Entrevista: Marcelo Tofani analisa o efeito Rosa Neon e fala sobre sua carreira solo

entrevista por Bruno Lisboa

Marcelo Tofani é um dos bons exemplos do que a efervescente cena das Minas Gerais tem a oferecer. Seu nome está associado ao Rosa Neon, grupo formado em 2018 por ele, Luiz Gabriel Lopes, Mariana Cavanellas, Marina Sena e o produtor BAKA, e que fez barulho no cenário nacional graças ao sucesso instantâneo de singles como “Ombrim”, “Fala Lá pra Ela”, “Pirraça” e “Vai Devagar” (com Djonga).

Com o encerramento das atividades da banda em 2021, Marcelo vem dirigindo suas atenções para sua carreira solo. Seu single mais recente é “Certificar”, canção em que flerta com sonoridades setentistas com ares pop contemporâneos. A faixa é uma prévia do primeiro álbum a ser lançado em novembro desse ano pelo selo AQuadrilha, encabeçado pelo rapper mineiro Djonga.

Na conversa abaixo, Tofani fala sobre o início da sua relação com o universo da música, as diferenças de se trabalhar nos formatos solo e em grupo, o sucesso espontâneo de seu ex-grupo, a aproximação e afinidade com o rapper Djonga, suas referências musicais, planos futuros e muito mais. Confira!

Desde os tempos de Rosa Neon, o flerte e a identificação com a linguagem pop têm norteado o seu fazer musical. Nesse sentido, como se deu a sua relação com esse universo e em que momento ele se tornou evidente ao ponto de que decidisse seguir nesse meio?
Desde que comecei a me interessar por música e depois comecei a criar a minha, sempre consumi e criei música pop em diversos ritmos e sem saber, de uma forma totalmente inconsciente do que era o pop, mas aquele tipo de estética e melodia me interessava muito. Falar de coisas complexas de forma simples, sabe? Me tocava muito, sempre me tocou e em algum momento por conta da vida e conjuntura das coisas, comecei minha carreira dentro de um lugar que não era pop e nesse lugar eu me sentia um estranho no ninho, porque senti que minhas músicas pareciam bobas, que não eram rebuscadas o suficiente e um pouco antes do Rosa Neon, tive o clique do que eu gostava mesmo de fazer e me reconhecer enquanto um compositor e um cantor pop, o que quer que seja o pop.

Ainda falando sobre seu projeto anterior, o Rosa Neon foi um supergrupo que uniu um grande time de músicos e compositores, mas encerrou as atividades em 2021. Desde então você tem dedicado suas atenções para a carreira em formato solo. Quais foram as diferenças essenciais que você tem em comparação aos dois formatos?
Acho que carreira solo nunca é um trabalho solo e isso é o mais legal, poder seguir colaborando com outros artistas, compositores, produtores e a equipe sempre junto colaborando também. E eu não comecei necessariamente com a banda, e sim com a carreira solo, eu tive um tempinho ali de carreira solo antes de ter o Rosa Neon e senti assim um gostinho do que eu sinto hoje. Eu era muito jovem, estava totalmente na loucura, totalmente “Outsider”, e aprendi muito com o Rosa, foi uma experiência muito nova pra mim e muita coisa aconteceu em pouco tempo, né? O aprendizado foi gigantesco, eu vivi muitos anos em só dois anos, saca? e eu gosto muito de estar solo agora criativamente, mostrando pras pessoas mais do meu universo. E eu acho que a carreira solo tem muito disso, até quando você não está falando necessariamente sobre você, tem uma carga muito pessoal, que não tem necessariamente em grupo, isso dilui bastante na forma como a galera absorve. Então eu gosto de poder estar criando livremente, apontando pro caminho que eu quero enquanto indivíduo e claro, sempre colaborando porque esse é meu maior tesão na música.

Recentemente assisti a uma apresentação da Marina Sena, sua colega de Rosa Neon, e foi impressionante perceber como “Ombrim” segue viva no coração das pessoas. Qual é o principal legado do grupo na sua percepção?
Acho que para o público, sem sombra de dúvidas, o maior legado que deixamos são as obras, as músicas, o álbum porque quem conheceu a “labareda” que era o Rosa Neon sempre que quiser vai poder voltar e revisitar quando sentir saudade. É eterno, né? As músicas vão estar aí pra sempre, sempre chega gente nova, sempre pessoas novas conhecendo e se identificando com o som. E tem um segundo legado que eu acho tão importante quanto o da estética: talvez seja pretensioso da minha parte, mas nós fazíamos clipes com pouquíssima grana parecerem produções grandes, saca? E a gente tinha uma espécie de “delírios de Anitta” pra uma banda indie naquela época e no momento não era uma coisa tão comum. Eu sinto que hoje em dia os artistas indie tem muito mais constância, consistência e cuidado com os clipes, o visual no geral assim. E eu acho que o Rosa Neon trouxe muito isso, né? O Rosa foi uma banda que estava no cenário independente, mas o nosso visual parecia ser de artistas grandes.

