entrevista por Luiz Mazetto
10 anos separam “Breaking the Balls of History” (2023), mais novo disco da banda de rock alternativo Quasi, e o seu antecessor “Mole City” (2013). Mas poderiam ter sido 10 dias. Isso porque o duo de Portland formado pelo multi-instrumentista Sam Coomes (Moustache, Built to Spill) e a baterista Janet Weiss (Sleater Kinney) parece ter retomado exatamente de onde tinham parado em seu até então último trabalho – juntos, Sam e Janet foram a banda de apoio de Elliott Smith em 1998/1999, abrindo vários shows dessa turnê com o Quasi.
Primeiro disco deles pela lendária Sub Pop Records, da vizinha Seattle, (os anteriores também saíram por selos míticos: Kill Rock Stars, Touch & Go e Domino Records), o mais novo disco da banda traz algumas marcas já registradas do grupo, como as melodias que parecem saídas de uma banda de rock dos anos 1960 e as linhas de bateria criativas de Janet, misturadas a uma aura de estranheza quase indefinível, mas facilmente reconhecível para quem acompanha o grupo ao longo das últimas três décadas.
Essa conexão especial entre eles é inclusive destacada pelos músicos na entrevista abaixo, sendo definida por Sam como “uma conexão musical rara, que não é algo que você encontra facilmente”. Na oportunidade, a dupla também falou sobre como a composição do disco começou meio que por acaso, de forma espontânea em meio às sessões de ensaios diárias que faziam parte do processo de fisioterapia para a recuperação de Janet – ela e o marido sofreram um acidente de carro em 2019 – sobre as vantagens e desvantagens de fazer turnês em uma banda de duas pessoas, as diferenças de cair na estrada nos EUA e na Europa e os discos (e estação de rádio) que mudaram as suas vidas.
Esse é o primeiro disco de vocês em 10 anos. E ele foi produzido em uma situação bastante desafiadora, após o acidente de carro da Janet e em meio à pandemia de COVID-19. Por isso, gostaria de saber o que fez vocês pensarem que esse era o momento de se reunirem novamente para fazer um disco?
Sam: Há muitas razões. Acho que parte foi por causa do ferimento da Janet, (pois) parte de sua fisioterapia era apenas tocar bateria. Então nos juntamos e tocamos todos os dias e ela conseguiu recuperar suas habilidades na bateria e sua saúde física, dessa maneira. Então nós já estávamos tocando e a parte criativa meio que apenas cresceu a partir daí.
Janet: Sim. Por estarmos na sala de ensaios todos os dias, foi realmente conveniente e fácil começar a trabalhar em material novo. E o Sam continuava sempre aparecendo com músicas incríveis. Foi muito inspirador ter algo para se ansiar durante um momento de incerteza. Acho que tocar bateria e o Quasi foram como uma base para mim, ter material novo para trabalhar, ter algo pelo que esperar. Não acredito que estávamos conscientemente pensando algo como “Ah, estamos fazendo um disco novo”. Penso que estávamos lá e começamos a encontrar essas ideias interessantes, o Sam tinha músicas incríveis e tudo meio que cresceu a partir daí. Foi realmente muito reconfortante ter o Quasi sendo tão prolífico em um momento em que tudo meio que parou (risos).
Sam: Além da questão da fisioterapia, também houve um momento tumultuoso em nossa cidade, Portland. Não era um momento normal de nenhuma maneira. Penso que é natural para um artista ter ideias em momentos de tensão e estresse.
Janet, você pensa que, de maneira intencional ou não, você mudou de alguma forma o seu jeito de tocar bateria depois do acidente? Talvez tenha passado a fazer algo de maneira diferente, por exemplo?
