texto por Renan Guerra
Kraunus Sang e o Maestro Pletskaia são naturais da Sbørnia. No palco, eles contavam e cantavam suas histórias de amor, desespero e arte. Essa era a base do espetáculo “Tangos e Tragédias”, criado e interpretado por Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky. Engraçado e inteligente, o espetáculo se transformou em um fenômeno cultural no Rio Grande do Sul, ficando por quase 30 anos em cartaz em Porto Alegre – e também viajando pelo Brasil e fazendo sucesso em diferentes palcos. Kraunus e Pletskaia viraram até animação no delicioso filme “Até que a Sbórnia Nos Separe” (2013), de Otto Guerra e Ennio Torresan, retratando uma parceria interrompida com o falecimento de Nicolaiewsky aos 56 anos, em 201, em decorrência de uma leucemia.
Toda essa história de sucesso e amizade é agora recontada em “Tangos e Tragédias para sempre” (2022), de Aloísio Rocha, documentário selecionado pelo In-Edit Festival que surgiu do encantamento do diretor após assistir a inúmeras apresentações do espetáculo no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, quando decidiu filmar uma dessas apresentações da dupla. A filmagem ocorreu na 12ª temporada do espetáculo, em 1997, e é desse material que vem a espinha dorsal do roteiro, mas além de vermos Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky no palco e em contato com o público, também somos apresentados a uma série de relatos de pessoas próximas dos dois artistas, de colegas de trabalho e de ilustres fãs – ouvir os três Paralamas do Sucesso, por exemplo, falando com paixão sobre o espetáculo é emocionante.
Com uma montagem ágil e divertida, “Tangos e Tragédias para sempre” é uma emocionante viagem pela história de Hique e Nico, mas também de um momento único na história do teatro gaúcho. A criação de Hique e Nico têm um impacto fundamental na cultura gaúcha, era uma espécie de tesouro do estado, sempre com sala cheia – e era comum que as pessoas colocassem os ingressos da peça no orçamento de qualquer rota turística por Porto Alegre. Nesse sentido, o documentário de Aloísio Rocha consegue apresentar uma série de entrevistas com nomes importantes da cultura e da comunicação do Rio Grande do Sul, indo de Neto Fagundes a Vitor Ramil, todos mostrando o impacto do espetáculo na cultura local.
Fazer teatro no Brasil não é algo fácil e é muito interessante observar no filme como Hique e Nico conseguiram transformar “Tangos e Tragédias” num espetáculo popular, sem nunca abrir mão da inteligência e da sagacidade, sempre sem subestimar seu público. Nesse sentido, “Tangos e Tragédias para sempre” é um filme emocionante, pois mostra a paixão dos dois artistas pelo palco, pela música e pela arte, mas também apresenta a beleza da amizade entre os dois e todos os outros amigos que eles foram cativando ao passar do tempo.
Muitos dos entrevistados reforçam esse caráter agregador de Hique e Nico e como o espetáculo era um sucesso estrondoso essencialmente porque era feito com amor por dois artistas criativos e inteligentes. Além de todos os relatos, o documentário de Aloísio Rocha é um registro importante da memória do teatro brasileiro. Rever as cenas mais icônicas de “Tangos e Tragédias” na tela é uma forma de manter viva uma história que emocionou e divertiu tantas plateias. Entre risos e lágrimas, “Tangos e Tragédias para sempre” é uma carta de amor àqueles que fazem do teatro sua vida. Assistam e se emocionem.
MAIS SOBRE O IN-EDIT BRASIL NO SCREAM & YELL
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Faz parte do Podcast Vamos Falar Sobre Música e colabora com o Monkeybuzz e a Revista Balaclava.