Panoramas da Iberoamérica pela FARO: Os destaques de setembro em oito países (Anabel Lee, Fonso, Gonzalo Rubalcaba, Ogi)

por ALIANÇA FARO

Esta é uma daquelas situações que gostaríamos de não ter de explicar, porque é muito difícil, mas queremos dedicar este Panorama ao nosso amigo e colega Rubén Scaramuzzino, diretor da revista espanhola Zona de Obras, que faleceu há poucos dias. Rubén foi a alma e o fundador da FARO, a aliança de meios de comunicação musical ibero-americanos que todos os meses se junta para apresentar este resumo dos acontecimentos mais importantes da cena musical dos nossos respectivos países. É por isso que é muito difícil explicar como nos sentimos órfãos com a sua partida.

Rubén era a FARO e a FARO era Rubén. A sua vitalidade contagiante, a sua fé no projeto e o seu espírito inabalável nas reuniões, convencido da importância de estarmos unidos perante os desafios que o futuro nos reserva, farão muita falta. A sua ausência deixará um vazio muito difícil de preencher na Aliança, mas estamos certos de que a melhor homenagem que podemos prestar ao Rubén é manter com mais firmeza e força do que nunca os objetivos que o levaram a acreditar na FARO. Queremos que o seu espírito não desapareça e que esta união de revistas de música de diversos países se converta no ponto de referência que Rubén sonhou dentro da indústria musical ibero-americana. Será muito difícil fazê-lo sem ele, mas será mais fácil fazê-lo por causa dele. Por isso, finalmente, só nos resta dizer: “Um brinde a ti, meu amigo Rubén”. A FARO não se apaga!

Faro é uma aliança ibero-americana de meios culturais formada por Indie Hoy (Argentina), Indie Rocks (México), Magazine AM:PM (Cuba), Mondo Sonoro e Zona de Obras (Espanha), Piiila Musica (Uruguai), POTQ (Chile), Shock (Colômbia) e Scream & Yell (Brasil) . Cada uma destas recomendações, mais uma seleção muito mais ampla, pode ser encontrada, como sempre, na nossa playlist Panorama Iberoamericano no Spotify. Conheça os destaques de cada país abaixo: selecionados!


ARGENTINA
Por Juampa Barbero – Indie Hoy

“DÍA DEL TRABAJADOR”, FONSO
No seu quarto álbum, Fonso abandona a colagem de samples que caracterizava o seu som para abraçar o puro rock argentino. “Día del Trabajador” encontra o versátil músico de Castelar colaboraçando com Leandro Lopatín – membro de Turf e Poncho – na produção e com convidados especiais como Marilina Bertoldi, Daniel Melingo, Cuino Scornik e El Príncipe Idiota. Nas suas dez canções, Lucas Difonzo joga com elementos do rock progressivo, do garage e do folk com influências de Andrés Calamaro e Charly García, assim como de Television, Sparklehorse e Lou Reed, entrelaçados com a força literária de Lucio Mansilla, Witold Gombrowicz e Domingo Faustino Sarmiento. “Día del Trabajador” aborda o amor ao mesmo tempo que critica a norma pop e alerta para a decadência humana na vida urbana. Tão comovente quanto pungente, Fonso oferece uma ode poética e irónica ao trabalho como fonte de dignidade.

Playlist Argentina:
Fonso – “No me afecta”
Guacho Bleu – “Seco las lágrimas”
Lupe – “Nuestros besos”
Fermín – “Elemento”
Bestia Bebé – “El verano”


BRASIL
por Marcelo Costa – Scream & Yell

“ALEATORIAMENTE”, RODRIGO OGI
Quer ter uma vaga ideia de como é viver numa megalópole de 12 milhões de seres humanos (sem contar gatos, cachorros, ratos, baratas e ursinhos peludos) como São Paulo? Mergulhe de olhos abertos e ouvidos atentos na obra do rapper Rodrigo Ogi, que começou na arte da pixação até descobrir sua afinidade com os versos do hip hop. “Aleatoriamente“, seu terceiro disco, chega com as mãos do parceiro Kiko Dinucci (Metá Metá) na produção e nomes badalados nos feats, o fino do fino da música brasileira 2023: Juçara Marçal, Russo Passapusso (BaianaSystem), Siba, Don L, Thiago França e Tulipa Ruiz. O ritmo é quebrado, as letras, densas, tal qual o cotidiano complexo do Brasil: “Estou acumulando tudo / As minhas dores do mundo / Doente igual meu país / O ódio invade a raiz”, canta em “Rotina”, primeira faixa do álbum. Em “Eu Mudei Pra Esse Prédio”, os personagens são a tristeza, a coragem, o medo e o tédio, entre outros. Em pouco mais de meia hora e doze músicas, Ogi falará de amor, de trabalho precarizado, de violência policial e outras rotinas aleatórias da vida de um cidadão brasileiro. Discaço!

