um cenário bem forte da música, principalmente do cover. Então num raio de 100 Km da capital, existem muitas casas. Tanto é que a gente consegue manter uma agenda grande. E é, digamos assim, de certa forma confortável você não ter que viajar horrores para isso. É uma horinha, uma hora e meia. Mas pra música autoral, que muita gente fala que em 2018 e 2019 para trás era legal, que tinham várias casas… Eu sei que muitas delas fecharam. Então hoje em dia é como eu te falei: não tem uma casa para a música nova. Não falando de bandas que já tem público e tudo mais, mas uma casa para bandas que estão começando, que tem um trabalho legal e com uma curadoria boa, sabe? Hoje não tem em São Paulo, e olha o tamanho da cidade, o tanto de gente que tem aqui né?

Sim, concordo. Qual que vai ser a agenda da banda para tocar o lançamento autoral?
O próximo show vai ser dia 6 de novembro no Bourbon Street, aqui em São Paulo. É uma casa clássica e legal, junto com amigos que são lá do Sul também, a Picanha de Chernobil. A galera conhece eles porque tocam sempre na Avenida Paulista. Eles são nossos amigos, muita gente fala da semelhança entre nós, porque temos as mesmas influências, mas até então não tínhamos conseguido tocar juntos. Mas vai rolar dia 6 de novembro lá no Bourbon Street, uma quarta-feira. E por enquanto é isso!

– Alexandre Lopes (@ociocretino) é jornalista e assina o www.ociocretino.blogspot.com.br

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