entrevista por Leonardo Tissot
O Interpol volta ao Brasil após três anos para apresentações no Primavera Sound São Paulo, no próximo sábado (05/11), e dois shows com os Arctic Monkeys, um no Rio de Janeiro (Jeunesse Arena, 04/11) e outro em Curitiba (Pedreira Paulo Leminski, 08/11) – a turnê pela América Latina ainda passará pelo Paraguai (10/11, Kilkfest), Chile (12/11, Primavera Sound), Argentina (13/11, Primavera Sound) e Peru (15/11 com Arctic Monkeys).
O trio formado pelo vocalista Paul Banks, pelo guitarrista Daniel Kessler e pelo baterista Sam Fogarino veio ao país pela última vez no Lollapalooza 2019. A banda também já se apresentou no Brasil em 2008, em shows próprios em São Paulo, Rio e Belo Horizonte, e em 2011, no Festival Planeta Terra e no Clash Club, na capital paulista. Em 2013, o vocalista Paul Banks se apresentou em show solo no Cine Joia, em São Paulo.
Com disco novo para mostrar, “The Other Side of Make-Believe” (produzido por Flood e Alan Moulder), os nova-iorquinos prometem mesclar canções do trabalho mais recente com clássicos indie como “PDA”, “Evil” e “Obstacle 1”, entre outros hits dos primeiros discos da banda.
O Scream & Yell conversou com o guitarrista Daniel Kessler, que falou a respeito da expectativa pelo retorno ao Brasil, quais artistas pretende assistir no Primavera São Paulo, sua admiração pelos Arctic Monkeys e os 20 anos de “Turn on the Bright Lights”.]
Vocês estão prestes a vir ao Brasil mais uma vez. Quais suas expectativas para os shows?
Sempre que vamos ao Brasil encontramos um dos melhores públicos do mundo, muito entusiasmo, paixão e hospitalidade, o que é sempre incrível. Obviamente, não é um país para o qual a gente viaje tanto quanto gostaria, dá bastante trabalho levar o show até aí, então quando temos a oportunidade, queremos estar tão presentes quanto possível. Sempre é algo memorável e estou bem ansioso para chegar aí.
Como estão sendo os shows da turnê? Vocês têm focado mais no material novo ou podemos esperar alguns hits também?
Fazemos um mix das duas coisas. Vamos tocar as novas, mas com certeza também tocaremos músicas de “Turn on the Bright Lights”, “Antics”, “Our Love to Admire” e outros discos. Às vezes é difícil montar o setlist e ainda não fizemos isso, mas com certeza traremos esse mix e incluiremos o máximo de músicas que a gente conseguir no tempo que teremos no palco.
Sobre as músicas do novo álbum, “The Other Side of Make-Believe”, achei que elas soam como o Interpol clássico, mas ao mesmo tempo há músicas um pouco mais delicadas e suaves. Você concorda? E você acha que elas funcionam bem ao vivo, considerando que o público, especialmente em festivais, tende a ir mais pra curtir e ouvir músicas mais agitadas?
Não sei, quer dizer, quando você está em uma banda e coloca todos os mesmos ingredientes na panela, sairá algo que você reconhece como o Interpol. Mas acho que esse álbum é uma evolução. Nunca penso nele como um disco mais suave, e sim como um álbum mais maduro, que mostra nossa evolução. Mesmo uma música como “Toni”, que abre o disco: ela começa com piano, mas quando ouvimos as batidas de Sam na bateria, é algo bem dançante e animado, bem rock. E ao vivo fazemos as músicas soarem como rock. Seja em um festival ou em um show só nosso, de dia ou à noite, conseguimos fazer com que tudo funcione.
Quais suas principais lembranças de passagens anteriores pelo Brasil?
Infelizmente, das últimas vezes fomos muito rapidamente, apenas para tocar em festivais em São Paulo. Desta vez, estamos felizes por podermos fazer três shows. Só tocamos no Rio uma vez, o que me parece meio louco, e agora poderemos voltar lá. E também estamos animados em ir para Curitiba. Como falei, das últimas vezes nem pudemos passear muito por São Paulo, então as lembranças são mais voltadas aos shows e às pessoas curtindo, demonstrando sua paixão e cantando “Interpol, Interpol”, o que tornou tudo memorável para nós.
Em relação ao Primavera Sound: o que acha do festival e de dividir as atenções com outros grandes artistas, como os Arctic Monkeys e as outras bandas?