Janet: Eu apenas não conseguia tocar do mesmo jeito, no início. Fisicamente mesmo, tive que mudar a montagem da minha bateria. Tive de montar um kit menor, para poder sentar mais perto. O meu pé de tocar o bumbo não estava da mesma maneira nos primeiros seis meses após o acidente. Eu mudei o que tinha de mudar e definitivamente não conseguia tocar o que queria fazer na minha cabeça. Mas eu tentava apenas continuar tocando, sem me sentir desencorajada. É muito mais fácil quando há música para tocar. Se eu estivesse sozinha na sala de ensaio, provavelmente teria ficado mais desanimada e chateada, porque eu poderia apenas me escutar sem conseguir fazer as coisas que queria fazer. Mas quando falamos de música, a bateria pode ser muito simples, soar bem e ainda servir à música de uma ótima maneira. Então eu acho que é a chave sobre a razão pela qual tocar com o Sam realmente ajudou a me animar, porque não era apenas eu, mas nós, a banda. E eu podia tocar de maneira mais simples, trabalhar nas coisas dentro do contexto de uma música, o que foi reconfortante. Eventualmente recuperei minha chama e pude realmente descer a mão na bateria, que é o que eu adoro fazer (risos). Mas por um período ali, tive de fazer uma rota para conseguir voltar para isso.
Para uma pessoa de fora, como eu, esse disco talvez soe como um álbum da nossa época, como um retrato desse momento de uma certa maneira. Quer dizer, todo trabalho artístico representa seu tempo de uma maneira ou de outra, mas esse disco me parece uma boa representação, quase como uma trilha sonora desses tempos estranhos e sombrios que vivemos recentemente, com a pandemia, o movimento antivacina, o Trump nos EUA, o Bolsonaro no Brasil, entre outras coisas. Vocês concordam com isso? E isso foi algo intencional, de tentar encapsular esse momento dentro de um disco?
Sam: Acho que apenas aconteceu porque era um momento muito tumultuoso, no Brasil assim como nos EUA e no resto do mundo. Então quando você está no meio disso e está criando algo, como isso não acontecerá? Para o Quasi, acho que é inevitável que isso seria incorporado de alguma maneira na música. Não penso que necessariamente todos os artistas ou bandas funcionem dessa maneira, mas nós meio que sempre refletimos na nossa música o que está acontecendo nas nossas vidas em qualquer momento. E era um momento totalmente fora do comum.
Aliás, o disco tem uma pegada meio “ao vivo”. Ele soa muito orgânico, quase como se eu estivesse em uma sala com vocês tocando. Como foi o processo de gravação? E esse sempre foi o objetivo, de atingir algo mais espontâneo em termos de produção?
Sam: É, fico feliz que você tenha achado isso porque essa foi definitivamente a nossa intenção. E o disco foi gravado exatamente como você imaginaria, basicamente eu e a Janet montamos tudo numa sala, colocamos alguns microfones e apenas tocamos. Tentamos não colocar um monte de camadas ou overdubs sobre a música, para manter o som bastante “ao vivo”.
Janet: Penso que, mesmo quando estávamos escrevendo as músicas, nós tínhamos isso em mente. Desde o início, a ideia era essa, como “Ok, nós temos um conjunto de músicas, que poderiam ser trabalhadas para virar um disco”. A ideia era fazer um álbum, principalmente, de teclado e bateria, e também fazer com que as músicas existissem no disco e na sala de ensaios em um lugar parecido, em que apenas nós dois pudéssemos tocar a música inteira juntos, sem precisar fazer muitas edições ou adicionar muita coisa para a música acontecer. Para que quando nós tocássemos ao vivo, as músicas pudessem soar como soam no disco. Nós queríamos que o disco soasse muito real, presente e vital, meio que vivo. Então é legal que você sentiu isso, porque esse definitivamente era o plano (risos). Então talvez ele tenha funcionado (risos). Quando nós tocamos as músicas ao vivo, elas meio que ganham uma vida própria. Mas na maior parte nós estávamos tocando as músicas ao vivo no estúdio. Então não deveria haver grandes diferenças que você escutaria, já que nós as gravamos em uma configuração ao vivo, apenas nós dois juntos.
Vocês sempre tocam e/ou tocaram com outros músicos e bandas. Por isso, queria saber qual a diferença entre tocarem juntos em comparação com outros artistas? Porque parece que vocês têm uma conexão especial, tanto seus instrumentos quanto suas vozes, eles sempre parecem se misturar, soando como algo unificado e de maneira orgânica. Vocês concordam com isso?
Sam: Sim, concordo. Nós sempre tocamos com outras bandas – e acredito que vamos continuar fazendo isso. E essas bandas vão e voltam, mas o Quasi sempre permanece lá. Eu acredito que nós temos uma conexão musical rara, que não é algo que você encontra facilmente. Outras bandas têm outras coisas a oferecer, mas o laço musical que temos no Quasi é algo meio raro.
