texto e fotos por Alexandre Biciati
Nesta semana, no dia 25 de abril, a Autêntica comemora 9 anos de uma bem-sucedida trajetória em prol da música autoral. A casa, que já ocupou dois endereços em Belo Horizonte, é reconhecida nacionalmente pelo importante papel de ser palco para artistas de todos os gêneros e de todos os estados do país. Durante os últimos anos em que ocupou o atual endereço, a Autêntica chamou atenção pela qualidade curatorial e pela frequência de eventos que oxigenam semanalmente a cena musical da cidade.
Buscando sempre se adequar às demandas do mercado e trabalhando de modo a beneficiar tanto público quanto artistas, a Autêntica adaptou formatos e explorou de diversas formas o espaçoso ambiente com capacidade para 1.200 pessoas. Isso sem nunca renunciar ao propósito por questões mercadológicas, fazendo jus ao próprio nome. Entretanto, desde o início do ano, a casa administrada pelos sócios Leo Moraes, Bernardo Dias, Tomás Gonzaga, Sérgio Lopes, Luiz Prestes e Alfredo Lanna, vem adequando sua forma de atuação na busca por uma gestão mais viável e com o menor risco possível para o empreendimento.
Na véspera do nono aniversário da Autêntica, conversamos com o sócio Leo Moraes sobre o evento comemorativo, os fatores que levaram às mudanças de rumo e os impactos da nova atuação para o mercado da música local.
O Phono, site parceiro do Scream & Yell, fez uma votação dos favoritos de Belo Horizonte em 2023, e a Autêntica figurou no topo da lista se mostrando uma preferência na noite da cidade quando o assunto é música. Conte-nos um pouco das intenções por trás desse reconhecimento.
A gente nunca quis ser uma balada. A gente não abriu pensando assim, vamos lotar de sábado a sábado e vender cerveja pra caramba e ganhar dinheiro. A gente abriu com a seguinte ideia: vamos ser um palco pra música da cidade, pros artistas contemporâneos que estiverem passando por Belo Horizonte terem um lugar legal, com estrutura bacana pra tocar. A gente sempre teve essa pegada.
Obviamente, a gente tem que se preocupar com artistas que vendem ingresso, mas a gente sempre fez a curadoria dando um jeito de encaixar aquelas coisas que a gente acha importante fazer. Tem alguns shows que a gente acredita que precisam acontecer e que, muitas vezes, têm dificuldade em conseguir esses espaços.
Pelo nosso porte, eu não conheço outra casa no Brasil e no mundo, na verdade, que faz tantos shows de artistas locais. A gente tem, por exemplo, o Baixo Mezanino [formato que acontece às quintas-feiras para até 200 pessoas], que é um formato que, se é um artista de fora tocando, a gente negocia pra entrar um artista local… então a gente tem esse carinho, esse cuidado com a cena local.
Vocês se espelharam em outro negócio nos mesmos moldes ou foi pura idealização?
Foi idealizado e foi aquela coisa meio de loucura irresponsável mesmo. Acreditando de coração. A gente não fez nenhuma pesquisa, não estudou, não conversou com dono de casa de shows, a gente não fez nada. Foi conversa: falta um espaço “assim” na cidade, a gente ficava debatendo. Alguém tinha que abrir um lugar tipo o Lapa que fosse aberto à música contemporânea, com uma estrutura legal, que desse pra gente de fora vir… Cara, por que não a gente? Vamos pegar e vamos abrir.
É perceptível que a Autêntica mudou a atuação desde o início do ano. Isso gerou uma série de boatos sobre as perspectivas da casa. O que mudou e por quê?
Nessa luta de 9 anos e com a experiência a gente percebeu que essa conta de pagar isso, vendendo cerveja e vendendo ingresso, não fecha. Com a proposta que a gente tem, a gente faz escolhas que fazem a gente ganhar menos dinheiro. O ticket médio da Autêntica é baixíssimo comparado com baladas, com casas de show com outro perfil. O nosso público vem muito pra assistir ao show e [com isso] nem o bar vende muito.