O Primavera Sound já se estabeleceu como um dos grandes festivais, desde a criação do original, em Barcelona. É um daqueles festivais pelos quais as bandas e o público esperam com a mesma ansiedade. É um dos raros festivais que pode vender todos os ingressos apenas anunciando que ele vai acontecer, antes mesmo de mencionar quais bandas vão tocar, porque é uma experiência incrível. Eles sempre fazem uma ótima curadoria, com bastante diversidade, e sempre tivemos ótimas experiências lá, tanto no Primavera de Barcelona quanto no Primavera Porto (nota: o Interpol tocou na edição portuguesa de 2022). Estou animado de ver que eles estão expandindo e chegando a cidades e países diferentes, e me sinto honrado de poder tocar na primeira edição de São Paulo.
Além de tocar no festival, há artistas que você deseja ver? Talvez alguma banda brasileira?
Já faz um tempo que olhei a lista, então preciso checar de novo. Sei que o John Talabot, que é um ótimo DJ, vai tocar. O Seth Troxler, outro ótimo DJ, também vai se apresentar no mesmo dia que a gente. Espero poder vê-los.
Como você mesmo mencionou, a banda também vai tocar no Rio e em Curitiba com os Arctic Monkeys. Vocês têm alguma preferência em relação a festivais e shows próprios?
Do ponto de vista pessoal, gosto de ambos. Os festivais fazem uma boa mistura de artistas, mas tocar um show nosso também é bacana porque todo mundo que foi lá realmente quer te ver, o que torna tudo mais especial. Mas os festivais são legais porque é imprevisível o que vai acontecer. Há uma mistura dos nossos fãs com os fãs de outras bandas. E eu gosto disso, subir no palco e tocar sem fazer passagem de som. É uma experiência mais viva, algo que simplesmente acontece na hora. É algo visceral, que eu adoro.
Já chegou a ouvir o novo disco dos Arctic Monkeys, que saiu na semana passada?
Ainda não ouvi o disco, apenas um ou dois singles. Achei que eles soam muito bem. Gosto muito do disco anterior deles, ele [Alex Turner] escreve ótimas letras e eles são uma grande banda, com muitas músicas incríveis. Gosto de ver como eles evoluem de um jeito particular, eles fazem o que estão a fim de fazer, o que sempre soa autêntico. Ele é um ótimo contador de histórias, você sempre quer saber mais sobre as histórias que ele canta.
O disco novo está bem legal, dê uma ouvida quando puder. Também queria te perguntar sobre o documentário que está para sair, baseado no livro “Meet Me in the Bathroom”, de Lizzy Goodman, que conta a história da cena roqueira de Nova York no começo dos anos 2000. Vocês estão no filme? Já conseguiu assistir?
Ainda não, mas sei que estamos no filme. Demos entrevistas para eles. Somos uma das bandas que aparecem no filme, mas ainda não assisti e também não li o livro. Então não sei muito a respeito.
O primeiro disco do Interpol, “Turn on the Bright Lights”, completou 20 anos. Vocês relançaram o “The Black EP”, que estava esgotado, nas plataformas de streaming. Também disponibilizaram uma versão remasterizada de um documentário sobre a banda no YouTube. Há mais planos para comemorar essa marca ou material extra que pode ser lançado no futuro?
No momento, não. Não temos planos relacionados a isso. Mas é incrível que já tenham se passado 20 anos, é muito louco. Se não me engano, o disco saiu no dia 20 de agosto de 2002, e lembro de aguardar ansiosamente pela data do lançamento. Parece que foi ontem, é muito louco ver que já se passaram 20 anos. E me sinto honrado que as pessoas amem tanto esse álbum, e ainda relembrem seu aniversário. É algo lindo de se ver e me sinto muito feliz, mas não há mais planos em relação a ele no momento.
Alguma mensagem final para os fãs que estão te aguardando no Brasil?
Como falei, adoraria poder ir ao Brasil mais frequentemente, mas é algo complicado pela distância e tal. Então, sempre que estamos aí queremos aproveitar cada pequeno momento. Mal posso esperar para retornar e estou animado pelos três shows que vamos fazer — e por serem tipos diferentes de shows. Então, mal posso esperar para ver todo mundo.
– Leonardo Tissot (www.leonardotissot.com) é jornalista e produtor de conteúdo
Boa e oportuna entrevista, parabéns!