Playlist Brasil
Rodrigo Ogi – Rotina
Jongo do Vale do Café – Senta no Banco de Areia, Minha Mãe É uma Sereia, Se Eu Soubesse Que Ocê Vinha
Uyara Torrente – Eu Vou Sequestrar Você
My Magical Glowing Lens – Sobrevoar
Jaloo – Te Quero Te Ver Gozar


CHILE
Por POTQ Magazine

“AL CALOR DE UN SOL QUE ACABA DE MORIR”, MARINEROS
“O Marineros”, álbum de estreia do projeto formado por Sol y Cer, nos deixou deslumbrados em 2015. Porém, oito anos se passaram, e o mundo, o Chile e Marineros já não são os mesmos. Após uma sequência de singles, é chegada a hora do segundo e tão esperado álbum de estúdio! “Al calor de un sol que acaba de morir” é composto por nove canções que nos dão amostras melódicas das mudanças que a dupla enfrentou. O resultado é uma viagem emocional que soa como uma mutação; anos de mudanças, crescimento e dor, que coexistem com a guitarra e o piano, dois dos principais elementos do álbum. “Essas músicas são sobre deixar para trás o que éramos e olhar para dentro de nós mesmos. É a morte de uma ilusão e o início da próxima aventura”, avisa o comunicado de imprensa. Uma afirmação muito próxima do que temos vivido no Chile nos últimos anos.

Playlist Chile
Marineros – Salvaje e Tierno
Como asesinar a felipes – ‘En pausa’
Gianluca – ‘Laberinto’
MJLA – Knock
Leo Saavedra – Niño


COLOMBIA
Por Santiago CembranoShock.co

“EL DERROCHE”, FELIPE ORJUELA
Depois de apresentar “La Nueva Estudiantina Eletrónica” (2022) com o grupo do mesmo nome, o músico de Bogotá regressa como solista para nos guiar através de um códice de cumbia, charanga e eletrônica. Tanto os personagens que inspiram Felipe Orjuela como os ritmos com que toca são díspares, mas coexistem graças ao filtro do autor, que não pretende viajar no tempo e chegar aos gloriosos anos 1970 de que bebe, mas funde o tempo e as distâncias para revelar como todas estas referências estão vivas na Bogotá de 2023. Por trás de cada canção de “El Derroche”, que conta com colaborações de Gato ‘e Monte, Gabriela Ponce, Fintas e inDiazo, entre outros, há teoria e prática. São histórias, buscas musicais, caprichos e propostas que revelam um ouvido curioso e experiente // Leia aqui a crítica completa do álbum. 

Playlist Colômbia
Últimos atardeceres – Nicolás y los Fumadores
Tutorial para olvidarme de ti – Laura Pérez
DUELE – Rap bang club ft. Dawer x Damper
Pa´ la pollita – Hazlopablito
Tenerlo todo – Armenia ft. Irepelusa


CUBA
pela Equipe do site Magazine AM:PM

“BORROWED ROSES”, GONZALO RUBALCABA
A melancolia, que sempre foi um estado de espírito presente na obra de Gonzalo Rubalcaba, atinge novos patamares com esta espetacular viagem ao piano solo. Doze peças em que o extraordinário jazzista cubano revisita standards e canções populares (Billy Strayhorn, Gershwin, Lennon/McCartney, Duke Ellington, entre outros), impregnando-os de uma bela pátina como a luz que ilumina o ambiente no final da noite. Com a graça de um mestre japonês de haicai, Rubalcaba poda estas canções de enfeites e floreados, deixando a sua alma exposta, com um brilho quente, reminiscente do melhor Bill Evans. Depois de uma temporada que inclui um prêmio Grammy (“Skyline”, em 2022) e um trio memorável junto as outras lendas do jazz Jack DeJohnette Jack e Ron Carter, esta nova incursão solo ao piano confirma tanto a versatilidade criativa de Gonzalo Rubalcaba como o estado de graça em que se encontra neste momento. E nós não queremos que ele pare.

