Três comédias românticas: “Sem Pressão”, “Agência do Amor”, “Todos Menos Você”

textos por Marcelo Costa

“Sem Pressão”, de Bartosz Prokopowicz (2024)
Buscando expandir o filão de comédias românticas pelo mundo com produção própria, a Netflix parece ter encontrado na Polônia um cinema interessado em recriar a atmosfera das produções hollywoodianos com um temperinho local naquela vibe sem muita personalidade e com vocação para descartabilidade. Dito isso, após o desperdício de potencial de “Me Mate, Querido”, que estreou na plataforma brasileira em fevereiro, chega “Sem Pressão” (“Nic na Siłę”, no original), do diretor Bartosz Prokopowicz (que tem no currículo obras como “Meu Namorado Astronauta”, de 2023, e “Uma Noiva em Apuros”, de 2020), filme que acompanha a história de Oliwia Madej (Anna Szymanczyk), uma chef de cozinha que vem ascendendo na gastronomia trabalhando em um restaurante na Breslávia, a quarta mais populosa cidade da Polônia (com 640 mil habitantes), quando recebe um telefonema: sua avó, que vivia sozinha numa fazenda na região rural da Podláquia, faleceu, e ela precisa ir para o funeral. Porém, ao chegar lá, Oliwia descobre que tudo não passou de uma armação da avó para que ela voltasse para a fazenda – de idade avançada, a avó quer que a neta assuma o seu lugar, e não só coloca tudo no nome dela como dá no pé na manhã seguinte deixando tudo na responsabilidade de Oliwia, que irá precisar cuidar dos animais da fazenda e lidar com um processo de um fazendeiro vizinho, que exige uma pequena fortuna de multa. “Sem Pressão” repete os mesmos problemas de “Me Mate, Querido”, principalmente no que diz respeito a edição frágil e a total falta de química entre o par romântico (sem contar o número musical pop sem nenhuma graça), o que dificulta acompanhar os primeiros 20 minutos. Porém, há um interessante subtexto no embate entre “vida no campo vs vida na cidade” tanto quanto um olhar delicado para as tradições, o que gera certa simpatia com a produção. Basta para salvar o filme? Não, mas também não estamos diante de um desastre completo (estilo “Happiness for Beginners”, outra produção da Netflix, essa nada recomendável): eis um daqueles filmes para assistir despretensiosamente relevando os deslizes (muitos) e valorizando os acertos (alguns) visando passar o tempo… Pode funcionar. Quer personalidade? Procure “Folhas de Outono“.

Nota: 6


“Agência do Amor”, de Shirel Peleg (2024)
Deve existir uma pesquisa, espero, que aponte e justifique que colocar nomes bregas no título traduzido de filmes no Brasil aumenta a procura por eles nas plataformas de streaming. Só isso pode justificar transformarem o título alemão (“Die Liebeskümmerer” / “Os Apaixonados”) e sua versão em inglês (“The Heartbreak Agency”  / “A Agência dos Corações Partidos”) no tenebroso “Agência do Amor”, pois é preciso determinação e coragem para clicar nesse filme no catálogo do Netflix e, ainda, dar play. Passado o desafio inicial, porém, o espectador pode ser surpreendido com um filme bastante agradável sobre Karl (o austríaco Laurence Rupp), um jornalista e colunista voraz que adora destruir reputações ao mesmo tempo em que não consegue se apaixonar por ninguém, e Maria (a atriz alemã Rosalie Thomass), uma terapeuta e empreendedora que, após uma desilusão amorosa, vem chamando a atenção com uma agência que busca consolar pessoas que foram abandonadas em seus relacionamentos. Acontece que uma de suas clientes é uma ex de Karl, que terminou com ele porque percebeu que ele não estava interessado em uma relacionamento mais sério. Ao descobrir que a garota terminou com ele motivada pelos encontros com Maria, Karl escreve um artigo abertamente machista (ainda que ele não perceba isso – a ficha sempre demora à cair) contra Maria, o que causa sua demissão da revista em que colabora, e seu “cancelamento” no mercado de trabalho. Desesperado, Karl retorna à redação implorando seu emprego de volta, e ouve de seu editor: “Ok, uma chance: me entrega um artigo sobre desilusão amorosa e como supera-la… um texto com sinceridade e sentimentos”. Não é só: o editor recomenda, ainda, que Karl faça a terapia na agência de Maria para que o texto seja mais… verossímil. É bastante óbvio como tudo isso vai acabar, mas o que recomenda “The Heartbreak Agency” é a maneira como o roteiro chega lá caçoando de comédias românticas, músicas melosas como “Eternal Flame”, do Bangles (aliás, se você não segue a incrível Susanna Hoffs no Instagram, faça isso agora) e a fixação doida que casais têm pelo por-do-sol. Vença o preconceito contra títulos bestas e se divirta.

Nota: 7


“Todos Menos Você”, de Wiill Gluck (2023)
Em seu apogeu, estilístico e textual, uma simples comédia romântica pode adentrar o território tanto das “arid comedies” (subgênero transformado em grande arte por nomes como Howard Hawks e Billy Wilder) quanto o das impagáveis comédias de erros nascidas no teatro e cujo maior nome é o maridão da senhora Anne Hathaway, ele mesmo, o grande William Shakespeare – não a toa, sua quinta peça escrita (entre 1592 e 1593) leva o nome de “The Comedy of Errors”. A comédia romântica “Todos Menos Você” (“Anyone But You”), dirigida por Wiill Gluck (dos hits “Pedro, o Coelho” 1 e 2) busca inspiração em uma das obras mais divertidas de Shakespeare, “Muito Barulho por Nada” (1598/1599), cumprindo as expectativas por não se levar nem um pouco a sério (no melhor estilo do bardo inglês). Na trama escrita por Gluck e Ilana Wolpert, a jovem Bea (Sydney Sweeney, de “Euphoria” e de “White Lotus”- série que também colocou outra coadjuvante em uma comédia romântica shakespeariana) encontra seu príncipe encantado, Ben (Glen Powell), numa cafeteria. Eles passam a noite juntos, apenas conversando, e tudo teria um destino mais calmo se Bea, assustada, não saísse escondida antes do rapaz acordar. Começa, então, uma sucessão de erros que faz com que o casal de pombinhos se odeie ferozmente. Acontece que a irmã dela irá se casar com a irmã do melhor amigo dele em Sidney, na Austrália, e Bea e Ben irão ter que se aturar num fim de semana pelo bem geral da cerimômia. E da-lhe vai e volta e acaba e começa de novo tendo a estupenda Ópera de Sidney como cartão postal – como pouco clichê é bobagem no estilo há até close num coala – e a música “Unwritten”, da cantora britânica Natasha Bedingfield, embalando a história (até o espectador enjoar). Ainda assim, “Todos Menos Você” é uma das melhores comédias românticas da safra recente (obrigado, William), muito pela quimica da dupla Sydney Sweeney e Glen Powell, como também por um elenco secundário excelente. Altamente recomendável.

Nota: 7.5

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.

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