Janet: Quer dizer, acho que parte disso apenas reflete as nossas crenças, de certa maneira. Nós estamos na mesma página em muitas coisas. O que nos permite saber, quando tocamos, que algo não irá dar errado. É difícil explicar, mas temos uma confiança porque nos conhecemos tão bem como pessoas, nos respeitamos e gostamos da maneira como a outra pessoa toca, de modo que o Quasi seja algo muito especial. De poder estar na mesma página na banda e também na vida. E quando falamos de uma banda de duas pessoas, há muito espaço para se divertir, você pode mudar de direção muito rapidamente. É muito divertido, enquanto uma banda com três ou quatro pessoas é divertida de outras formas, mas talvez não dessa maneira. Como já tocamos juntos há tanto tempo, nossas habilidades de comunicação são realmente afiadas, temos meio que o nosso próprio idioma. Podemos apenas olhar um para o outro e saber, como “Vamos para esse lugar com a música”. Acredito que isso faz com que nossos shows sejam bastante especiais e únicos. E nós certamente damos valor, somos realmente agradecidos por isso no Quasi.
E vocês pensam que sendo uma dupla, além de ser muito mais fácil sair em turnê, vocês têm uma maior liberdade, uma maior abertura para conversarem? Já que se conhecem tão bem e são apenas duas pessoas, vocês não precisam buscar sempre um consenso na banda para ter todo mundo na mesma página.
Sam: Sim, acho que isso está correto. Ser uma dupla é algo desafiador de muitas maneiras. Musicalmente, preencher todo esse espaço e torná-lo interessante é algo sobre o qual você precisa pensar constantemente, mas também é muito recompensador. Algumas coisas são mais fáceis. Por exemplo, é mais fácil chegar em um consenso porque não é possível ser como uma democracia (risos). E nós temos de concordar ou não poderá acontecer. Isso pode tornar as coisas difíceis, porque às vezes quando você está em uma banda, as pessoas votam ou algo do tipo para determinar uma posição em um assunto e pode ser mais fácil. Mas quando você tem duas pessoas, que tem vozes iguais na banda, pode ser difícil. Por outro lado, quando não é difícil, é muito mais fácil.
Janet: Quanto a turnês, na maior parte das vezes é mais barato tocar com duas pessoas. Mas nós dois precisamos trabalhar muito. Nós não temos ajuda para carregar todos os equipamentos… é a parte mais difícil. Quando digo que nós concordamos em determinadas coisas, são coisas que podem fazem a turnê ser mais fácil. Por exemplo, nós dois queremos parar para tomar café ou temos tempo extra e nós queremos ir a um museu – ou queremos ver um pouco da cidade. Tornar tudo mais agradável. Ou não fazer as escalas de direção serem super longas. Tipo, nós concordamos sobre determinadas coisas, como “Ah, queremos sair em turnê com uma van”. Coisas que podem tornar muito difícil estar em uma banda quando você está em uma banda maior e precisa comprometer muita coisa, para fazer as coisas como as outras pessoas querem. Isso pode apenas tornar as coisas monótonas de certa maneira. Enquanto as turnês do Quasi são muito divertidas. Nós não estávamos fazendo muitas turnês há algum tempo. Então tem sido muito divertido poder viajar de novo, tocar em cidades diferentes. E é mais fácil apenas nós dois na minivan, podendo tomar decisões ao longo do caminho. O que para mim torna as turnês algo muito mais divertido, poder fazer algo como “Nós temos uma hora extra, então vamos dirigir para outro lugar.” Isso com certeza tornou as coisas muito boas, e é algo que certamente não é possível quando você tem mais pessoas na banda.
Recentemente vocês fizeram turnês nos EUA e na Europa, certo? Vocês sentiram alguma diferença em fazer tours como uma dupla nos dois lugares? É mais fácil ou mais difícil em algum desses lugares?
Janet: Na Europa, nós tivemos um tour manager e uma pessoa que dirigia – e que também ajudava a vender o merchandising, isso nos ajudou muito. Então de uma maneira foi mais fácil porque nós tínhamos uma terceira pessoa nos ajudando. Mas é sempre mais difícil estar por lá, porque você tem o jetlag e você realmente não sabe como ir para os lugares. Mas achei que foi muito divertido e encontramos algumas maneiras de conseguir sair, ver as cidades, tomar um café. Definitivamente é uma vibe diferente na Europa do que nos EUA, mas eu achei que foi ótimo.
