entrevista por Marcela Güther
A jornalista, escritora e comunicadora Larissa Campos estreou na literatura com “A casa do posto”, obra que reúne contos ficcionais criados a partir das memórias infantis dos quatros anos que a autora viveu com sua família em um posto de combustível na Rodovia dos Imigrantes, na década de 1990. Publicada pela Penalux (2022, 138 pág.), o livro faz parte do Selo Auroras, projeto dedicado apenas à literatura produzida por mulheres, e tem a orelha assinada por Dani Costa Russo, jornalista e escritora que faz a curadoria e a edição dos livros do selo. A quarta capa é comentada pela pesquisadora e doutora em Estudos Literários Lívia Bertges.
A memória, a infância e a imaginação são os temas principais dessas narrativas que mesclam lembranças pessoais com criação literária, se aproximando do insólito a partir da moradia inusitada, da transitoriedade do fluxo de pessoas presente no universo da beira de estrada, das histórias estranhas ali compartilhadas e do cotidiano de uma família composta também por personagens crianças que crescem nesse cenário repleto de experiências diferentes. A escritora nasceu em Manaus (AM) em 1987, morou no Rio Grande do Sul na primeira infância, mas se considera mato-grossense de coração. Confira a entrevista completa com Larissa Campos:
O que motivou a escrita do livro “A casa do posto”? Como foi o processo de escrita?
Os contos do livro “A casa do posto” partem de um fato biográfico: quando criança, vivi num posto de combustíveis por quatro anos. Morávamos no interior do Rio Grande do Sul, meus avós já viviam em Mato Grosso. Foi então que meu pai recebeu uma proposta de emprego para ser gerente de um posto de combustíveis em Cuiabá (MT). Ele topou e nós viemos junto (eu, minha irmã mais nova e minha mãe). No escritório do posto, localizado na Rodovia dos Imigrantes, havia três cômodos vazios e nós os ocupamos provisoriamente. O lugar que era para ser nosso abrigo por poucos meses, se transformou em morada da família por quatro anos. Eu pensava em escrever sobre esse período desde que a escrita passou a fazer parte da minha vida. No início de 2020, com o falecimento do meu avô (Álvaro de Campos), a vontade se tornou ainda maior. E, então, os contos começaram a nascer.
Se você pudesse resumir os temas centrais do livro, quais seriam?
Memória, infância e imaginação. Os personagens de “A casa do posto” empreendem um mergulho na memória, relembram os tempos em que viveram nesse lar improvisado e as histórias que movimentaram os dias. Havia duas crianças na família que habitava o posto, o que faz com que as histórias tragam elementos e aspectos relacionados à infância. Além disso, uma das características das histórias é que, em várias delas, se exalta o poder da imaginação dos moradores do posto e daqueles que passavam pelo local. Era comum que, a cada acontecimento, as pessoas se reunissem para dar vazão ao imaginário e deixar a mente voar. Por isso, a imaginação costura as narrativas e é enaltecida nelas.
Quais são as suas principais influências literárias e quais livros influenciaram diretamente “A casa do posto”?
As minhas influências literárias estão diretamente relacionadas a autoras que me acompanham desde as leituras da adolescência. Nessa época, nasceu meu interesse pelo gênero conto, o que foi motivado pela leitura de Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles. Já “A casa do posto” foi influenciada pelos livros “A fúria e outros contos” (da escritora argentina Silvina Ocampo), “As coisas que perdemos no fogo” (Mariana Enriquez) e “Casa tomada” (conto de Julio Cortázar).
Como você definiria seu estilo de escrita?
Gosto de pensar que meu estilo está em construção. A escrita, para mim, é caminho de estado e prática. Dentro desse processo, ainda tenho muita abertura e espaço para trabalhar meu estilo.
Você escreve desde quando? Como começou a escrever?
Comecei a escrever na adolescência, como forma de dar conta de vivências e questões que mexiam muito comigo. Com a proximidade do vestibular, o gosto pela escrita fez com que eu me decidisse pelo Jornalismo, que exerço até hoje. No entanto, percebo que praticar a escrita literária faz com que eu precise me distanciar do Jornalismo, para me sentir mais à vontade para criar literariamente. Ao mesmo tempo, o Jornalismo aguça meu olhar, me deixa mais atenta aos detalhes do cotidiano, me faz enxergar aquilo que, na maioria das vezes, passaria despercebido. Essa é uma potência no Jornalismo para mim.
Como é o seu processo de escrita?
Para “A casa do posto”, passei alguns meses a listar palavras, termos, pensar personagens, estruturar histórias, desenhar esquemas e mapas mentais para criar um roteiro do que queria narrar. Feito isso, montei um cronograma para criação dos contos e fui trabalhando de acordo com ele. As primeiras versões dos textos ficaram prontas dentro de sete meses e, então, foram submetidas à leitura crítica antes do processo de reescrita. No caso desse livro, boa parte dos contos nasceu da escrita de um esboço à mão que foi sendo melhorado.
Quais são os seus projetos atuais de escrita? O que vem por aí?
Tenho trabalhado na organização de uma coletânea de contos inéditos. Recentemente comecei a escrever um romance, projeto que batizei de “Ilha das musas” e que também possui inspiração em um fato familiar.
– Marcela Güther é jornalista, produtora de conteúdo, assessora de imprensa e mediadora do Leia Mulheres.
Fico muito honrada e orgulhosa por ter feito parte de sua trajetória. Desde 1999, quando foi minha aluna, na antiga quinta série, eu sabia que havia algo especial naquela garotinha vidrada nas aula de Língua Portuguesa, onde se destacou como uma das melhores alunas da turma.