texto de Marco Antonio Barbosa
Fotos de Dantas Jr.
Era uma vez uma banda formada em Manchester. Seu ambicioso frontman dizia que o grupo era “o maior de todos os tempos” e que pretendiam ser “a primeira banda de rock a tocar na Lua”. Logo no primeiro LP, mereceram a consagração do público e da crítica. Não foi o suficiente para manter o grupo reunido, que sucumbiu sem realizar todo seu potencial. Os shows da atual turnê de Liam Gallagher têm sido abertos com a melhor música do primeiro disco daquela banda de Manchester. Refiro-me, claro, aos Stone Roses; a canção, claro, é “I Am the Resurrection”, que toca no P.A. do Qualistage Hall, na Barra da Tijuca (Rio de Janeiro). A faixa aquece o público para receber o ex-vocalista do Oasis, que é ovacionado como se ainda estivéssemos no auge do sucesso do grupo inglês.
Nem toda história se repete como farsa. Little, digo, Liam Gallagher ao vivo em 2022 é a experiência mais próxima de um show do Oasis que os fãs contemporâneos podem ter – enquanto não rola o deixa-disso definitivo entre o cantor e o irmão Noel (vocês têm dúvida de que vai rolar algum dia?). O caçulinha exibe razoável forma vocal e parece muito à vontade ao celebrar seu próprio legado. Afinal, ele é o vocalista original daquela batelada de sucessos (mesmo que não os tenha composto) e componente fundamental da personalidade da banda. A franja, as maracas/pandeiro na mão, o caminhar gingado, a parka, tudo ainda está no mesmo lugar. Lembremos que já em 1994, no primeiro hit do Oasis, ele anunciava que “precisava ser ele mesmo e não podia ser ninguém mais”.
Por isso mesmo, Liam não vê problema em rechear o setlist com músicas da antiga banda (10 das 17). Nem de perguntar ao público, mais de uma vez, com seu sotaque inconfundível: “Are there any Oasis’ fans in da fookin’ ‘ouse?” A plateia carioca responde de forma entusiástica. Pergunte ao carinha que estava ao meu lado – enrolado em uma bandeira do Manchester City – e que caiu no choro ao ouvir os primeiros acordes de “Some Might Say”, já na reta final da apresentação.
Para mantermo-nos nas metáforas futebolísticas, Liam não esperou até a prorrogação para matar a partida. Estufou as redes de cara com “Fuckin’ in the Bushes” (ainda em playback, como introdução ao show em si; o povo pulou como se fosse ao vivo), “Morning Glory” e “Rock’n’roll Star”. As incursões ao repertório de seu discos solo foram bem recebidas – muita gente cantando junto músicas como “More Power” e “Wall of Glass”.
Mas obviamente todo mundo estava lá para ouvir Oasis. A banda, vitaminada por três guitarristas, segura a onda e reproduz com fidelidade os arranjos originais. Quando a garganta do cantor parece chegar ao limite, um par de vocalistas de apoio fornece um auxílio luxuoso (embora brilhem mais nas canções solo). Tirando “Roll it Over” (que nunca havia sido apresentada ao vivo) e “Stand by Me”, a batelada de músicas do Oasis foi tirada exclusivamente dos dois primeiros álbuns da banda. Antes do bis, Liam dedica “Wonderwall” a Zico (“O maior jogador de futebol já nascido neste país – na minha opinião”) e passa a régua, depois do intervalo, com “Live Forever” e “Champagne Supernova”.
Liam não é mais o garoto petulante dos anos 1990, mas assim como o repertório composto por seu irmão, ele envelheceu bem. Seu show apela às lembranças de quem viveu o auge do Oasis – cujo primeiro show no Rio de Janeiro foi ali naquele mesmo espaço, então chamado Metropolitan, em 1998. (Eu estava lá. O show de 2022 foi mais animado.) Mas também exibe energia suficiente para superar o previsível clima de parque temático roqueiro. No fim das contas, não pareceu farsa. E, surpreendentemente, também não teve gosto de baile da saudade.
– Marco Antonio Barbosa é jornalista (medium.com/telhado-de-vidro) e músico (http://borealis.art.br). Vídeos de Cristiano Souza (veja outros do mesmo show no canal dele no Youtube)
Uma correção. O primeiro show do Oasis no Rio foi em 1998.
O maior frontman de todos os tempos
eu tenho muitas dúvidas sobre retorno do Oasis
Noel inspirado/influenciado pelo amigo Johnny Marr não vai voltar com a banda, infelizmente para nós
vamos ter que nos contentar com as músicas solos de ambos que não empolgam tanto.