entrevista por Bruno Lisboa
O Palco Ultra Festival, evento tradicional na capital mineira que chega à sua oitava edição em 2022, decidiu promover uma temporada de shows em Belo Horizonte em meio a Copa do Mundo reunindo desde artistas consagrados a atrações locais, passando por blocos de carnaval e DJs entre os dias 24 de novembro a 18 de dezembro.
Francisco, el Hombre, FBC & Vhoor e Bala Desejo dividirão o palco com Nobat, Carla Sceno e Clara x Sofia além dos blocos carnavalescos Então, Brilha! e Chama o Síndico, entre outras atrações. Nos dias dos jogos do Brasil, desde a fase de grupos até a grande final, o público se reunirá na Autêntica – casa de shows que se tornou referência na capital mineira. A programação completa pode ser conferida aqui.
Na conversa abaixo, o organizador do evento, Barral Lima (que atua também como produtor musical e coordenador no grupo Um Music), fala sobre o processo de organização da 8ª edição do Palco Ultra Festival, conta sobre a parceria com a Autêntica, e ainda analisa o aquecimento do mercado dos shows pós-pandemia. Confira!
O Palco Ultra é uma iniciativa que se consolidou no cenário mineiro. Para essa edição de 2022 como foi o exercício de idealização do festival? Como se deu o processo de curadoria?
O Palco Ultra, desde sua 1ª edição, sempre foi um festival que buscou apresentar novos artistas da cena mineira e brasileira. Nos últimos anos, começamos a criar edições temáticas para aproveitar as oportunidades de mercado, já que estamos falando de novos artistas, e abrir o palco pra maiores públicos. A gente sempre busca momentos e situações que possam abrir espaço e assim construir públicos. Desta vez fomos convidados pela Claro e Ambev, patrocinadores do festival, a entrar no calendário de eventos oficiais da FIFA, e o Palco Ultra, como já vinha apresentando edições temáticas, topou na hora! Veio a calhar, pois futebol e música têm tudo a ver. Não poderíamos perder a oportunidade de apresentar novos artistas neste contexto. Sobre a curadoria, quando pensamos em jogos da Copa do Mundo, em seleção brasileira, a primeira coisa que vem à cabeça é o samba, a música brasileira. Mas a gente quis, além disso, trazer a música pop atual. Então somamos o samba, a música brasileira e o pop nesta nova edição. Temos esta máxima de apresentar artistas autorais, que apresentam suas próprias obras e tentamos sempre misturar artistas maiores e artistas menores para ampliação de públicos.
O festival será sediado na Autêntica, casa de shows icônica que voltou com tudo, se tornando um dos principais espaços culturais da cidade. Em edições anteriores o Palco Ultra já foi realizado em espaços abertos, mas dessa vez irá para um lugar fechado. Nesse sentido qual é o motivo dessa mudança? E como se deu aproximação com a Autêntica?
Sobre o local, pensamos em várias situações. Como é uma Copa do Mundo diferenciada, pela primeira vez acontece no fim do ano, e no Brasil, na região Sudeste, sempre chove nesta época, pensamos imediatamente num local fechado. A Autêntica já era uma tradicional casa da música atual e agora está num lugar maior, mais amplo, além de ser de fácil acesso pro público pela sua localização. O Palco Ultra já tinha sido realizado na Autêntica em outras edições, quando a casa e próprio festival eram menores. Tanto o festival quanto a casa têm o mesmo propósito com a música brasileira e tem tudo a ver.
Desde o recrudescimento da pandemia festivais proliferam por todo país e o mercado dos shows aqueceu de maneira exponencial. Como você vê esse cenário e quais são as projeções para 2023?
Bom, nós que realizamos festivais há mais de 15 anos – o primeiro HipHop.doc foi em 2005 e de lá pra cá foram em média seis festivais por ano – percebemos que estamos vivendo uma bolha. Os cachês dos artistas estão altíssimos e os festivais menores, que tradicionalmente apresentam a nova cena e precisam de headliners para trazer o público, estão sofrendo com isso, pois os artistas estão tratando estes festivais igualitariamente, igual aos festivais de agência e grandes marcas que tem outra pegada e estão ali pelo dinheiro. Eu acredito que deveria haver um olhar diferenciado para estes festivais que há 15, 20 anos apresentam novos artistas, que contribuem para que estes se tornem depois grandes artistas. Para o Se Rasgum por exemplo, que acontece no norte do país, pra onde as passagens são caríssimas, fica complicado. Então eu acho que eles devem olhar diferente para estes festivais. O público mesmo não tem dinheiro pra ir a 10 festivais em um mês e isso tem reduzido os públicos dos festivais. Eu acho que estamos vivendo este momento de alta demanda e que daqui a pouco isso acomoda. Está muito difícil realizar os festivais, nós fazemos através de Lei de Incentivo, com verbas de 2019 enquanto os cachês de lá pra cá foram triplicados. Mas é isso, é uma fase, vai passar e vamos sobreviver!
– Bruno Lisboa escreve no Scream & Yell desde 2014.