A passagem aérea está muito cara e inviabiliza um monte de coisa… os cachês estão inflacionados, porque teve esse período pós-pandemia onde apareceu um monte de festival com apoio de grandes marcas, e que não precisam da venda de ingresso para sobreviver. Claro, entra na planilha a venda de ingresso, mas boa parte dos custos estão pagos pelo patrocinador. Então, isso acabou inflacionando um pouco os cachês. Tá difícil a gente conseguir concorrer, sabe?
A gente nem pode reclamar tanto porque os artistas gostam muito de tocar na Autêntica e muitos se esforçam, e cobram até menos do que cobrariam em outras situações pra tocar na Autêntica. Tem muito artista que entende a importância disso, a importância pra eles de estarem nesse local. Porque tem aquela coisa de festival, o artista está junto com vários outros artistas, então, o público não é aquele público dele, que foi ver ele tocando. Aqui na Autêntica não, o público é o público do artista. É uma experiência totalmente diferente. A gente tem esse carinho dos artistas, né? E a gente sempre tenta fazer a negociação que seja o mais vantajosa possível para o artista.
E quais foram as dificuldades que fizeram rever o modelo de negócio?
A gente sempre colocou na conta que entrariam patrocínios eventuais, entrariam editais e tal, e isso acabou não acontecendo na quantidade que a gente precisava. Os editais a gente não conseguiu. Um dos motivos que eu acho de a gente não ter conseguido esses editais é justamente porque a imagem que as pessoas têm da Autêntica é de um espaço muito bem-sucedido. Porque o que a gente faz, modéstia à parte, é muito exuberante. A qualidade do som, a qualidade da luz, a nossa programação, a curadoria. As pessoas vêm e veem a casa cheia. É um conceito que é um pouco relativo. Às vezes é um show que parece ao público que está cheio, mas que não chegou naquele mínimo que a gente precisava pra pagar as contas.
E não tendo entrado esses patrocínios e esses editais, a gente foi obrigado a rever um pouco o modelo de negócio. E a gente já começou esse ano com uma postura um pouco diferente. Isso envolve mudar um pouco a nossa forma de negociar com os artistas, até estando dispostos a perder alguns shows que a gente gostaria muito de fazer. A questão toda é risco. Artistas, por exemplo, que pedem cachê fixo ou que pedem uma garantia de mínimo, isso tudo é um risco que a gente tem que colocar na balança e que no momento a gente não está podendo se dar ao luxo de correr. A agenda vai diminuir mesmo, vai cair, a gente vai tentar trabalhar com artistas locais, vamos tentar trabalhar com eventos menores, eventos fechados, alugando o espaço, para a gente conseguir se manter nessa proposta.
Às pessoas me perguntam de forma muito franca se a Autêntica está quebrando e eu falo assim: gente, não está quebrando, mas a Autêntica como ela existe, talvez esteja. Talvez a gente não consiga manter ela da forma como ela é por muito tempo.
O modelo que vinham praticando não era uma “fórmula de sucesso” ou funcionou por um tempo, mas não dá pra levar mais?
Nunca foi. Era uma aposta que a gente fazia. A gente falava que o nosso objetivo nesses dois anos, depois da volta da pandemia, era tentar ficar no zero a zero. Se a gente não tiver muito prejuízo está bom, porque vai vir um patrocínio, vai vir um edital e isso joga a gente pro azul. E não aconteceu. E a gente ficou, né? A gente terminou esse ano de 2023 com dificuldade, mas é claro, a gente é otimista também. Então, esse ano a gente decidiu fazer um trabalho muito mais pesado, para tentar buscar patrocínio direto.
Porque até nesse aspecto, a Autêntica é atraente para as marcas. A gente tem uma circulação grande de público, a gente tem uma venda considerável. Se o ticket médio não é tão alto, pelo volume a gente vende bastante. Então, é interessante para as marcas também estarem com a gente e elas estão começando a enxergar isso. A gente está começando a conseguir esses acessos diretos também. Nós estamos nesse momento. Alguma coisa vai ter que acontecer, sabe?