Sam: Acho que sair em turnê agora se tornou algo bastante estranho para mim porque nós já fazemos isso há bastante tempo, mais de 20 anos. De muitas maneiras, é muito parecido ou até mesmo igual, às vezes nós tocamos até nas mesmas casas de shows. Mas, mesmo assim, tudo é diferente e eu me sinto muito diferente. Então é meio que um cabo de guerra constante entre essas similaridades e as diferentes circunstâncias de fazer turnês atualmente. É um sentimento interessante poder estar por aí fazendo algo que é igual e diferente, ao mesmo tempo.
E vocês já foram convidados para tocar na América do Sul ou no Brasil?
Sam: Sim, uma vez tentamos viabilizar algo no Brasil, porque recebemos um convite para tocar em um festival, mas não conseguimos realmente pensar em como “amarrar” isso com outros shows e fazer com que a receita e as despesas se equilibrassem. Basicamente, nós apenas não conseguimos fazer os números funcionarem. Mas com certeza adoraríamos tocar por aí, é só os as contas fecharem.
Eu espero que essa entrevista ajude nisso! (risos)
Sam: Eu também espero!
Janet: Nos levem para tocar aí! Nós queremos ir (risos).
Sam: Não foi uma questão de desejo, mas de números (risos).
O Quasi está completando 30 anos de história em 2023. Por isso, queria saber como vocês veem o legado da banda nesse tempo. Possuem um momento favorito, disco favorito ou show favorito, por exemplo? Algo que vem à cabeça quando vocês pensam nessas três décadas juntos.
Sam: Bom, ainda estamos trabalhando. Penso que, quando você encerrar tudo e puder olhar para trás para pensar sobre o que alcançou você pode começar a fazer esse tipo de escolha. Mas sinto que é possível que o nosso melhor trabalho ainda esteja no futuro. E se eu não me sentisse assim, por que seguiríamos em frente? Acredito que vamos seguir trabalhando. E acredito que o nosso último disco talvez seja o nosso melhor ou um dos nossos melhores trabalhos, facilmente. Não vejo razão para não continuarmos trabalhando em alto nível.
Janet: É difícil escolher um. Acho que para a maioria dos músicos, o disco mais recente é o favorito porque é o que mais parece com você, porque é o que está mais próximo, é o mais recente. Acho que ainda não estou pronta para escolher um momento definitivo do Quasi. Mas provavelmente existe um, eu provavelmente poderia escolher. Para mim, eu apenas sempre penso no Sam subindo no teclado dele. O que ao vivo talvez tenha sido alguns dos momentos mais inesperadamente loucos. Realmente amo ele porque não tenho ideia do que vai acontecer. Mas é, acho que esse sentimento de não saber o que esperar e de surpresa é uma grande razão pela qual eu amo tanto o Quasi. E acredito que continuamos dessa maneira, de forma que quando estamos no palco não temos certeza do que vai acontecer. Penso que esse é um elemento central da banda. Provavelmente qualquer momento que venha a se tornar o “momento quintessencial” do Quasi para mim terá esse elemento.
Sam: É uma pena que ainda não pudemos tocar no Brasil. Porque acho que o nosso melhor é realmente como uma banda ao vivo. Se formos pensar em termos de qual é o nosso legado, acho que os shows seriam isso. Ainda que os discos sejam o que as pessoas vão ter, sejam as coisas que transcendem o espaço e o tempo. De uma certa maneira, acho que é por isso que gosto tanto do último disco, porque é o disco mais próximo do ao vivo que já fizemos. Ele captura um pouco do sentimento que passamos como uma banda no palco. Talvez algum dia as pessoas no Brasil possam ver que o nosso ponto forte são os shows.
Essa é a última pergunta. Gostaria que vocês me falassem três discos que mudaram as suas vidas e por que eles fizeram isso, por favor.
Janet: Deixa eu ver, discos que mudaram a minha vida. Acho que um seria o “Double Nickels on the Dime” (1984), do Minutemen. Apenas todo o som, o clima e a crueza natural e meio que instintiva do álbum. É um disco que realmente me impactou, eu o amava – ainda o amo muito. Foi o jeito deles tocarem que meio que me fez querer fazer isso, a autenticidade do disco realmente falou comigo. Então esse foi um. Sam, você quer falar um e vamos intercalando?
