introdução por Diego Albuquerque
Faixa a faixa por Cajón & Carrilhão e Benke Ferraz
Cajón & Carrilhão, dupla de produtores do Recife formada por Claudio N (Chambaril) e Chiquinho Fernandes (Dona Maria Pereira e os Fulanos), começou em 2022, apresentando uma série de remixes de músicas pop nacionais e internacionais no Instagram e no Youtube. São versões remixes que vão do Lulu Santos até Duran Duran, passando por The Fevers e vários outros nomes.
Após lançarem uma série de remixes de hits nacionais e internacionais, nos ritmos da música eletrônica nordestina, a dupla começa 2023 com seu primeiro lançamento autoral. Mantendo o conceito de música digital periférica, o EP “Ijexarme” tem um certo tempero nostálgico, onde a sonoridade de discos de artistas como Luiz Caldas e Prince convivem entre o R&B norte-americano dos anos 80 e o sabor baiano do fricote como se não houvesse diferença.
Mixado por Pi-R (Chambaril, Café Preto), o mini-álbum apresenta cinco faixas, sendo três sons autorais com letra, um instrumental e um remix da faixa instrumental feito por Benke Ferraz, do Boogarins. O EP é o primeiro lançamento do ano do selo virtual HC REC, do Hominis Canidae, e está disponível em todos os streamings.
Além do som, o trabalho do duo é totalmente atrelado ao audiovisual, então há de se esperar vídeos e clipes futuros, mas um deles já saiu no canal do Hominis Canidae no Youtube. Resolvi bater um papo com Claudio N e Chiquinho sobre os sons do trabalho. Também perguntei pro Benke sobre o remixe que ele fez de uma das faixas e você confere tudo aí embaixo:
01) O Pega Bêbo: A inspiração maior desse EP é uma época. A sonoridade dessa música é inspirada nos primórdios da axé music (1985-1989), de artistas como Luiz Caldas, Zé Paulo e Banda Mel. Um dos timbres remete às viradas eletrônicas de surdos sampleados, típicos da transição cronológica entre o fricote e o samba-reggae. Liricamente é inspirada nos bares que ficam abertos até altas horas na cidade do Recife com suas peculiares faunas e floras. Para quem não entende que o “pega bebo” é um lugar, o termo também pode soar como uma referência a uma pessoa ou entidade temida pelos amores mais medrosos.
02) Chocante (Ft. Givly): Essa tem sua sonoridade inspirada na mesma época da canção anterior, só que agora associada a artistas como Walter de Afogados e Cid Guerreiro. A letra é brincalhona e pode também ter apelo infanto-juvenil. Um trio elétrico ligado no pé do seu headphone!
03) O Homem da Boca Podre: Musicalmente inspirada no groove do ijexá, e na timbragem de Celso Bahia e dos artistas do ritmo no brasil popularmente conhecido como charme (R&B americano de meados dos anos 80). A letra faz referência ao infame e mais recente ex-presidente do Brasil.
04) Um toque para Luciana: Essa faixa foi musicalmente inspirada nas maluquetes e tietes do Chiclete. Também inspirada nas lambadas internacionais de artistas como Michel Nerplat. O termo que ficou consolidado anos depois como “axé music”, começou com bateria eletrônica (e foi aí onde percebemos o que o charme e o ijexá tinham em comum, além de fatores étnicos e cronológicos – alguns timbres) e forte influência do merengue e cadence-lypso. Embora internacionais, esses gêneros influenciaram não só o axé como o que mundialmente se convencionou ser chamado de “lambada”. Esses ritmos habitavam o imaginário nordestino nos últimos anos da década de oitenta. O título dessa música é porque uma amiga de Cláudio, Luciana, ganhou uma rifa que ele organizou na pandemia. O prêmio maior da rifa era uma música original dedicada a quem vencesse o prêmio.
05) Um toque para Luciana (Remix): Claudio me convidou para mixar essa track e não sabia do que se tratava o projeto, mas topei sem pensar duas vezes, confiante no caráter doideira do Chambaril – mas ao invés do amontoado de samples, veio um lance bem caribeño com timbres sintéticos que remetem a clássicos obscuros da música psicodélica africana. A ideia do remix veio mais pela colaboração mesmo. Timbragens e texturas que coloquei ali.