Do ponto de vista de gestão, é uma maturação do negócio, né?
É isso sim. É um negócio que envolve muita paixão também. E quando envolve paixão, é um perigo. Porque a gente brinca que a Autêntica é como se fosse um artista independente. É aquela coisa, tem aquele sonho, tem aquele ideal. Você acredita que você vai conseguir atingir um determinado lugar, né? E você quer que aquilo aconteça.
Sabe, a gente poderia colocar tipos de eventos aqui que a gente não quer porque a gente acha que não encaixa e que são muito lucrativos. E a gente tem propostas, mas a gente não faz porque isso aí é afastar demais do nosso ideal. A gente faz concessões até certo ponto sem afetar o nosso propósito. Se a coisa começa a machucar o nosso propósito, começa a perder o sentido. Aí começa a virar um negócio com um outro qualquer. E aí não sei se eu quero gastar meu tempo e minha energia.
Com essa mudança, o que permanece do ideal, do propósito da Autêntica? Imagino que vocês nunca farão um bailão sertanejo ou um festival de bandas cover…
Eu vou fazer uma confissão aqui. Em janeiro desse ano, no pior momento, quando veio aquela conta do ano passado na cabeça, arregaçando… e aí vieram as negativas dos editais e a gente teve uma decepção muito grande porque a gente estava com muita expectativa. Claro que, é aquela coisa, você não pode contar com o ovo no cu da galinha, mas não é que a gente estava contando. A gente estava com essa esperança. Aí, a gente atolado naquele monte de problema, eu cheguei e propor: vamos fazer um suicídio cultural, vamos amanhã transformar a Autêntica no Bailão Sertanejo todo dia, “novo Chalezinho”, sabe? Um posicionamento artístico, um suicídio cultural. Então, a gente não é espaço cultural? A gente não é palco permanente? Então, a gente é uma boate. Vamos virar isso. Vamos fazer isso para mostrar, para gerar discussão, para falar: não é importante para a cidade, para o poder público, ajudar a Autêntica? Entende? Era uma provocação.
A gente foi acalmando… também não precisa ser tão radical! [risos] Vamos manter a proposta, mas vamos reduzir a nossa margem de risco. Então, evento um pouquinho mais arriscado a gente já não vai fazer, infelizmente. “Nossa, mas seria tão legal fazer esse show”! Seria, mas a gente não vai fazer porque a gente não pode. A gente não tem tempo e condições de encarar esse risco. E vamos trabalhar mais com o artista local, vamos focar nos nossos eventos nas outras fontes de renda que a gente tem. O restaurante, a Paralela [espetinho recém-inaugurado ao lado da casa], o Baixo Mezanino, que são eventos menores que a gente tem muito menos custo e que a gente consegue movimentar dentro do nosso propósito. E vamos fazer os shows que aparecer. Quando vier um show patrocinado, vamos fazer.
A gente optou assim. Vamos pisar no freio, vamos baixar a bola um pouquinho. Vai reduzir o número de eventos? Vai. Vai ser mais difícil trazer certos artistas? Vai. Mas a gente vai conseguir manter a nossa proposta. E aí, paralelamente a isso, vamos buscar os patrocínios diretos. Então, a gente está exatamente nesse momento, tentando buscar esses patrocínios, essas parcerias financeiras com marcas. A gente está indo para o mercado mesmo de uma forma diferente.
Ainda sobre a negociação de cachês artísticos e o impacto dos festivais, como buscar o equilíbrio da balança?
