Literatura: Alexander Billet problematiza música, política e sociedade no essencial “Abalar a Cidade”

 texto de  Bruno Lisboa

Alexander Billet é um escritor, artista visual e crítico cultural especializado em música, cinema e teatro. Suas palavras já ecoaram em diversos veículos de imprensa como a Jacobin, Los Angeles Review of Books Chicago Review, entre outros. Dono uma escrita didática, mordaz e pontual, Billet problematiza diversas questões ligadas a interface entre a música, a política e a sociedade.

Após anos de dedicação a escrita de artigos, o autor lançou em 2022 seu primeiro livro, “Shake the City: Experiments In Space and Time, Music and Crisis”, que ganhou em 2024 edição nacional via editora Sob Influência com o nome “Abalar a Cidade: música, capitalismo, espaço e tempo”.

Com belíssimo (e inflamável) prefácio escrito pelo musicista Rodrigo Brandão (aka Gorila Urbano), “Abalar a Cidade” funciona como um autêntico manifesto anticapitalista contra a regimes opressores mundo à fora.

Tendo como referências o trabalho de pensadores como Mark Fisher, Walter Benjamin, Simon Reynolds, Amiri Baraka, Frantz Fanon e Eduardo Galeano, entre outros, a obra tem como ponto de partida o período de efervescência cultural dos anos 1970, realizando um painel histórico abrangente, cujo mote central é demonstrar como a música guiou e/ou se fez presente em diversos momentos de mobilização política e protestos em massa nas grandes cidades.

Dos protestos contra a morte brutal de George Floyd e o movimento Black Lives Matter às manifestações chilenas de 2019; das ocupações de fábricas abandonadas em Detroit (EUA) nos anos 1980 e 19990 e o nascimento da cultura rave; das revoltas estudantis na Grã – Bretanha em 2010 ao ápice da cena grime, diversos fenômenos político-sociais são mapeados por Billet, que se debruça para analisar e dizer que, mesmo em tempos difíceis e tempestuosos, a sociedade se une e se organiza em prol da mudança.

A música dos Ramones (“Judy is a Punk”), Fela Kuti (”Zombie”), Pink Floyd (“Money”), Pet Shop Boys (“West End Girls”), Lee “Scratch” Perry (“Black Panta”), Skepta e Jme (“That’s not Me”), Clipping (“Body & Blood”), “Janelle Monáe feat. Wondaland (“Say Her Name- Hell You Talmbout”), Kendrick Lamar (“Alright”), Giovanna Daffini (“Bella Ciao”) e Victor Jara (“El Derecho de Vivir en Paz”) compõem a playlist (disponível no Spotify) que representa parte da trilha sonora que serviu como base de diversas revoluções citadas no livro.

Como o escritor afirma, “a música não pode literalmente abalar a cidade”, porém é inegável seu poder de servir não só como instrumento de conscientização, mas também promover a movimentação e a construção de novas realidades.

“Abalar a Cidade” é um convite para repensar nosso cotidiano e reconstruir o modo em que nossas relações com a música são construídas na atualidade. Tal exercício é fundamental, pois vivemos tempos nos quais ela tem sido usada e capitalizada, perigosamente, como mera commodity pelas grandes plataformas. Pode ser diferente, e Alexander Billet demonstro como em “Abalar a Cidade”, um livro desde já indispensável.

–  Bruno Lisboa  escreve no Scream & Yell desde 2014. Escreve também no www.phono.com.br

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