texto por Bruno Lisboa
fotos de @Caricatte
Com 20 anos de estrada, a serem completados em 2022, a Vanguart construiu, até aqui, uma das carreiras mais bem sucedidas do cenário independente nacional deste século – algo que, convenhamos, é um mérito e tanto. A trajetória foi iniciada em 2002, através do EP “Ready to…” e seguida por outros dois extended plays, “The Noon Moon” (2003) e “Before Vallegrand” (2005). Mas foi o álbum de estreia, autointitulado, que saiu encartado na revista OutraCoisa, de Lobão, em 2007, o responsável por apresentar o grupo cuiabano a um público maior – curiosamente, os quatro lançamentos seguem, até hoje, ausentes dos streamings oficiais.
De lá para cá a banda mudou a sua formação, mas, de forma gradual, foi criando identidade própria, mesclando de forma equilibrada doses de romantismo e melodias folk agridoces. Disco a disco, a Vanguart foi azeitando sua sonoridade atingindo o ápice de sua fórmula com “Muito Mais Que o Amor” (2013). Os dois álbuns mais recentes, “Beijo Estranho” (2017) e “Intervenção Lunar” (2021), mantiveram o status de grandeza do agora trio.
Com o reaquecimento do mercado dos shows devido a certa estabilização no cenário pandêmico, após dois longos anos fora dos palcos, a banda voltou a ativa e tem realizado, de forma gradual, apresentações pelo eixo Sudeste do país alternando entre o formato elétrico (normalmente acompanhados de guitarra, bateria e teclado) e um acústico centrado no trio. Nesse sentido, o show ocorrido em Belo Horizonte, no Underground Black Pub, foi uma forma de celebrar o legado construído em duas décadas de bons serviços prestados.
A capital mineira recebeu a versão acústica do Vanguart na sexta 22 de abril e, numa apresentação intimista e dominada pela emoção de estar de volta aos palcos, o trio central formado por Hélio Flanders (voz, violão, trompete), Reginaldo Lincoln (voz, baixo, violão) e Fernanda Kostchak (voz, violino) transbordou carisma ao longo de uma hora e vinte de show. O público presente, por volta de 400 pessoas, cantou de forma comovente e em uníssono o que abrilhantou ainda mais o retorno do grupo à BH.
O trio abriu a noite com os dois grandes hits do álbum “Muito Mais Que o Amor” – “Demorou Pra Ser” e “Estive” – e, acertadamente, mesclou no set list faixas do disco mais recente (“Sente”, “Lá Está”, “Vamos Viver”, “Intervenção lunar”) com canções amadas pelos fãs como “Se Tiver Que Ser na Bala, Vai” e “Nessa Cidade” (ambas do segundo disco, “Boa Parte de Mim Vai Embora”, de 2011) e seus principais sucessos, alinhados no trecho final da apresentação: “Mi Vida Eres Tu”, “Meu Sol”, “Para Abrir os Olhos” e o hino “Semáforo”, que encerrou a noite.
Em tempos sombrios nos quais os discursos de ódio têm ganhado força através de uma corja barulhenta, falar sobre amor, de forma indistinta, é um ato revolucionário. Dessa feita é louvável pensar que a apresentação do Vanguart em BH, mesmo que não tenha mencionado em momento algum o desgoverno atual, ganhe ares de militância e importância para que dias melhores se avizinhem. E que assim o seja. Porque enquanto tivermos saúde, enquanto estivermos de pé, enquanto a gente se amar… estaremos aqui.
– Bruno Lisboa escreve no Scream & Yell desde 2014. Fotos cedidas pelo Underground Black Pub
Ótima banda, que bacana estarem na ativa com ótimos álbuns. Mas o melhor disco deles ainda é o Vanguart lançado na revista do Lobão.