Playlist Cuba
Gonzalo Rubalcaba – Take Five
Sindicato Del Ritmo; Caloncho – Palmar
Wampi – Maleante
Alexander Abreu y Havana D’Primera – Pueblo Griffo
Frank Mitchel – Los ojos del guardián


ESPANHA
pela equipe do site Mondo Sonoro

“GANAMOS PERDIENDO”, ANABEL LEE
Passaram quase três anos desde a estreia de Anabel Lee, tempo que a banda de Terrassa (Barcelona) aproveitou perfeitamente para lubrificar as rodas do seu segundo álbum, “Ganamos Perdiendo”. O quarteto deixou de ser tão explícito nas suas letras, para dar um ar muito mais fresco às novas peças, sem perder de vista a sua veia mais punk. Basta ouvir a primeira frase de “Me das Asco” para perceber que esse espírito continua intacto. No entanto, apesar das guitarras presentes, o álbum tem um tom mais melancólico. De fato, soam muito mais como uma banda do que antes, o que os levou a passar de uma banda promissora a uma realidade no underground espanhol. Agora têm pela frente o melhor que sabem fazer: defender ao vivo estas novas canções, nas quais nos levarão de cabeça para dentro de “Pogo, diversión y sentimiento”.

Playlist Espanha
Anabel Lee – Tus putas cacniones
Melenas – Mal
Viva Belgrado – Elena Observando la Osa Mayor
Travis Birds – Grillos
Grande Amore – Pelea


MÉXICO
por Cynthia Flores – Indie Rocks!

“AFTER DESTRUCTION”, DESCARTES A KANT
2023 tem sido muito interessante devido ao regresso de muitas bandas indie mexicanas icónicas, e uma das voltas de maior destaque é o da Descartes a Kant, uma banda independente de rock experimental de Guadalajara que, surpreendentemente, lançou seu novo single, “After Destruction”, acompanhado por um vídeo incrível que os apresentou com uma nova formação, uma nova imagem – uma bela homenagem ao DEVO – e muito mais surpresas que foram desencadeadas em torno do conceito do seu quarto disco, que também leva o nome de “After Destruction” e foi lançado em 29 de setembro sob a etiqueta independente Cleopatra Records. Trata-se de um álbum conceitual criado na pandemia que retrata o mal-estar psicológico de uma sociedade isolada entre redes sociais, consumismo, a produtividade e uma miríade de questões que vivemos hoje em dia. “The DAK”, uma máquina retrofuturista, vos dará algum alívio e conselhos para lidar com tudo isso. O som exibe uma refrescante fusão de rock, pop, progressivo, cheio de força e nostalgia nas suas guitarras, baixo e bateria poderosos intercalados com mais experimentações sônicas que irão complementar a narrativa deste incrível lançamento. Ouça com muita atenção.

Playlist México
Tino el Pingüino – Entrevisión
Jay de la Cueva – Tokyo
babastutsipop – tu liga del pelo
Pahua & Barzo – Sigo tus pasos
Diles que no me maten – Prototipos


URUGUAI
por Kristel Latecki do site PiiiLA

“TODAS LAS COSAS QUE NO HABÍA PODIDO DECIR”, VICTORIA BRION
Desde 2019 que Victoria Brion vem lançando singles que, aos poucos, vão montando um retrato de aquarela com cores e sons que se vão combinando entre si, e transformando-se. Um fraseado meio jazzístico, uma métrica mais rap aqui; melodias diáfanas com ritmos sinuosos, por vezes angulosos e perigosos ali; firmeza eletrônica contrabalançada com lisergia r&b acolá. No entanto, para o seu álbum de estreia, que leva o título confessional de “Todas las Cosas que no Había Podido Decir”, a paleta foi reduzida a um sóbrio e dramático preto e branco. Mas, longe de ser um exercício de simplificação, é a condensação de tudo que ela vinha praticando. Aqui, a cantora, compositora e multi-instrumentista vai ao fundo de si mesma para extrair, observar, processar e renovar. Acompanhada por uma formação estelar (incluindo referências musicais montevideanas como Fabrizio Rossi e Santiago Marrero, instrumentistas como o baterista Juanma Cayota e Felipe Fuentes no baixo, e finalmente o grande Luciano Supervielle) Victoria pintou as suas novas canções num claro-escuro selvagem, com intensidade e beleza memoráveis.

Playlist Uruguai
Victoria Brion – El Cielo Es Fuego
Luis Angelero – Lo Que Tenemos Que Hacer
Hankeliana – Tan Azul
Facundo Balta – Antes De Que Sea Tarde
Ruben Rada Y Adriana Varela – Patotero Sentimental

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