Eu não culpo os artistas por estarem querendo aproveitar a onda boa, as vacas gordas. Eu, como artista, entendo perfeitamente. Por outro lado, acho também que oportunidades às vezes são perdidas. A gente quer que todo mundo ganhe, todo mundo saia feliz. E acho que para o artista também não é legal vir tocar, pôr o dinheiro dele no bolso e saber que quem o contratou tomou prejuízo. Porque aí já dificulta uma próxima conversa. O que eu tento sempre estimular é essa compreensão entre artista, casa de show, festival, que está todo mundo no mesmo barco. O mercado tem que ser bom pra todo mundo e tem que está todo mundo bem. Se um está levando ferro e o outro está ganhando, não é legal. E tem vários perfis. Tem artista que a gente entende que já está numa fase da carreira que ele não está mais nessa guerrilha, não precisa mais. Agora, a gente vê outros artistas que não. Poxa, a gente não está com o burro na sombra assim não! Poderia estar construindo, fazendo uma relação com o público, né? Porque a gente pensa muito nisso, cara. E vários artistas falam isso com a gente. A experiência de tocar num lugar desse do tamanho da Autêntica, para mil pessoas, é muito diferente de tocar num estádio gigante pra aquele público muito diversificado, muito eclético e que foi lá pra ver outros artistas e não [somente] você. Então, os artistas falam isso pra gente e a gente entende. Tanto que, muitos se esforçam pra estar aqui e a gente fica muito orgulhoso.
Entre oportunidades e ameaças, acaba que a cena local pode se privilegiar desse momento da Autêntica, certo?
Com certeza, com certeza. É o momento, inclusive. A gente está pra chamar os produtores locais, a galera da cena da cidade e falar: gente, vem aqui! Vamos fazer um bem bolado, vamos ocupar esse espaço. Já temos iniciativas fazendo isso. O Baixo Mezanino está cada vez melhor, em termos de público, e os artistas da cidade também descobriram que está rolando. Tá começando a ter um burburinho mesmo, as pessoas estão começando a vir e saber que está rolando. Artistas de um outro patamar estão começando a procurar querendo fazer o Baixo Mezanino. Porque é um formato super legal pra 200 pessoas. A Autêntica também pode ser ocupada dessa outra forma.
Já estão rolando algumas instalações durante o Mezanino. É possível explorar o espaço com outras formas de manifestação artística?
Com certeza. A gente é muito aberto a isso. Acontece até menos do que a gente gostaria. A gente já está tentando, tem um ano, fazer um projeto de cinema aqui. Porque aqui era um cinema, né? Mas a gente ainda não achou os parceiros. Porque tem que ser a galera do cinema que tem que ocupar. A gente não tem know-how pra fazer um evento de cinema sozinho. A gente precisa de um parceiro pra vir fazer junto com a gente e usar a estrutura da casa.
Não seria um momento propício para se falar novamente em coletivos?
De quando a abriu a Autêntica, em 2015, pra hoje… teve a pandemia no meio, que foi uma ruptura muito brusca e a cena voltou diferente depois da pandemia. Teve um corte mesmo. Mas comparando, na época que a gente começou existiam mais iniciativas coletivas. E aí eu tenho uma teoria… não sei nem se cabe na entrevista. Eu acho que tem a ver com o fato do Facebook ter cedido espaço pro Instagram como a rede social principal. Porque o Facebook, ele tinha as comunidades lá dentro. Tinha os eventos que as pessoas falavam se iam ou não iam. Ele tinha um funcionamento que propiciava as pessoas se agruparem em coletivos ali dentro.
E a dinâmica de rede do Instagram é oposta, é individualista, né?
É muito mais a coisa narcisista do que de conversar, de debater. Então, eu vejo nessa geração mais nova um olhar mais individualista. A moçada mais nova aprendeu a usar o streaming pra ganhar dinheiro e tem gente que nem faz questão de fazer show, o que eu acho que é uma pena. Aquilo foi um mantra nosso, “A vida é ao vivo”, durante a pandemia. A gente falava sempre, no grupo das casas de shows, que o encontro, a experiência de você assistir um show ao vivo é insubstituível, não tem live que resolva. A gente viu isso da pandemia.
A gente viu também muitos eventos voltados à classe artística que desapareceram.
