“Tramp”, o terceiro disco de Sharon Van Etten, completa 10 anos, e ela decidiu relançar o disco com uma faixa bônus inédita das gravações e um clipe, também inédito. Abaixo ela conta sobre tudo isso… e um pouco mais.
Texto de Sharon Van Etten
Caro leitor,
Há cerca de um ou dois anos, Naomi Yang (Galaxie 500 / Damon & Naomi) me procurou depois de redescobrir um vídeo que fizemos juntas em 2011, durante a produção de ‘Tramp’, pouco antes do lançamento do álbum. Foi para a música ‘Serpents’. Na época, eu não tinha muita experiência com videoclipes. Estava muito insegura em ser o foco de um vídeo. Talvez não estivesse pronta para enfrentar meus demônios. Sei que parece engraçado: eu poderia escrever sobre eles e interpretá-los, mas enfrentá-los e desnudar minha alma para a câmera parecia uma coisa totalmente diferente e, quando olhei para mim mesma, me senti desconfortável em minha própria pele. Optei por não divulgar o vídeo.
Ao ler o e-mail de Naomi durante a pandemia e assistir a essa versão mais jovem de mim mesma, senti empatia pelas emoções que estava tentando expressar na música e no vídeo. Pude ver o desejo dentro de mim de compartilhar minha alma e me conectar com outras pessoas que sentiam um desejo semelhante e desespero por respostas.
O momento era estranho, aproximando-se do aniversário de ‘Tramp’. Pensando no meu tempo em Nova York enquanto estava na bolha de Los Angeles e em minha casa. Pensando em como eu estava inquieta e agora me acalmei, estou estável. Pensando em como Aaron Dessner se arriscou depois que enviei uma mensagem para ele com demos. Ele podia ver através do assobio e dos vocais ruins nas minhas demos do GarageBand que eu tinha algo a dizer. Ele podia ouvir meu dedo tocando batidas de bateria e sabia que eu tinha um espírito rock dentro de mim. Lembro-me de quando ele me entregou seu Fender Jag e me disse para tocar ‘Serpents’ depois de ouvir a demo original. Ele me deu confiança para gritar minha raiva e me sentir justificada em minha própria dor. Ele me deu mais ferramentas para encontrar catarse em meu trabalho. Carrego isso comigo desde então.
Estando na costa oeste nos últimos dois anos, olho para trás em minha comunidade em Nova York e sou eternamente grata. Tive tantos amigos e colegas que se aproximaram e me ajudaram a desdobrar essas demos no álbum que se tornou. Doug Keith e Ben Lord da minha banda de turnê original, Logan Cole, Peter Silberman (The Antlers), Jessica Larrabee (She Keeps Bees), Thomas Bartlett (Doveman), Rob Moose (yMusic), Jenn Wasner (Wye Oak), Julianna Barwick, Zach Condon (Beirut), Matt Barrick (The Walkmen), Clarice Jensen, Ben Lanz, Bryce Dessner e Bryan Devendorf (The National).
Quase tinha esquecido uma música intitulada “This Is Too Right” que não entrou no álbum. Foi um dos primeiros “riffs” de guitarra que escrevi e Jenn Wasner cantou comigo. Uma música sobre não acreditar o quão boa eu era. Como se o outro sapato estivesse prestes a cair do meu pé. Ainda me sinto sortuda pelas coisas que experimentei e realizei, e me sinto abençoada por comemorar este aniversário com você. Significa muito que todos esses músicos incríveis se reuniram ao meu redor para me ajudar a encontrar minha voz. Ainda tenho muito a descobrir, na minha vida e no meu trabalho, mas ainda sinto o apoio e a comunidade até hoje, embora estejamos todos um pouco dispersos. Espero que todos que ajudaram a fazer esse disco, e que o apoiaram, sintam o amor e a admiração que continuo tendo por todos vocês. Espero que ao compartilhar este álbum novamente, com um novo vídeo e esta faixa esquecida, que novos ouvintes sejam trazidos para este álbum e encontrem significado e relevância nele hoje. Eu podia ter apenas 30 anos quando fiz este álbum, mas era uma criança perdida e vulnerável. Todos os músicos deste álbum me ajudaram a ganhar vida e atuar de maneiras que nunca tive antes.
Que essas canções te encontrem bem. Envio com todo o meu amor.
Sharon Van Etten”