Sam: Sim, estou tentando voltar no tempo para pensar em discos que realmente abriram a minha cabeça quando eu ainda estava aprendendo sobre música. Provavelmente o “The Piper at the Gates of Dawn” (1967), o primeiro disco do Pink Floyd, em retrospecto acabou se tornando um disco importante para mim.
Janet: Acho que diria o “London Calling” (1979), do The Clash. Não sei, são apenas discos que eu gosto. Mas eu apenas queria SER eles (risos)! Eu os amava tanto. É apenas um ótimo disco, sou uma grande fã do Clash. Eu achava que eles eram a banda mais legal de todas. É meio uma coisa de jovem (risos). Mas que meio que te salva quando você é adolescente e se sente tão louca e estranha, não se encaixa. Então você escuta esses discos, olha para essas imagens em uma capa gatefold e isso meio que te salva da sua vida mundana e insegura. E te permite se sentir heroica por meio da música. Então esse é um dos meus favoritos.
Sam: Estou pensando em avançar um pouco no tempo. O “Up in the Sun”, do Meat Puppets, foi outro disco importante para mim. É uma banda que vi ao vivo muitas vezes. Eu os acompanhava desde o primeiro disco e pude ver eles crescerem de uma banda punk louca e barulhenta para algo mais idiossincrático, quase uma banda progressiva. Essa foi uma banda muito inspiradora quando eu estava aprendendo a estar em uma banda e a escrever músicas.
Você tem um terceiro, Janet? Ainda está pensando (risos)?
Janet: Sim, são tantos (risos)! É engraçado, porque quando eu era realmente pequena o rádio era algo que mudava a sua vida. E me lembro de escutar uma rádio chamada KHJ e…
Sam: 93, KHJ!
Janet: Sim (risos). E então eles tocavam coisas como Sly and The Family Stone. E depois eles tocavam Bob Dylan. E depois The Supremes. E Captain & Tennille. Era como uma mistura de todos esses estilos diferentes de música que realmente me fizeram amar música. Foi algo que mudou a minha vida, de verdade. De forma que eles não estavam preocupados em ser um determinado tipo de estação de rádio, eles apenas tocavam essas seleções incrivelmente diferentes uma depois da outra. Para mim, isso mudou o rumo da minha vida mais do que qualquer outra coisa. Foi apenas uma questão de me apaixonar por música dessa maneira. Elton John logo depois do Marvin Gaye. Isso foi tão importante quanto qualquer disco específico.
Sam: Isso também vale para mim. Nós crescemos provavelmente escutando as mesmas estações de rádio na Califórnia, ao mesmo tempo. E elas também foram muito importantes para mim. Quanto a discos, são tantos, tantos e tantos, que é muito difícil. Não é porque não existam três discos que foram importantes, mas porque foram uns 3 mil e selecioná-los é muito difícil (risos). Mas quando pensamos no que nos influenciou enquanto banda, acho que passei por uma fase em que realmente passei a curtir muito jazz experimental. Eu não tenho a habilidade técnica para tocar jazz, mas eu me senti inspirado pela jornada de encontrar a sua voz, no contexto de uma banda. Se expressar de forma individual e coletiva, ao mesmo tempo. E o jazz é muito importante nesse sentido. O rock atinge isso algumas vezes, acredito que o disco de rock que representa isso melhor para mim é o “Live at Leeds” (1970), do The Who. Nesse álbum, cada um dos músicos está fazendo o seu próprio lance, mas eles ainda realmente possuem uma unidade que é realmente poderosa. Então é isso, vamos colocar o “Live at Leeds” como o terceiro disco. Porque ele meio que pega o conceito de tocar jazz e o aplica para o rock.
– Luiz Mazetto é autor dos livros “Nós Somos a Tempestade – Conversas Sobre o Metal Alternativo dos EUA” e “Nós Somos a Tempestade, Vol 2 – Conversas Sobre o Metal Alternativo pelo Mundo”, ambos pela Edições Ideal. Também colabora coma a Vice Brasil, o CVLT Nation e a Loud! A foto que abre o texto é de Luz Gallardo.