A gente já tem idade pra ter visto vários ciclos acontecerem, né? Eu acho que é um ciclo, a gente está num momento que está assim, mas eu acredito muito nisso que a gente está fazendo aqui. Sentar, comer um espetinho, tomar uma cerveja, ir num lugar pra ver um show junto com as pessoas… e o artista está ali na sua frente, ele não está na casa dele lá em Nova York. Ele está ali no palco, a poucos metros de você. Isso é insubstituível, não tem inteligência artificial, não tem tecnologia que substitua isso.
Na pandemia as pessoas entenderam o tanto que isso é importante. Antes da pandemia, o próprio negócio de casa de show estava sendo questionado, se fazia sentido ter ainda. A gente falava disso nos grupos porque as pessoas não estavam mais dando tanto valor pra isso. E quando veio a pandemia as pessoas sentiram o que era e quando voltaram, voltaram numa sede de estarem juntas, de estarem nos lugares. A gente apostou nisso também de uma forma, de novo, irresponsável e sonhadora.
Quando você faz uma coisa que é meio contra a corrente, tem duas chances. Ou você se dá muito mal, ou você pega uma onda dessas e se dá bem. A gente deu essa sorte quando a gente abriu. Cara, a gente ouviu cada coisa durante a pandemia! “Vocês são burros? Falar de evento agora? Falar de casa de show? Tem várias casas de show pensando em reduzir para lugares menores, e vocês indo para um lugar maior”! Então, a gente foi meio na contramão.
Pra ficar claro, como a casa está funcionando hoje? Que tipo de evento interessa? Qual perfil de produtor deve procurar a Autêntica?
A sociedade [da Autêntica] é a mesma. A gente continua com o mesmo ideal: de ser a casa que abre espaço para os artistas da cidade e para os artistas de fora que não têm outro lugar para tocar. A gente quer continuar ocupando esse lugar. Quem deve procurar a gente? Quem estiver disposto a parcerias. A gente está se afastando do lugar de contratante para passar pro lugar de parceiro de iniciativas. Vamos fazer um negócio junto? Vamos fazer junto e vamos trabalhar pra dar certo. É uma mudança de mentalidade. Uma marca quer fazer um evento, quer fazer um investimento? Estamos aqui e vamos fazer como já fizemos várias vezes. É isso. [Queremos] Produtores que estejam dispostos a parcerias e a empreender juntos naquela noite, naquele evento.
Vamos falar do aniversário. Como é comemorar 9 anos com a presença do Pato Fu? Quão especial é receber uma banda tão simbólica para a música de Beagá?
O Pato Fu é, pessoalmente, tão importante na minha formação! Não só musical, mas como Belo Horizontino. Eu tinha vindo do interior. Cheguei aqui em BH em 1990 e estava aquele período com a (gravadora) Cogumelo bombando ainda. Tinha tudo, o Sepultura surgindo, metal e várias coisas acontecendo. E tem uma história engraçada com o Pato Fu, porque eu morava no centro e eu já estava tocando. Eu ia muito na Guitar Shop, que era ali na Galeria São Paulo, e quem me vendia encordoamento, paleta, essas coisas, era o Koctus (baixista do Pato Fu(. E eu não sabia na época, né?
O Pato Fu estava começando a surgir, já estava rolando “A Unimed é quem vai pagar”. E toda vez que eu ia lá comprar corda, o Koctus falava assim, “a gente vai tocar em tal lugar, vai lá ver”. Aí o primeiro show do Pato Fu que eu fui ver, de fato, foi lá na Escola de Arquitetura, que era onde eu estudava. Era uma festa das bruxas. Eles não tinham baterista, eles tocavam com os “128 japoneses”. E o show foi em cima da laje do D.A. da Arquitetura. Eu já estava curtindo a banda de ouvir. Eu tinha visto um clipe que é meio aquela linguagem VHS, não dá pra ver muito as pessoas. Aí quando eles sobem na laje eu vejo o Koctus. “Cara, esse é um cara que me vende corda lá! Eu converso com ele todo dia”! Então, o Pato Fu tem essa coisa pra mim que marcou mesmo, marcou minha vida.
