textos por Marcelo Costa
“Pedido Irlandês”, de Janeen Damian (2024)
Em seu segundo filme consecutivo feito para a Netflix, Lindsay Lohan parece atrair a má vontade da crítica em geral, que bateu em “Irish Wish” como se estivesse malhando uma pinhata ruiva a marretadas, o que é um certo exagero. Sim, “Pedido Irlandês” não traz nenhuma novidade, é tão previsível quanto excessivamente límpido, mas… funciona. É sério! LiLo interpreta a atabalhoada editora de livros Maddie, que está completamente apaixonada pelo galã ricaço e dublê de escritor Paul Kennedy (Alexander Vlahos). Acontece que ela não consegue se declarar, e de tanto perder oportunidade acaba vendo seu crush ser fisgado por sua melhor amiga (quem nunca, né mesmo?). Resultado: Paul irá se casar com Emma (Elizabeth Tan) no castelo de sua família na Irlanda e Maddie ainda vai ter que subir no altar como dama de honra. Já que desgraça pouca é bobagem, a mala de Maddie é extraviada no aeroporto e ela tem que aturar um cara meio sarcástico, o fotógrafo James Thomas (Ed Speleers), no trajeto de ônibus até a cidade. Tudo parece perdido para Maddie até ela encontrar Santa Brígida, a padroeira da Europa, em um local mágico e externar a ela seu desejo: se casar com Paul Kennedy. A santa, então, realiza o desejo da moça, que toma o lugar da amiga Emma, mas, na prática do amor, a teoria se mostra outra coisa, e uma série de confusões atravessam o caminho de LiLo. Comédia romântica turística – filmada em Dublin, Wicklow e Westport com destaque para o lago Tay, os penhascos de Moher, a praça da cidade de Westport e o Clarence Hotel –, “Pedido Irlandês” sugere fragilidade pela paixonite tonta de Maddie, mas que entorne um pint de Guiness quem nunca se apaixonou sem motivo aparente por uma pessoa completamente bocó e sem sal. No fim das contas, “Pedido Irlandês” soa simples e bonitinho. Para uma comédia romântica banal está bom demais.
Nota: 6
“Me Mate, Querido”, de Filip Zylber (2024)
Não se engane: “Zabij Mnie, Kochanie” (no original), adaptação polonesa de um filme original turco de 2019 do diretor Senol Sönmez e do roteirista Murat Disli, é pura comédia (romântica?) de erros made in USA, do roteiro engraçadinho passando por iluminação, enquadramento e edição – tudo careta como em “Pedido Irlandês”. A vantagem do diretor Filip Zylber (que, num filme sob encomenda da Netflix, utilizou o mesmo roteirista da produção original) é que a safra estadunidense anda tão fraca que ele nem precisou muito para fazer um filme (quase) correto para se sobressair a turma de Hollywood – o que, convenhamos, também não significa grandes coisas. Na trama de “Me Mate, Querido”, um casal está festejando cinco anos de casados, sendo que ela, Natália (Weronika Ksiazkiewicz), não anda muito feliz com a relação e com o fato do maridão, Piotr (Mateusz Banasiuk), ter como chefe a ex-namorada. A “sorte”, no entanto, cruza o caminho deles: numa raspadinha, os dois faturam uma pequena fortuna em dinheiro, algo que cairá como um fardo sobre os ombros de ambos, já que o melhor amigo de cada um deles trabalhará dia e noite para convencê-los que o outro quer matá-lo para ficar com o dinheiro sozinho, e que a saída é matá-lo(a) antes. Começa, então, uma comédia de erros vitimada pela pouca química entre o casal principal, muito pela falta de charme do personagem Piotr – difícil acreditar que Natália se casou com uma pessoa completamente bocó e sem sal (ops), mas sem uma santa ajudando a desmascarar a chatura acontece muito – e outro tanto pelos momentos cômicos sem graça (sem contar o desfecho óbvio da fortuna). A sensação é de que o roteiro anda na corda bamba entre o humor ácido e a comédia romântica, e essa falta de definição acaba resultando num filme que tinha potencial para ser mais interessante, mas acaba soando apenas simpático. Para ver, rir (?) e (não) esquecer (de jogar na loteria – isso de que dinheiro não traz felicidade é coisa de comédia romântica turca, polonesa e estadunidense).
Nota: 5
“Golpe de Sorte em Paris”, Woody Allen (2023)
Filmado na capital francesa (doze anos após o maior sucesso de toda sua filmografia, o brilhante “Meia-Noite em Paris”), “Coup de Chance” (no original) é o primeiro filme de toda a carreira de Woody Allen falado em francês com um elenco totalmente local. Mas, não se engane, tudo aqui é o mais Woody Allen possível (da safra mais séria do diretor), com reminiscências de clássicos como “Crimes e Pecados” (1989) e “Match Point” (2005), ainda que soe mais leve que ambos. Na trama, Fanny (Lou de Laage) vive uma vidinha agradável, ainda que tolamente superficial, com um marido milionário que ela ama por inércia, Jean (Melvil Poupaud), amigos dele que a apelidam de “esposa troféu”, e um trabalho numa casa de leilões. A vida segue sem graça até ela cruzar, por acaso (o acaso é uma paixão de Woody, você sabe), Alain (Niels Schneider), um colega de faculdade que ela não via há muito tempo, que agora é escritor e que revelará que sempre foi apaixonado por ela. A vidinha monótona de Fanny ganhará contornos dramáticos com nossa garota sonhadora alternando baguetes com o rapaz no almoço com encontros apaixonados no meio da tarde no apartamento alugado dele, algo que deixará Jean (que tem um passado “nebuloso”) desconfiado. Desta forma, o espectador acompanha o desenrolar desse triangulo amoroso aguardando a tragédia típica que o cinema francês transformou em arte, e é aqui que Woody Allen brilha ao desvelar a trama como uma irresistível piada de sogra… de 96 minutos de duração – algo que aproxima esse filme de “Dirigindo no Escuro”, que também guarda uma grande piada com os franceses para o ato final. Ainda assim, a decantada obra derradeira (será?) de um dos maiores cineastas da história soa feita no piloto automático, sem muita profundidade… nem paixão. Se for realmente seu adeus, é uma pena, pois Woody pode mais do que oferece em “Coup de Chance”, que não mancha o currículo, mas soa pálido e pouco sedutor. Ainda assim, é um Woody Allen, por isso sempre merece atenção.
Nota: 7
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.