texto de Renan Guerra
Em 2015, “Divertida Mente” soou como um respiro de criatividade no meio das sequências e reboots dos estúdios Disney e Pixar, tanto que o filme foi extremamente bem recebido por crítica e público, chegando a ser indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original e Melhor Filme de Animação daquele ano (ganhou o segundo). Na tentativa de impulsionar suas criações originais, a Pixar demorou quase dez anos para colocar na rua o segundo filme sobre as emoções e vozes que habitam nossa cabeça, e o fato é que essa espera realmente valeu a pena: “Divertida Mente 2” é uma expansão bastante madura do universo da pequena Riley Andersen e suas emoções.
Com direção de Kelsey Mann, que estreia na função principal após trabalhar em diversos filmes da Pixar, “Divertida Mente 2” conta com roteiro de Dave Holstein (que trabalhou na série “Weeds” e criou a excelente “Kidding”, protagonizada por Jim Carrey) e Meg LeFauve, que já havia trabalhado no roteiro do primeiro filme. A grande diferença do segundo filme se dá pela entrada das novas emoções na cabecinha de Riley: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho ganham a companhia de Ansiedade, Tédio, Vergonha e Inveja. Muitos se questionaram: como eles vão explicar que os outros personagens adultos não tinham esses personagens em sua cabeça? Bem, eles não irão explicar e isso, na prática, é bastante irrelevante para a narrativa, acredite.
As novas emoções são inseridas assim que Riley entra na puberdade instalando o caos na central de comando das emoções, tudo isso enquanto acompanhamos os dramas de Riley em sua nova fase. Bem adaptada em São Francisco, cidade para a qual ela havia se mudado no primeiro filme, Riley agora tem um grupo de amigas e voltou a treinar hóquei com o time de sua nova escola, porém um final de semana decisivo pode bagunçar todas as certezas da personagem. E como uma adolescente clássica, Riley sente que todas as coisas que ela faz são completamente decisivas e que seu futuro estará arruinado se qualquer pequena coisa der errado. É nesse cenário de confusão juvenil que uma nova emoção irá rivalizar com os comandos da Alegria: a descompensada Ansiedade.
No Brasil, a Ansiedade ganhou a voz de Tatá Werneck, já no original ela é interpretada por Maya Hawke. Com um texto muito bem adaptado ao português, a dublagem brasileira fez uma excelente escolha com a presença de Tatá, que consegue construir uma Ansiedade que vai da loucura ao humor, conquistando o público, apesar do rastro de destruição que ela deixa na cabecinha de Riley. Nesse sentido, a inclusão dessa nova emoção é bastante interessante, pois expande as discussões de saúde mental que já pairavam sobre o primeiro filme e que aqui ficam ainda mais claras. A forma de apresentar as relações entre ansiedade, medo e tristeza são muito interessantes, pois explicitam para as crianças o quanto essas emoções também são importantes e que elas também podem ser sinais de complicações maiores em nosso cérebro.
Em “Divertida Mente 2” passamos grande parte do filme na cabeça de Riley, pouquíssimas vezes somos apresentados às emoções dos outros personagens, mas em compensação caímos em espaços novos da mente de Riley e descobrimos personagens maravilhosos, como um antigo desenho animado infantil que a protagonista gostava de assistir na TV ou ainda seu personagem de videogame preferido – esses momentos geram interessantes inserções de outras técnicas de animação, criando um universo estilístico bastante rico. Além disso, há a inserção breve de uma futura emoção que deve reaparecer em sequências do filme: a Nostalgia, que acaba aparecendo antes da hora. Falando em sequência, o filme deixa um gancho interessante para o desenvolvimento de um terceiro filme, e visto que o longa estreou de forma extremamente positiva nos Estados Unidos, é bem possível que essa sequência chegue rapidamente às telas de cinema.
“Divertida Mente 2” expande com criatividade e bom humor o universo que havia sido criado no primeiro filme, criando uma história até mais complexa, com mais nuances e tons para os personagens, e nos relembrando que, quando quer, a Pixar sabe fazer as coisas mais lindas e delicadas para conquistar desde o público infantil até emocionar o público adulto.
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Faz parte do Podcast Vamos Falar Sobre Música e colabora com o Monkeybuzz e a Revista Balaclava.