Faixa a faixa: Conheça “Até que a Morte Nos Separe”, de Felipe Bueno

texto por Bruno Lisboa
introdução por Felipe Bueno

Após lançamento de três singles, em dezembro de 2022 o músico Felipe Bueno lançou o EP “Até que a Morte Nos Separe”, seu primeiro trabalho em formato solo, em parceria com o selo Maxilar, de Gabriel Thomaz. O trabalho reúne quatro composições autorais nas quais o cantautor promove um passeio musical pelo folk, o powerpop, o alt-country e o punk.

Liricamente, o EP segue uma linha pessoal que esboça as agruras do processo de separação conjugal. “Essas letras foram escritas de modo completamente despretensioso, uma de cada vez e refletem momentos pelos que passei durante a elaboração do fim de um casamento de 16 anos com dois filhos”, afirma Felipe. Jairo Fajer (Autoramas), Antonio Valoto, Felipe Sad (Evil Idols, Vida ruim), Babi Age (Cigarras, Wi-fi kills) são algumas das participações especiais presentes no disco.

O faixa a faixa abaixo ajuda a compreender o processo de composição e gravação do disco, quais foram as referências musicais e as inspirações pessoais que nortearam suas composições. Confira!

Faixa-a-faixa por Felipe Bueno

01) “Eu Não Estava Lá” – É uma assunção de culpa pelo fim do meu casamento. É sobre imaginar ter conseguido fazer as coisas de modo diferente e mudar o futuro. Gosto muito da ponte “E como foi seu dia? As crianças na escola? Eu vou na padaria, trago uma Coca-Cola. Vou preencher a planilha, vou arrumar um trabalho. Vou cuidar da família, vou cuidar o caralho”. Às vezes a gente não dá conta das coisas e isso gera muita frustração. Acho que a música tem bastante influência do Paul Westerberg. Gosto do solo de guitarra no meio, totalmente improvisado. Quando o Antonio estava mixando, ele juntou dois takes que fiz do solo, e achei o resultado incrível. Acho que a música tem um ar meio anos 90, com timbres ótimos de guitarra e bateria. Jairo arrepiou no baixo.


02) “Camiseta Town e Country” – Foi escrita depois de uma briga feia com minha ex-companheira e apresenta uma mudança de ponto de vista com relação ao primeiro single. Aqui estou olhando para o casamento como uma coisa que acabou e para a responsabilidade da outra pessoa, para as minhas mágoas e decepções com relação a ela. “Te amo como a camiseta Town e Country e a bermuda tactel que não pretendo mais usar”. Quem foi criança nos anos 80 ou 90, lembra da referência. É uma música de raiva, mirei nos Adolescents, mas acho que acertei no punk’n roll 77 e nos Replicantes. Babi arrasou na bateria e Sad cantou muito. Eu e ele dividimos os solos e ele meteu um sintetizador no refrão que ficou muito massa, além de ter arrebentado na produção.

03) “Outra Perspectiva” – Surgiu quando lembrei de uma conversa via DM que tive com o Flávio Grão – que também fez a arte do single. Ele me contou sua experiência com relação a separação e sobre a necessidade de olhar tudo por outra perspectiva, porque o jeito que a gente se relaciona com as coisas, a cidade e as pessoas fica muito embebido nas memórias com a pessoa com quem você teve um relacionamento. A melodia do teclado da intro veio pronta, foi só o caso de pegar a guitarra e encontrar as notas. Queria que essa música tivesse muitas guitarras (até porque ela é mais lenta que as anteriores), que ela ficasse potente e que a voz sobrevoasse a parede de guitarras. Pra mim, a melodia tem algo do Lulu Santos, mas só eu acho isso. Antonio e eu pegamos umas referências do álbum azul do Weezer pra massa sonora e outras do “Pinkerton”, pra dar uma “bagunçada” na música. Gosto do dedilhado de guitarra na segunda e quarta estrofes e da parte meio Beach Boys no meio. Foi a música que mais deu trabalho pra mixar, porque tem muitos detalhes.

04) “Eu Odeio O Amor” – Veio de ver fotos de casal no Instagram. Eu estava totalmente desesperançoso e as fotos e declarações de amor me enervavam. Ao mesmo tempo, a letra tem uma ambivalência de que gosto muito: tem a citação do Álvaro de Campos / Fernando Pessoa sobre cartas de amor e o refrão sobre o Platão ter concebido o amor como o fez porque ele não “te” conheceu. Aí tem uma ambiguidade proposital também: posso estar me referindo à minha ex-companheira ou a uma mulher que eventualmente eu venha a conhecer. O nome do EP foi tirado de um dos meus versos favoritos dessa música: “Juntos até que a morte nos separe em um cativeiro com gatos e plantas”. Eu acho essa música bonita, e foi meio emocionante e difícil gravar as vozes. Demorei um pouco pra encontrar o melhor jeito de cantar essa. Nessa o Antonio toca todos os instrumentos: os dois violões e o Hammond no refrão, e amei o modo como ele a mixou e masterizou, transformando uma música minimalista em uma música “grande”, que, nas palavras dele, fala ao ouvido das pessoas.

–  Bruno Lisboa  escreve no Scream & Yell desde 2014. 

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