“Certificar”, seu mais recente single, é uma prévia do novo disco que está por vir nesse segundo semestre e foi lançado com a chancela do selo AQuadrilha, capitaneado pelo rapper Djonga. Como se deu a aproximação entre vocês e qual a importância de ter o seu nome vinculado ao selo?
Minha amizade com Djonga começou lá em 2015, bem antes do Rosa Neon, eu tinha acabado de lançar um EP solo que hoje em dia nem está mais no ar e o Djonga tinha acabado de lançar um EP solo também que hoje não está disponível. Mas nessa época, como BH não estava acontecendo tanta coisa quanto está acontecendo hoje, a gente se conheceu com um escutando o som do outro e depois um amigo em comum nos apresentou e resolvemos fazer um show juntos. Fizemos o show numa casa que chama “Matriz” em BH e eu lembro até hoje; deu cinquenta pessoas nesse show, cada um ganhou R$70 e foi feliz pra casa. Nesse show a gente tocava as músicas do meu EP, eu e a banda que me acompanhava e aí, continuávamos no palco, o Djonga entrava, a gente tocava e ele cantava as músicas do EP dele. Eu acho que eu estar n’A Quadrilha hoje e eu assinar com o selo, é um sintoma dessa amizade, dessa parceria que temos de muito tempo, ele foi um cara fundamental no processo do Rosa Neon e no processo da minha carreira no geral e era natural que nós permanecemos juntos e o que eu acho mais legal disso tudo é o fato deu ser um dos poucos artistas d’A Quadrilha que não é rapper e mostra muito essa minha realidade de querer colaborar com artistas de outras vivências e ritmos e não querer e nem conseguir encaixotar a minha música dentro de um só ritmo, né? Pra mim o pop é um gênero que absorve ritmos, como uma esponja.

O single e o clipe de “Certificar” são carregados de referências musicais que vão desde os Bee Gees ao Jamiroquai. Num exercício de mapear a sua mente enquanto compositor, quais são os artistas, de ontem e de hoje, que fazem a sua cabeça?
Sempre que chega nessa pergunta em qualquer entrevista é a parte que eu travo, pra mim é quase impossível responder porque eu sou aquele cara que está aberto a ouvir qualquer tipo de som e que ouve artistas de gêneros totalmente diversos, acho que isso é muito um sintoma da minha geração né? A geração que ouve divas pop e ao mesmo tempo gosta de rap e quando toca uma pisadinha pira também. Isso é muito a nossa geração, né? Mas eu posso falar o que eu tenho ouvido; ultimamente escuto muito Bee Gees (obviamente, como disse na música), tenho ouvido muito Michael Jackson, Bad Bunny, reggaeton, João Gomes, Steve Lace. Tenho ouvido muita coisa, todos os dias eu procuro músicas novas de todo gênero e ritmos. Minha parada é música. Eu gosto de música.

O novo álbum será lançado em novembro. Até lá será lançado mais algum single? Quais são os planos futuros?
Vou lançar outro single antes do álbum (e toma spoiler!) e essa música é totalmente diferente do primeiro single e entre si teoricamente todas as músicas do álbum são diferentes umas das outras e esse é o conceito do álbum. Nos últimos tempos eu estava me sentindo meio perdido porque existe um padrão que a indústria coloca em cima do artista que é: se você fizer coisas muito diferentes umas das outras você não acerta ninguém, você não vai ter público-alvo, tipo aquele papo meio de publicitário, e eu liguei o foda-se pra isso e estou a fim de fazer o que me vem na cabeça, o que me vem no coração, colaborar com artistas de gêneros diferentes e é essa minha versatilidade! Por que não? Eu sou um cara que passeia entre muitos lugares musicais, que cria pontes entre artistas que às vezes não teriam nada a ver uns com os outros, repetindo pra reforçar isso é uma coisa que dá muita alegria pra mim na música, me dá muita alegria enquanto um cantor pop poder circular entre vários ritmos e colaborar com artistas de vários ritmos.

–  Bruno Lisboa  escreve no Scream & Yell desde 2014.  

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