E eles são muito à cara de Belo Horizonte, né? Eles têm orgulho disso, eles frequentam a cena. O John e a Fernanda tocaram algumas vezes na Autêntica antiga, não como o Pato Fu, mas fazendo participações em shows de outros artistas, de parceiros, então a gente já tinha uma relação. Quando a gente anunciou o nosso encerramento, a gente fez a #FoinaAutentica, para as pessoas contarem casos da Autêntica. A Fernanda postou que tocou com o Humberto Effe e tal, então, assim, essa relação já existia. A gente já tenta trazer o Pato Fu desde que a gente abriu a nova Autêntica aqui. E o Richard, que é o tecladista, vive vindo aqui. “Quando é que nós vamos fazer o Pato Fu?” Eu falo, cara, eu é que pergunto! [risos] Só faltava aquele empurrão. E o aniversário da Autêntica é uma data que a gente sempre comemorou muito, desde o primeiro ano.
Foi aquilo, a gente começou meio no escudo sem saber o que ia acontecer e no primeiro ano a gente já tinha entendido o tamanho da encrenca que era. Então, cada ano a gente comemora assim: mais um ano, mais um ano, mais um ano… E a gente sempre fez eventos muito especiais. No aniversário de dois anos foi O Terno convidando Tulipa Ruiz. A gente gostava de promover uns encontros inusitados. E esse show deu tão certo que eles acabaram fazendo em outras casas pelo Brasil. A gente já teve a Ju Perdigão convidando a Ava Rocha, que também rendeu um monte de coisas. Esse dia foi incrível, porque por coincidência a Tulipa estava aqui em BH tocando em outro lugar e o Lucas Santtana também estava tocando em outro lugar. E aí eles foram lá para a Autêntica depois e acabaram subindo no palco. Foi um encontro histórico também. Então, assim, a gente gosta do aniversário. A gente adora celebrar. Quando chega o aniversário, joga pra cima.
Como rolou o convite para o Mike Stern?
A gente tem uma conexão com o jazz por causa de Serginho [sócio]. Porque o Serginho, lá em Viçosa, tem o festival ViJazz, que já está na 17ª edição, se não me engano. Ele sempre traz artistas internacionais. Tanto que a inauguração da Autêntica lá na [Rua] Alagoas foi com o [baterista] Billy Coban. Então, o Serginho está sempre ligado nesses caras que tão circulando pelo Brasil. “E aí, o Mike Stern, vamos fazer, não vamos?”… conversa daqui, conversa dali, e finalmente conseguimos chegar num meio termo com ele. Mas aí que está, de novo, quando o artista tem essa disposição facilita tudo. E vai ser incrível, vai ter o Dennis Chambers, o baterista que fez um workshop na Autêntica antiga. E vai ter o Black Alien!
Então, o final de semana do aniversário vai ser o Pato Fu, o Black Alien e o Mike Stern. Arremata uma cara de Autêntica, sabe? Vai ter o Pato Fu, que é a banda local que cresceu, aí tem um artista internacional do jazz e vai ter um rapper que tem uma conexão. Essa Autêntica, nesse novo local, criou uma conexão também com o público do rap, que lá na antiga a gente não tinha.
E qual a expectativa daqui pra frente pra chegar aos 10 anos da Autêntica?
Pois é, aí que está, cara, é um ano decisivo. Pra quem está perguntando: a Autêntica não vai fechar! Mas esse ano é decisivo, pra saber como que a gente vai conseguir continuar fazendo o que a gente faz. Se a gente vai continuar fazendo da mesma forma ou se a gente vai ter que ter alguma mudança. Alguma coisa vai acontecer. A gente está nesse momento decisivo, entrando no décimo ano da Autêntica e a gente gosta do desafio. Eu brinco que aqui na Autêntica tem euforia, tem cagaço, tem tristeza, tem alegria, tem desespero, tem tranquilidade, tem comemoração, tem tudo. Tédio não.
Alexandre Biciati é fotógrafo e editor da Phono: https://www.phono.com.br/