Três shows: Elephant Gym, Adorável Clichê, DIIV

texto de Alexandre Lopes
fotos de Fernando Yokota

Elephant Gym na Casa Rockambole (15/9)

Resolvi topar a dobradinha sugerida pela Balaclava Records, incluindo shows de Elephant Gym, Adorável Clichê e DIIV no mesmo domingo, mas em locais diferentes de São Paulo. A primeira parada era às 18h na Casa Rockambole no bairro de Pinheiros e, como os ingressos estavam esgotados, não foi exatamente uma surpresa chegar na porta e dar de cara com uma longa fila para entrar. Mas a situação atrasou um pouco o show, começando às 18h15. O fato é que a Casa Rockambole se mostrou pequena para os fãs do Elephant Gym, pois era difícil transitar para escolher um bom lugar e o ar condicionado não estava dando conta. Mesmo assim, o trio taiwanês formado pela baixista e vocalista principal KT Chang, o guitarrista/vocalista Tell Chang e o baterista Chia-Chin Tu entregou com maestria uma performance que une momentos de jazz, math-rock e post-rock, tudo executado com um som impecável. Embora o grupo estivesse tímido no início, logo KT tratou de quebrar o gelo com a plateia, fazendo piadas em inglês com seu sotaque carregado e sempre com uma latinha de cerveja a tiracolo entre as canções. Ela convidou o irmão guitarrista a assumir os vocais em “Feather”, que balbuciou um acanhado agradecimento em português (“Obrigatô”). Mais tarde, o encorajado Tell aproveitou para fazer um pequeno discurso sobre a democracia em Taiwan, com direito a citação da legalização do casamento gay em sua terra, rendendo aplausos. Chia-Chin também se arriscou a conversar com o público, revelando que sempre foi muito ruim em provas de inglês e que nunca imaginou se comunicar na língua ao fazer turnês internacionais – especialmente no Brasil. Mas a figura da noite era mesmo KT, por quem o público se desmanchava a cada interação, a ponto de inspirar um “I love you” de um espectador em um instante de silêncio. Também pudera: além do carisma e de uma inegável destreza no baixo, KT também soube criar uma atmosfera intimista ao tocar sozinha no teclado a emocionante “Dreamlike”. Tell também assumiu as teclas na instrumental “Half”, resultando em crescendos que eram comemorados pelos ouvintes. O clima esquentou ainda mais com o hit “Finger”, a ponto do guitarrista quebrar uma corda durante a execução. Enquanto o músico trocava o encordoamento, KT divertiu a plateia ao contar que aprendeu a dizer “eu amo você” em português, e provocou Chia-Chin a compartilhar uma história hilária sobre quando teve que dividir a cama com Tell em um hotel em Nova York. Em um intervalo para uma votação, permitiu ao público escolher a versão em mandarim da música “Moonset”. E antes de se despedir com a poderosa “Galaxy”, KT fez mais um apelo para que comprassem o merchandising da banda. A apresentação encerrou às 19h52 e, visto que eu tinha que correr para o metrô em direção ao Cine Joia para continuar com a maratona de shows, tive que desencanar de pegar a fila para comprar o merchandising. Fica para uma próxima vez, KT.


Adorável Clichê no Cine Joia (15/9)

Depois de uma corrida e baldeação entre duas linhas de metrô, cheguei ao Cine Joia às 20h30. Segundo a portaria da casa, a Adorável Clichê já havia iniciado seu set há 15 minutos. “E a minha vida passa mais rápido que os carros se vão”, já bem dizia a própria banda em “Traços” – que por sinal foi uma das canções que perdi a chance de conferir ao vivo. Mas a banda catarinense – formada oficialmente por Gabrielle Philippi (voz), Marlon Lopes (guitarra e voz), Gabriel Geisler (baixo) e Felipe Protski (guitarra) acompanhados por um baterista que não é um integrante fixo – parecia mais interessada em tocar o repertório da melhor maneira possível do que apelar por interações com o público. Por sinal, dá para perceber que chamar atenção não é uma das prerrogativas da vocalista. Trajando um casaco comprido, cabelo caído no rosto e óculos, Gabrielle dificilmente seria reconhecida como uma frontwoman de uma banda de rock tradicional; a musicista mais parecia aquela sua amiga que sentava atrás de você na sala de aula do colégio e preferia passar despercebida pela galera popular do colégio. Essa abordagem mais introspectiva condiz com as letras confessionais e inquietas de Gabrielle, e o shoegaze e dreampop da Adorável Clichê caiu como uma luva como banda de abertura do DIIV. O show teve momentos climáticos como as faixas “Amarga” e “Medo” (do segundo álbum “Sonhos que Nunca Morrem”) e “Falsa Valsa” (do debut “O Que Existe Dentro de Mim”). Mas infelizmente o show passou muito rápido, chegando ao fim às 20h58 para que os roadies começassem a montar o palco para a atração principal da noite.


DIIV no Cine Joia (15/9)

Às 21h33 a introdução do show do DIIV surgia nas paredes do palco do Cine Joia, com imagens de um vídeo similar a fitas VHS de coaches dos anos 80. A banda, que no dia anterior tinha tocado em Belém, iniciou a apresentação com “In Amber”, dando o tom da maior parte do show que se seguiria: vocais quase sussurrados enterrados na mixagem por guitarras de riffs e dedilhados arrastados, com baixo e bateria mantendo um ritmo lento e hipnótico. O líder do grupo, Zachary Cole Smith, apareceu usando uma enorme camiseta do Nine Inch Nails da época do álbum “Pretty Hate Machine”. Em vestimenta também gigante, Colin Caulfield dividia os vocais e tocava baixo e Andrew Bailey se mantinha sempre de boné com sua guitarra no centro do palco, enquanto Ben Newman segurava as batidas. No canto direito, um roadie trabalhava o tempo todo preparando diferentes afinações nas guitarras, que eram praticamente trocadas a cada nova música. O show teve seu ápice inicial com “Brown Paper Bag”, o single principal do disco mais recente. Essas sequências de sonoridades mais densas e cavernosas foram interrompidas por canções mais sacudidas como “Under the Sun”, o krautrock de “(Druun, Prt II)” e o quase post-punk de “Sometime”. Mas logo o viajante clipe de “Soul-net” surgiria na projeção e levaria o público a uma trilha bastante lenta e reflexiva pelos confins mais bizarros de teorias da conspiração da cultura internética. O espetáculo visual seguiu com imagens de animais e objetos sofrendo mutações ao som de “Frog In Boiling Water” e o show teve outros pontos altos e bonitos como “Somber The Drums” e “Between Tides”. Visivelmente impressionado pela reação da plateia de pogar durante “Blankenship”, Colin chegou a dizer que “São Paulo é o melhor público da turnê”, sendo respondido com um coro de “olê olê olê / divê, divê”. Como um bom gringo, ele fez questão de registrar o momento em vídeo com seu smartphone. Depois de “Acheron”, a banda saiu dos holofotes ovacionada, apenas para retornar com um bis para mais quatro músicas, encerrando com a frenética “Doused”. Ao decretar o fim do show às 23h08, Zachary ainda recebeu uma bandeira da Palestina de uma fã na beira do palco e o grupo fez questão de tirar uma foto, empunhando o novo presente à frente do público mais que satisfeito do Cine Joia.

– Alexandre Lopes (@ociocretino) é jornalista e assina o www.ociocretino.blogspot.com.br
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br

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