texto por Bruno Lisboa
fotos de Alexandre Biciati
Com 30 anos de estrada e uma longa trajetória marcada por uma discografia equilibrada que, junto a Skank e Jota Quest, colocou a cena mineira de volta nas paradas de sucesso e na mídia a partir dos anos 90, o Pato Fu está de volta à estrada com Xande Tamietti (baterista do grupo de 1995 até 2014) nas baquetas e o auxílio luxuoso da Orquestra Ouro Preto para celebrar três décadas de bons serviços prestados à boa música.
Fundada em 2000, a orquestra é composta por 20 jovens músicos e tem a nobre missão de levar a música erudita às camadas populares da sociedade. Primando pela versatilidade, o grupo conduz projetos ousados como prestar homenagem a ícones diversos da música indo do Nirvana a Vander Lee, passando pelo universo do cinema com o espetáculo “O Garoto”, de Charles Chaplin, entre outros.
A turnê intitulada “Rotorquestra de Liquidificafu”, nome este que faz alusão ao primeiro disco da banda lançado de forma independente em 1993, foi iniciada em julho com uma apresentação no Instituto Inhotim, passou por Nova Lima (município centenário localizado a 18 km de BH) e irá percorrer outras cidades do interior de Minas (em shows gratuitos) como Caeté (13/08), Sabará (10/09), Santa Bárbara (17/09) chegando a capital mineira em 14/10.
O setlist da “Rotorquestra de Liquidificafu” é composto por 16 faixas num passeio pela discografia do grupo priorizando hits (“Depois”, “Made in Japan”, “Ando Meio Desligado” “Sobre o Tempo”, “Eu”), mas também resgatando pérolas do vasto baú de grandes canções do grupo.
Contando com arranjos de Paulo Malheiros e regência de Rodrigo Toffolo, a presença da orquestra fez com que canções como “A Hora da Estrela”, “Antes Que Seja Tarde”, “Simplicidade” e “Canção Pra Você Viver Mais” ganhassem ainda mais beleza, valorizando s arranjos originais. A última, aliás, gerou um dos momentos mais emocionantes da noite. A canção é uma homenagem ao finado pai de Fernanda Takai e a cantora foi às lágrimas após a execução ao rememorar o período de dois anos em que a família residiu na cidade novalimense.
Outro destaque da apresentação foi Richard Neves. Responsável por instrumentos como o teclado e a sanfona, a performance do músico (que faz parte do Pato Fu desde 2016) acrescentou novas texturas sonoras a diversas faixas como o hit “Eu” (versão da música da Graforreia Xilarmônica presente no disco “Ruído Rosa”, um dos favoritos da banda) que na apresentação ganhou um arranjo mais lento com ares de tango argentino, semelhante a versão presente no disco “MTV ao Vivo” (2002).
Na ala das surpresas, as presenças de faixas como “Rotomusic de Liquidificapum” (que abriu o set), “Spoc” (presente na lendária “Pato Fu Demo”, fita cassete gravada em 1992 no quarto de ensaio da casa dos pais de John Ulhoa, que a banda enviava para gravadoras e redações acompanhada de “um pedaço de queijo Minas bem chulezento”, depois regravada para o disco “Gol de Quem?”, de 1995) e as raramente tocadas ao vivo “Ninguém” (outra do “Ruído Rosa”) e “Eu Sou o Umbigo do Mundo” (também da “Pato Fu Demo” e do disco de estreia) agradaram aos fãs mais exigentes.
Esbanjando carisma, John Ulhoa, Takai e Ricardo Koctus não deixaram de se comunicar com o público presente falando sobre as maravilhas de se ter uma orquestra como banda de apoio, o fato de parte do público presente ser composto por amigos de outrora e ainda prestar homenagem ao aniversariante do dia, o multiartista Marcelo Veronez, que assistiu de perto a apresentação.
No bis, o hit “Perdendo os Dentes” (do álbum “Isopor”, 1999), que já havia sido tocada na noite, marcou presença novamente e colocou ponto final para uma apresentação marcante de um dos grupos mais criativos de sua geração que sabe, como poucos, provar que ainda tem cartas na manga para impressionar o público. Agora é esperar que outras capitais tenham a sorte de poder sentir o gostinho da “Rotorquestra de Liquidificafu”.
– Bruno Lisboa escreve no Scream & Yell desde 2014. Alexandre Biciati é fotógrafo: www.alexandrebiciati.com